“Sim, é verdade. Sou candidato à presidência do FC Porto”. No dia 1 de março, presente no programa “Trio de Ataque” da RTP3 (onde não era comentador residentes), José Fernando Rio, jurista, gestor e comentador do Porto Canal, assumiu algo que durante muitos anos se considerou impensável – desafiar a liderança de Pinto da Costa. E deixou algumas razões para a medida: “Não é uma questão de audácia, é uma questão de portismo. O FC Porto precisa de ser discutido, de ideias novas, de pessoas novas. É pelo FC Porto e não contra ninguém que me candidato. É por um FC Porto de contas saudáveis, com ambição e competitividade desportiva, que possa ter condições para ser cada vez melhor, que possa ter condições para voltar à hegemonia do futebol português, às finais internacionais. E que o FC Porto possa ter as contas certas para chegar a esses objetivos”.
Primeiro começaram a circular informações que davam conta de um possível avanço de João Rafael Koehler. Não acabou por acontecer. No entanto, um grupo de sócios foi continuando a puxar por José Fernando Rio, uma cara conhecida também pelos comentários no Porto Canal. Decidiu avançar. Pelo que se passou no último mandato em termos desportivos, pela parte da sustentabilidade do clube (que considera o maior problema), por episódios como a saída do capitão Herrera. “Não admito que jogadores chave saíam a custo zero. Há um conjunto de interesses que gravitam à volta dos jogadores mas um clube como o FC Porto tem de antecipar problemas e encontrar soluções. Tem havido desleixo nessas negociações”, destacou em entrevista esta semana ao Jogo.
“Faço uma avaliação negativa dos últimos quatro anos. O FC Porto está pior, sobretudo financeiramente. É chegado o momento de tomar decisões para que FC Porto continue um clube grande. Quem trouxe o clube até este estado já não vai ter a capacidade para dar a volta. As pessoas têm de votar com o coração e com a razão, se o fizerem será na minha lista. O FC Porto tem perdido competitividade. Nos últimos 30 títulos internos, ganhou duas Supertaças e um Campeonato. Parece-me bastante pobre, antes ganhava 25 destes 30″, salientou a esse propósito, ressalvando ainda a perda de “poder económico, institucional e político” que levou à quebra na “competitividade desportiva”: “O clube colocou-se deliberadamente à margem e fechou-se sobre si mesmo”.
[Ouça aqui a entrevista de José Fernando Rio no “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador]
Foi essa a tónica que quis sempre acentuar ao longo da campanha e foi também essa a mensagem que deixou aos associados no site oficial da candidatura, à semelhança do que já tinha feito em entrevista ao “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador. “A minha candidatura é uma candidatura pensada, amadurecida e que conta com um projeto e uma equipa sólidos. É uma candidatura pelo FC Porto e não contra ninguém. É uma candidatura de quem ama o seu clube e diz presente num momento delicado e difícil. Não é uma candidatura de calculismos e que aguarda o melhor timing para a promoção pessoal seja de quem for. O momento é este. É este porque é agora que o FC Porto precisa de um novo rumo. O FC Porto, tal como o conhecemos, não pode morrer por causa de uma dívida de gratidão”, sintetizou, sem esquecer o que foi feito de bom antes mas projetando já “um depois”.
“O FC Porto, tal como existe, pode estar em perigo por causa de uma dívida de gratidão em relação ao atual presidente mas essa dívida não pode pôr em causa a existência do clube. O FC Porto tem de ter uma alternância na direção do clube, tem de passar a ter uma gestão rigorosa, profissional, transparente e, acima de tudo, que seja capaz de delinear uma estratégia a médio e longo prazo. As necessidades financeiras vão obrigar a uma venda acentuada dos melhores valores da equipa. Jorge Nuno Pinto da Costa é o maior presidente de sempre da história do futebol e entende muito bem o que é o espírito dos sócios do FC Porto e dos habitantes do Porto e da região. Agora, porque confiou em demasia ou por algum desleixo, deixou de olhar para as contas e deixou-se envolver numa gestão menos transparente, menos rigorosa e, aparentemente, menos profissional. É o momento de uma mudança profunda, porque, caso contrário, o FC Porto arrisca-se a não ter futuro”, disse na Rádio Observador.
Em paralelo, José Fernando Rio defende também uma maior presença dos azuis e brancos na esfera de influência do futebol português. “Há um clube que controla todo o futebol português e tem alguma influência noutros setores da sociedade portuguesa, tem tentáculos que chegam a vários locais. O FC Porto deve congregar interesses com outros clubes. O combate forte ao Benfica será uma das nossas preocupações. O clube vive muito fechado sobre si próprio. Foi uma opção consciente retirar-se dos fóruns de decisão do futebol português, se calhar um bocado por sobranceria, mas isso revelou-se um erro trágico”, apontou a esse propósito.
Aos 51 anos, José Fernando Rio, licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa, tenta agora aquele que é o desafio de uma vida. No caminho profissional extra jurista, foi diretor geral de uma empresa de produtos de luxo antes de integrar a estrutura do Porto Canal (onde além de comentador chegou a ser responsável pela grelha) e escreve também no seu blogue crónicas semanais sobre cada jornada da Primeira Liga. Concorre acompanhado nos órgãos sociais por André Navarro de Noronha (mestre em Direito, para a Mesa da Assembleia Geral), José da Costa Veloso (licenciado em Economia e pós-graduado em Fiscalidade, para o Conselho Fiscal e Disciplinar) e Álvaro Teles de Menezes (engenheiro civil que é o sócio número 90 dos azuis e brancos e assumiu-se como um dos principais impulsionadores da construção do antigo estádio das Antas, para o Conselho Superior).
Em termos de programa, que apresenta como Proposta de Mudança, a lista C “Mudar para Vencer” divide “a visão estratégica” que definiu e o “modelo de governação necessário” em três grandes linhas:
- Compromisso com os sócios. Liderar a mudança necessária do futebol em Portugal e posicionar o FC Porto como exemplo de um clube de futebol moderno, próximo dos sócios e adeptos e no respeito pelos valores formadores do desporto; alcançar desempenhos de alta performance desportiva, assentes num modelo de negócio que garanta a sustentabilidade e o equilíbrio financeiro no médio e longo prazo; construir o futuro do futebol com base nos escalões de formação e no scouting, criando para isso uma academia que seja uma referência de nível internacional; implementar uma gestão apropriada aos diferentes tipos de modalidades, incluindo um modelo de financiamento estável; conceção e implementação de uma Academia FC Porto Sports para as modalidades, com uma metodologia de formação ao nível das melhores práticas internacionais; voltar a vencer uma competição europeia (futebol profissional); reestruturação da dívida da SAD, emagrecimento da estrutura de gastos, promover a obtenção de receitas adicionais; indicadores de performance relativos ao endividamento e aos resultados operacionais com reflexos na remuneração da gestão da SAD.
- Comissão de Vencimentos da SAD. Remuneração dos administradores que exerçam funções executivas deve integrar uma componente baseada no desempenho, devendo tomar por isso em consideração a avaliação de desempenho realizada periodicamente pelo órgão ou comissão competentes; componente variável deve ser consistente com a maximização do desempenho de longo prazo da empresa e dependente da sustentabilidade das variáveis de desempenho adotadas; remuneração fixa dos membros do Conselho de Administração da SAD 50% abaixo da atual prática (presidente passa de 641.140 euros para 320.000 euros, administradores executivos passam de 361.200 euros para 180.000 euros); constituição de uma nova Comissão de Vencimentos nomeada pelo FC Porto que defina critérios de performance financeira e desportiva.
- Compromisso para as Modalidades. Voltar a ter atletas olímpicos em várias modalidades individuais e coletivas já a partir de Paris 2024; cumprir os planos de carreira, tendo como objetivos nível nacional, internacional e olímpico; fomentar equipas master nas diferentes modalidades; agrupar as modalidades em três modelos de gestão e adequar a estes a estrutura da Direção: modelo competitivo profissional, modelo de alto rendimento e modelo de alto rendimento em parceria; definir um modelo de financiamento estável e previsível para as modalidades: financiamento fixo garantido pelo clube, financiamento variável, em função das metas/desempenho desportivo e exploração de receitas próprias; criação da Academia FCP Sports; Campus Desportivo para modalidades a médio prazo; implementação de um Laboratório de Alto Rendimento.