As autoridades sanitárias de Moscovo atualizaram esta quinta-feira o número de mortes associadas ao novo coronavírus, o que parece dissipar as dúvidas sobre um total de óbitos relativamente baixo face à dimensão de casos de infeção.

O departamento de saúde da capital russa indicou que a taxa de mortalidade de Covid-19 em Moscovo era, em abril, de 1,4% a 2,8%, dependendo do método de cálculo, valor significativamente menos do que em Londres, Nova Iorque e outras grandes cidades.

Às 636 mortes registadas em abril por Covid-19 e reportadas anteriormente, o departamento de Saúde de Moscovo acrescentou mais 756 pessoas que testaram positivo ao novo coronavírus, mas que acabaram por morrer por outras causas.

O mesmo departamento observou que em 360 desses casos o novo coronavírus atuou como “catalisador”, agravando as condições de saúde dos pacientes e contribuindo para as mortes.

Por outro lado, também contabilizou 169 mortes de pessoas que testaram negativo à Covid-19, mas cujas autópsias demonstraram a probabilidade de terem sucumbido devido ao novo coronavírus.

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Durante a maior parte do tempo desde que a pandemia começou, o departamento sanitário de Moscovo apenas contabilizava as mortes que resultavam diretamente do vírus, deixando, comparativamente a abril de 2019, um crescente número de óbitos como uns inexplicáveis “excessos”.

Tal número de casos de mortes por explicar levou especialistas na própria Rússia e ocidentais a suspeitar que as autoridades em Moscovo e noutras regiões do país poderiam estar a reportar menos casos de óbitos por razões políticas, tal como descreve a agência noticiosa Associated Press (AP).

Este mês, o Presidente russo, Vladimir Putin, ordenou um aligeiramento nas restrições impostas à população, nomeadamente no setor económico posto em prática em fins de março e encorajou os governadores regionais a levantarem gradualmente as regras de confinamento.

Na terça-feira, Putin anunciou que a adiada parada do Dia da Vitória para assinalar o 75.º aniversário da rendição alemã na II Guerra Mundial, inicialmente prevista para 9 deste mês na Praça Vermelha, em Moscovo, será realizada a 24 de junho.

Também no decorrer desta semana a imprensa russa indicou que o Kremlin está a planear uma data para breve para proceder a um plebiscito de uma emenda constitucional também adiada devido à crise sanitária.

O referendo, se for realizado e a vontade de Putin for aprovada, poderá mantê-lo no poder até 2036, se assim o entender.

A grande parada, entendida como um sublinhar da crescente influência russa no mundo, e a votação da emenda constitucional obriga, porém, a um diminuir o nível de medidas de restrições impostas para travar a pandemia.

As autoridades de Moscovo afirmam agora que a situação de pandemia está “segura”, uma vez que o pico das infeções já foi atingido, tal como já referiu Putin.

Os críticos do Kremlim discordam, argumentando que o governo está pronto para pôr em perigo a segurança sanitária devido a razões políticas.

O número de novas infeções reportadas diariamente tem desacelerado, depois de atingir o pico a meio deste mês, mas mantém-se elevado.

Segundo os dados oficiais esta quinta-feira divulgados, nas últimas 24 horas foram registadas cerca de 8.300 novas infeções, com 174 óbitos, repetindo o número do dia anterior e elevando o total de mortes para 4.142.

Recentemente, o Departamento de Saúde de Moscovo reconheceu que as 639 mortes ligadas ao novo coronavírus reportadas em abril representam 40% de todos os óbitos na capital russa que testaram positivo ao vírus. Os restantes morreram de outras causas.

As autoridades russas têm sistematicamente negado qualquer manipulação das estatísticas do vírus, insistindo que a contagem do número de mortes era mais precisa do que noutros países porque é baseada em autópsias realizadas para determinar a causa da morte.

No entanto, se se contabilizarem as mortes apenas provocadas diretamente pelo novo coronavírus, a taxa de mortalidade do vírus em Moscovo terá atingido 1,4% em abril, sublinhou o departamento sanitário moscovita.

Se o total for alargado a todos os que morreram depois de terem testado positivo, o índice subiria para 2,8%, mesmo assim significativamente menor do que os 10% registados em Nova Iorque e dos 23% em Londres.

O mesmo departamento prevê que a taxa de mortalidade por causa do novo coronavírus em Moscovo suba em maio, refletindo o pico da infeção registado em abril.

Moscovo tem cerca de metade dos 379.000 casos confirmados no país, o terceiro maior número atrás dos Estados Unidos e do Brasil.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 355 mil mortos e infetou mais de 5,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de 2,2 milhões de doentes foram considerados curados.