Abriu em dezembro de 2010 em pleno quarteirão das artes portuense. “Fomos a segunda galeria dedicada à ilustração a surgir em Portugal”, conta Ema Ribeiro, a fundadora da Ó! Galeria, ao Observador. Tudo começou no Centro Comercial Bombarda, mas o sucesso levou a loja a mudar-se para um espaço próprio na rua, ali bem perto e, mais tarde, a fazer uma experiência pop-up em Braga, na GNRation.

O projeto dedicado à ilustração sobreviveu à crise económica de 2009, viu o Porto a modernizar-se e encontrou nos turistas a sua melhor clientela, principalmente os que vinham da Europa e dos Estados Unidos da América. Em 2015, a Ó! Galeria cumpriu uma sonho antigo, abriu portas em Lisboa e num espaço maior manteve o conceito e a criatividade.

A Covid-19 trouxe uma avalanche de incertezas e receios para 2020, além do encerramento dos espaços comerciais e das fronteiras. “Não aguentámos os custos e tivemos que fechar o espaço em Lisboa ao fim de cinco anos para tentar manter a loja no Porto”, explica Ema Ribeiro, admitindo que não foi uma decisão fácil ou pacífica, mas foi aquela que tinha que ser.

Ema Ribeiro é fundadora e responsável pela Ó! Galeria

Ainda assim, a Ó! Galeria, no Porto, a sua casa mãe, continua em risco e tudo parece depender da boa vontade do público e dos artistas colaboradores. “Conseguimos negociar com o senhorio e pagar metade da renda durante dois meses, mas é impossível manter os negócios e ao mesmo tempo apoiar os artistas. Ter uma loja aberta exige muitos encargos e despesas.” Para a responsável, é difícil chamar a atenção para a fragilidade do projeto, uma vez que as pessoas “associam as galerias de arte a projetos com dinheiro e sem dificuldades, o que é errado.”

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Para que a Ó! “se mantenha à tona”, Ema Ribeira convidou 45 ilustradores a desenvolverem uma ilustração para depois ser impressa em risografia, uma técnica semelhante à serigrafia, mas mais acessível. Os exemplares do projeto “Bóia” serão vendidos, tanto na galeria como na loja online, a um preço simbólico (12,30€), cujo montante será inteiramente usado para relançar o projeto.

Mariana A Miserável, Uma Joana, Tamara Alves, Carolina Celas, Clara Não, Helena Pérez Garcia, Yara Kono, Júlio Dolbeth, Mariana Rios, Tina Siuda, David Penela  ou Mariana Malhão são alguns artistas que aceitaram o apelo de Ema Ribeiro. “Só lhes pedi para transmitirem uma mensagem positiva, para que as pessoas recordassem a contribuição como algo bom, sinónimo de união, e não a relacionassem com o momento que estamos a viver. Até agora, o feedback tem sido muito bom.” Para já existem oito ilustrações disponíveis, mas até ao fim do mês serão chegam mais 37.

Alguns exemplos do projeto “Bóia”

Apesar de todas dificuldades, certo é que a Ó! Galeria vai reabrir esta sexta-feira no Porto. “Íamos abrir na passada segunda-feira, mas não conseguimos. Tivemos que reorganizar o espaço físico, uma vez que duplicámos o material com as serigrafias que trouxemos de Lisboa.” Quem passar pela loja vai poder ver originais de exposições que não passaram pelo Porto e outras novidades. “Em breve iremos também reorganizar o calendário expositivo”, adianta Ema Ribeiro. “Não estou muito otimista, confesso, gostaria de estar mais. A verdade é que não se vê refletida nenhuma melhoria até agora. Tenho receio que esta fase de desconfinamento nos leve a uma segunda vaga da doença.”

A 1 de junho reabre, no mesmo quarteirão, a loja Ó! Cerâmica, dedicada a objetos de cerâmica produzidos por artistas maioritariamente portugueses, sendo “uma espécie de complemento à galeria”.  O espaço receberá workshops, residências artísticas e também funcionará como co-work.

Rua Miguel Bombarda, 61, Porto. Segunda a sábado, das 14h às 19h. 930 558 047