O treinador Nuno Manta Santos assumiu este domingo que uma eventual retoma da I Liga de futebol no final de maio, suspensa devido à pandemia de covid-19, representará um contexto inédito para a estrutura do Desportivo das Aves.

“Os jogadores chegaram com alegria na cara por voltarem a poder treinar no relvado e sentir o cheiro da relva e tocar na bola. Ao mesmo tempo, nota-se que estão preocupados com o regresso do campeonato, o futuro, a pandemia e a doença que afeta a nossa sociedade. Se estarão preparados para a competição? Não sei, só o jogo o dirá”, afirmou o técnico, em declarações publicadas no sítio oficial dos nortenhos na Internet.

Os avenses aproveitaram a entrada do país em situação de calamidade em 3 de maio, após três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março, para voltar aos relvados de forma individualizada no dia seguinte, volvido mês e meio da suspensão do campeonato, que deve ser reatado à porta fechada a partir de 30 e 31 de maio.

“Se houver retoma e as equipas obtiverem resultados poderemos dizer se [a paragem] foi boa ou não, porque é uma situação nova. Para nós não foi boa, no sentido em que foi um período de férias mais extenso, em que estivemos muito limitados. O foco está agora num reinício para 10 jogos de I Liga. Todos estamos conscientes dessa responsabilidade, mantendo as regras definidas para que todos sintam a saúde em segurança”, frisou.

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Nuno Manta Santos optou por repartir os 24 jogadores por diferentes horários e espaços dos relvados do estádio do CD Aves e do complexo desportivo, onde também treinam 10 futebolistas da equipa sub-23, sob orientação do técnico Leandro Pires, depois de terem assistido à conclusão antecipada da Liga Revelação em 08 de abril.

“Estamos a cumprir as regras, mas sentimos que é um desafio muito grande para jogadores e treinadores, perante as limitações que nos são impostas em termos de espaços e regras. No nosso caso, trabalhamos apenas com três atletas por hora, o que prolonga os treinos durante oito horas”, enquadrou.

O ciclo de trabalho evoluirá para treinos coletivos e testes de despistagem ao novo coronavírus na segunda metade de maio, numa altura em que os avenses podem perder dois a cinco pontos pelo atraso salarial verificado entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020, face aos 13 somados em 24 jornadas, nove abaixo da zona de salvação.

“Acima de tudo, os jogadores regressaram para mostrar que são grandes profissionais de futebol e estão motivados e empenhados em dar o melhor, como até aqui. Duas semanas para preparar um desporto coletivo, que parou cerca de mês e meio, não será o ideal. Mas é o que temos, daí eu dizer que é um desafio para todos”, concluiu.

A realização dos 90 jogos da I Liga, que é liderada pelo FC Porto, com um ponto de vantagem sobre o campeão Benfica, e da final da Taça de Portugal, entre ‘dragões’ e ‘águias’, ainda está sujeita à aprovação por parte da Direção-Geral da Saúde de um plano sanitário.

Há duas semanas, o Desportivo das Aves pediu esclarecimentos à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e à Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) sobre o regresso do principal escalão em plena pandemia, numa carta assinada pelo administrador chinês Wei Zhao, em que levanta dúvidas sobre os contratos e a segurança dos atletas.

Os avenses têm atravessado uma série de contrariedades desportivas, diretivas e financeiras desde agosto e falharam há um mês a regularização salarial de jogadores e funcionários até fevereiro, num conjunto de dívidas justificadas pela sociedade anónima com a paralisação da atividade económica na China, motivada pelo novo coronavírus.

O processo seguiu da LPFP para o Conselho de Disciplina da FPF em 03 de abril e resultou nas desvinculações unilaterais do guarda-redes francês Quentin Beunardeau e do avançado brasileiro Welinton Júnior nos dias posteriores, quando a SAD tinha começado a liquidar verbas de janeiro e fevereiro aos plantéis principal e sub-23.

Em entrevista à agência Lusa, o ex-titular da baliza nortenha afirmou na quarta-feira que ainda não tinha sido ressarcido pelo Desportivo das Aves dos três meses de salários em atraso, apesar de a Comissão Arbitral Paritária da LPFP ter dado razão a Quentin Beunardeau em 29 de abril na rescisão apresentada três semanas antes.

Os campeonatos de futebol de França e Países Baixos já foram cancelados devido à pandemia de covid-19, enquanto países como Alemanha, Inglaterra, Itália, Espanha e Portugal vão preparando o regresso gradual à competição.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 279 mil mortos e infetou mais de quatro milhões de pessoas em 195 países e territórios. Mais de 1,3 milhões de doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 1.135 pessoas das 27.581 confirmadas como infetadas, e há 2.549 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.