A Ordem dos Enfermeiros (OE) defendeu esta quarta-feira que Portugal deve ter uma “reserva estratégica” de equipamentos de proteção individual, lembrando que no início da pandemia houve profissionais que foram trabalhar com óculos de natação e máscaras de mergulho.
Foram trabalhar assim porque era o que tinham, isto não é uma crítica a ninguém, isto é a realidade daquilo que nós vivemos”, afirmou a bastonária da OE, Ana Rita Cavaco, na Comissão de Saúde, onde foi ouvida a pedido do CDS-PP sobre “as medidas de combate à Covid-19”.
A bastonária sublinhou que “nenhum país estava preparado para o consumo brutal” que tiverem que fazer de material como máscaras, batas, toucas, viseiras, óculos, luvas e uma série de material que os profissionais habitualmente utilizam em determinados contextos, mas “não numa pandemia desta dimensão com um vírus” que era desconhecido.
Neste momento, os equipamentos de proteção individual (EPI) são “uma questão de segurança nacional” e “têm que fazer parte daquilo que será uma reserva estratégica nacional do país“, afirmou a bastonária em resposta a perguntas levantadas pelos deputados.
Portugal não é um país produtor da maior parte destes equipamentos (…) e, portanto, temos que ir construindo aquilo que será a nossa reserva estratégica nacional porque vamos continuar a ter muito consumo desse tipo de material”, sublinhou.
A bastonária defendeu ainda a importância de testar todos os profissionais de saúde, sublinhando o grau de exposição a que os estão sujeitos pela proximidade que tem tido com os doentes.
“Detetámos e isso está relacionado com os testes virais que havia profissionais com a infeção ativa assintomáticos a trabalhar e, por isso, é que é tão importante testarmos quinzenalmente ou periodicamente todos os profissionais de saúde que estão mais expostos” porque são “veículos de transmissão”, defendeu.
“Aquilo que nós sentimos – e perdoem-me a comparação, porque sei que depois vão dizer que é demagógico – é que para haver jogos de futebol vamos testar todos os jogadores mais do que uma vez e nós que estamos ali todos os dias não”, disse, considerando que “isto não faz sentido nenhum”.
Ana Rita Cavaco contou que há enfermeiros que estiveram de quarentena duas vezes sem serem testados “só porque não tinham sintomas”, uma situação que poderá ser alterada porque, adiantou o secretário de Estado da Saúde disse que “está a ser preparada uma revisão” da orientação 13 da Direção-Geral da Saúde.
“Felizmente não morreu nenhum enfermeiro, mas temos muitos internados em cuidados intensivos e, portanto, é preciso muita cautela daqui para a frente”, advertiu.
Outra situação relatada pela bastonária relacionou-se com a higienização das fardas que “não devem ser lavadas em casa do profissional”.
“Isso já é uma coisa que nunca deveria ser assim, muito menos nesta situação, e isto continua a acontecer no INEM, por exemplo”, disse, adiantando que é uma situação que tem que ser resolvida rapidamente porque constituem “focos de infeção”.
A bastonária advertiu que a pandemia ainda não passou e que todos têm de estar “cada vez mais conscientes disso” que se a retoma for feita sem alguns cuidados pode deitar-se “a perder tudo aquilo” que foi feito ao longo deste tempo, lembrando que em outubro o país vai ter de “lidar também com o período gripal”.
“Temos aqui desafios acrescidos que não são só a questão da pandemia”, salientou a bastonária.
Portugal regista hoje 1.356 mortes relacionadas com a Covid-19, mais 14 do que na terça-feira, e 31.292 infetados, mais 285, revelam os dados da DGS.