Convictos de que a infeção por Covid-19 lhes pode garantir a liberdade mais cedo do que o previsto, vários reclusos do North County Correctional Facility, em Los Angeles, começaram a partilhar copos de água e máscaras de proteção individual. O objetivo, revelado pelas imagens das câmaras de vigilância instaladas no estabelecimento prisional, era disseminar a infeção por Covid-19 entre o maior número de detidos, obrigando as autoridades a “encurtar-lhes as penas” e a conceder-lhes a tão desejada liberdade condicional, segundo revela o jornal El País.

O “esquema”, a ganhar cada vez mais força nas prisões norte-americanas, está a tornar-se “preocupante”, sobretudo no estado da Califórnia, revelou o xerife Alex Villanueva, durante uma conferência de imprensa da Polícia de Castaic (localidade a 67 quilómetros de Los Angeles), enquanto exibia as imagens do interior da prisão. Num dos vídeos, filmado a 26 de abril, às 20h07, é possível identificar um preso, na sala 518, a encher um copo de água e depois, propositadamente, a partilhá-lo com os outros reclusos que ali se encontravam. Segundo Villanueva, o grupo de prisioneiros “deliberadamente” forçou a infeção por Covid-19.

Uma semana após a data do vídeo, 21 reclusos testaram positivo para o novo coronavírus, o que significa 40% dos detidos naquele bloco prisional da North County Correctional Facility.

Segundo partilhou ainda Villanueva, o copo de água que passava de mão em mão entre os detidos estava quente. “O distribuidor de água que lá está permite-lhes fazer café e preparar massa”, frisou o xerife. Ninguém imaginava que servisse para, em primeiro lugar, passar a infeção da Covid-19, através da partilha de copos, assim como aumentar a temperatura corporal e enganar o termómetro da enfermaria – uma vez que a medição da febre é, atualmente, uma prática obrigatória dos serviços médicos entre a população prisional.

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As autoridades de Los Angeles só desmontaram o plano este mês de maio, quando tentavam perceber as razões por trás do aumento exponencial do vírus entre a população prisional da cadeia de Pitchess, no condado do norte, e foram estudar as imagens de videovigilância — que se vieram a revelar em tudo semelhantes às divulgadas na conferência de imprensa.

“É triste pensar que alguém se possa se expor deliberadamente à Covid-19″, acrescentou Villanueva, na conferência de imprensa.”Isto vai continuar a ser um problema porque os que estão aqui presos acreditam que é assim que nos vão forçar a libertá-los. Mas isso não vai acontecer”. E os números assim o dizem: desde o início da pandemia, contam-se 222 casos positivos dentro da prisão North County Correctional Facility, dos quais 117 recuperaram nas instalações clínicas do estabelecimento, e apenas 18 foram libertados.

Até ao momento nenhum dos reclusos admitiu estar a tentar contrair o novo coronavírus. Este novo comportamento dos presos parece estar na base de um aumento, a rondar os 60%, do número de infetados em estabelecimentos prisionais em todo o condado de Los Angeles.

Villanueva revelou ainda que a área de Los Angeles tem uma das mais elevadas taxas de população reclusa nos Estados Unidos — mais de 17 mil presos — e por isso mesmo, logo no início da pandemia foram tomadas medidas para conter o vírus,como a “libertação a título provisório” (à semelhança do que foi concretizado pelo Ministério da Justiça em Portugal). Em abril, apenas 1700 presos foram libertados para permitir a aplicação das medidas de distanciamento social. Esta semana, com os casos de Covid-19 a multiplicarem-se, foram libertadas mais cinco mil pessoas, tendo os serviços prisionais dado prioridade aos presos preventivamente ou condenados por crimes não violentos.