Eram 7h30 da manhã quando Miguel Lelo chegou à porta do Dragão Arena para ser o primeiro adepto do FC Porto a entrar e votar no próximo presidente dos azuis e brancos. As portas só abririam duas horas e meia depois, mas a fila já estava formada muito antes, com cerca de 50 pessoas à espera, todas elas de máscara. Miguel Lelo, à semelhança de muitos outros, veio mais cedo porque sabia que o contexto era diferente. “Pensei que com esta situação do distanciamento social vinha muita gente e isto iria começar a encher. Não me apetecia ficar aqui a manhã toda e por isso vim cedo”, conta ao Observador, minutos antes de as portas se abrirem.

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As eleições para a presidência do FC Porto, que decorrem este sábado e domingo, marcam a diferença não só por por ser a primeira vez que Pinto da Costa, atual presidente do clube, encontra mais dois adversários na corrida à liderança – José Fernando Rio e Nuno Lobo –, mas também por se realizarem em plena pandemia de Covid-19. Trata-se, aliás, do primeiro grande ato eleitoral desde que o novo coronavírus chegou a Portugal, nos primeiros dias de março. Há regras de segurança e higiene específicas a cumprir, (muito) distanciamento antes e durante a hora do voto e os cumprimentos não podem passar de um simples gesto com o cotovelo. E com um outro pormenor, que na véspera tinha voltado a ser pedido pelos responsáveis: cada associado trazer a sua própria caneta. A afluência já tinha batido o recorde das mais participadas este século só nas sete horas iniciais de votação do primeiro dia, com um total de 4.036 associados a passarem pelo Dragão Arena (3.820 em 2007).

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Por volta das 10h04, Miguel Lelo é autorizado a entrar, mas os procedimentos de segurança para que possa exercer o seu direito de voto começam ainda cá fora. Primeiro: uso obrigatório de máscara, algumas personalizadas com o símbolo e as cores do clube. Segundo: ter o cartão de sócio à mão e passá-lo por uma máquina, sem ter qualquer contacto com o equipamento. “Preparámos as eleições da melhor maneira possível para preservar a saúde dos senhores associados na certeza de que, por ser em dois dias, e como temos muitas mesas de voto, as coisas fluírem. Vai ser um ato agradável, saudável e com a convivência possível”, referiu ainda antes do sufrágio Matos Fernandes, presidente da Mesa da Assembleia Geral do FC Porto, ao Porto Canal.

A entrada para o Dragão Arena, por volta das 10h, altura em que as portas abriram (Ana Catarina Peixoto/Observador)

Apesar de a fila ser grande, o espaço e a segurança foram conseguindo evitar ajuntamentos e garantir que a distância era mantida. Logo após a validação do cartão de sócio, há linhas azuis coladas no chão à entrada e dentro do Dragão Arena para garantir o distanciamento entre cada adepto enquanto se espera para votar. Há também um circuito de entrada e saída definido e os associados entram em pequenos grupos. Ninguém pode avançar sem que a pessoa da frente também já tenha chegado à sinalética seguinte.

Na altura do voto, já dentro do Dragão Arena, há oito mesas disponíveis, organizadas pelo número de anos de filiação, e em cada uma delas há também oito linhas azuis, onde cada sócio deve permanecer enquanto espera pela sua vez. “Quem quer que seja o vencedor que efetue algumas mudanças, porque a mudança é um sinal de progresso”, comenta Miguel Lelo ainda antes de passar o cartão de sócio. Às 12h24, José Fernando Rio, candidato da lista C, junta-se à Mesa 4 (destinada para os sócios entre os números 18.001 e 30.000) para votar. Consigo traz uma máscara e cumprimenta com o cotovelo um dos delegados que se encontram no recinto.

Poucos minutos depois é a vez de Pinto da Costa entrar no Dragão Arena e votar na Mesa 1 – destinada aos adeptos até ao número 5.000 de associado. Na mesma mesa votou também Adelino Silva, sócio do FC Porto há mais de 50 anos, que confessa esperar mais afluência nas votações deste fim de semana, tendo em conta que há também mais candidatos. O resultado, refere ao Observador, aponta para “uma vitória confortável de Pinto da Costa”, uma vez que “não há experiência suficiente dos outros candidatos”.

Espero muitas dificuldades e ninguém imagina como é que vão ser superadas. Mas estou convencido que há uma força muito grande. Há pessoas de responsabilidade que me dão alguma tranquilidade em relação ao futuro e que não vejo nas outras candidaturas”, refere o adepto, enquanto espera pela sua vez para entrar no Dragão Arena.

Pinto da Costa à chegada à Mesa 1 para votar (Ana Catarina Peixoto/Observador)

Nas mesas de voto também há regras específicas, a começar pelo álcool-gel pousado para que cada sócio desinfete as mãos antes de votar – preferencialmente com a sua própria caneta, tal como foi recomendado pela mesa da Assembleia Geral. Na zona das urnas há pórticos de acrílico montados, sendo que existem funcionários a desinfetarem constantemente esta zona. Em menos de cinco minutos, Pinto da Costa votou, saiu pelo lado oposto à zona da entrada e foi ainda aplaudido por alguns associados que estavam no interior do Dragão Arena. “Está a correr tudo muito bem, com muita tranquilidade e com uma afluência muito grande. Resultado? Não sou adivinho, amanhã à noite digo”, comentou aos jornalistas.

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Ao longo da manhã, o ambiente no Dragão Arena esteve relativamente calmo, mas com uma afluência grande às urnas. As filas de sócios atravessavam a estação de metro do Estádio do Dragão e assim ficaram até à hora de almoço e durante a tarde. A claque do FC Porto também votou logo de manhã, incluindo Fernando Madureira, líder dos Super Dragões. Pelo meio passaram outras figuras portistas, como o antigo treinador do FC Porto André Villas-Boas, que foi dos primeiros a votar e passou discretamente por todos, mas também o antigo central António Lima Pereira, Adelino Caldeira, administrador da SAD e candidato à vice-presidência do clube, Alípio Jorge Fernandes, outro dos decanos dirigentes do FC Porto, e Reinaldo Teles, administrador da SAD.

Para Miguel Lelo, o primeiro adepto a chegar ao Dragão, o contexto de pandemia não vai ser entrave para mais pessoas votarem no próximo presidente do clube. Até porque estas eleições já superaram as de 2016 no número de votantes. “Espero que sim, que apareçam pessoas, porque é a primeira vez que o nosso presidente vai ter alguma oposição. E se ela existe é um sinal de que há pessoas que não estão satisfeitas. É uma boa oportunidade para os portistas terem uma voz decisiva e importante nesta mudança ou não”.

Notícia atualizada às 19h30, depois do fecho das urnas no primeiro dia de eleições do FC Porto