A coligação italiana de extrema-direita Liga, do antigo ministro Matteo Salvini, dos ultra-nacionalistas Irmãos da Itália e da conservadora Forza Italia, organizaram hoje várias manifestações contra o Governo, apesar de estarem proibidas multidões devido à covid-19.
O protesto foi organizado para o dia em que o país comemora o Dia da República, que assinala a escolha em 1946 do regime institucional do Estado italiano.
Salvini, em conjunto com a líder dos Irmãos da Itália, Giorgia Meloni, e do vice-presidente da Forza Italia, Antonio Tajani (em substituição de Silvio Berlusconi, líder do partido) participaram esta terça-feira, em Roma, numa espécie de flashmob com a presença de centenas de pessoas, sem respeitar a distância mínima de segurança exigida pelo Governo para evitar contágios, numa altura em que o país tenta controlar a pandemia.
Salvini e Meloni surgiram com máscaras com a bandeira da Itália e Tajani com uma preta, começando a caminhada na praça romana de Popolo e dirigindo-se à avenida central comercial do Corso, enquanto centenas de pessoas os seguiam com uma grande bandeira italiana.
“Não é um dia dos partidos, é um dia do povo, no qual queremos ouvir as propostas das pessoas”, disse o líder da Liga, Matteo Salvini.
A líder dos Irmãos da Itália tinha indicado, nos últimos dias, que o protesto seria um ato que respeitaria os protocolos de segurança.
Nas últimas horas, expliquei aos cidadãos que não é necessário sair à rua e que podem seguir-nos nas redes sociais, ajudando-nos a divulgar as imagens das manifestações”, disse Meloni, numa entrevista publicada hoje pelo jornal Repubblica.
Mas a realidade está a ser muito diferente, porque além das multidões nas ruas, sem possibilidade de manter o distanciamento social exigido, têm sido frequentes as selfies sem máscaras nem luvas, principalmente de Salvini com os seus eleitores.
Além da manifestação organizada em Roma, os três partidos pediram aos seus seguidores que protestassem contra a gestão do executivo de Giuseppe Conte em 100 praças do país, incluindo a Duomo de Milão, capital da Lombardia (norte), região mais atingida pela pandemia.
Os protestos acontecem num dia em que o Presidente da República, Sergio Mattarella, apelou à unidade das forças políticas e para que pusessem de lado os confrontos para juntos superarem o impacto económico da crise do coronavírus.
Os partidos reclamam “a demissão do governo” e consideram que a manifestação é “um gesto simbólico para mostrar a voz dos cidadãos que não desistem, daqueles que exigem uma burocracia reduzida, um ano de paz fiscal, uma redução de impostos para 15% e uma reforma real da justiça”, referiu Matteo Salvini no Facebook.
De acordo com uma sondagem divulgada pela agência de notícias local AGI, os três partidos têm 47% das intenções de voto, contra 36% da maioria no governo – formada pelo Partido Democrata (20%) e pelo Movimento antissistema 5 Estrelas (M5S), com 16%.
“Os italianos precisam de dinheiro imediatamente, mas prometeram-nos o fundo de recuperação em 2021”, disse Matteo Salvini à imprensa, referindo-se ao plano de recuperação europeu de 750 mil milhões de euros para enfrentar a crise económica causada pela pandemia de coronavírus.
A Itália, particularmente afetada pela pandemia, será o principal beneficiário desse plano, com 172.754 milhões de euros em subvenções e empréstimos.
Estamos aqui em nome dos italianos que foram esquecidos nos últimos meses e que são vítimas de discriminação, existe um preconceito contra o setor privado, os trabalhadores independentes, não pode haver trabalhadores italianos esquecidos”, adiantou Salvini.
Além disso, acrescentou, o protesto visa também opor-se à regularização de migrantes, decidida pelo governo ao conceder uma autorização de residência temporária a vários milhares de imigrantes ilegais que trabalham no setor agrícola e nos serviços domésticos.
Desde o início da emergência, em 21 de fevereiro, a Covid-19 provocou 33.475 mortes e 233.197 infetados na Itália.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 373 mil mortos e infetou mais de 6,2 milhões de pessoas em 196 países e territórios.