A presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso (PP), e o seu conselheiro de Saúde, Enrique Ruiz Escudero, garantiram que o governo espanhol não ordenou a exclusão do internamento em hospitais de residentes de casas de repouso com deficiência ou com elevado nível de dependência. Porém, emails consultados pelo El País contrariam as declarações de Ayuso e Escudero e mostram que um responsável da Saúde pediu que esses protocolos fossem enviados aos 475 lares de Madrid. Na versão dos dois responsáveis, os documentos foram enviados por engano.

O El País teve acesso a quatro emails enviados pelo diretor de coordenação sócio-sanitária, Carlos Mur de Víu, à pasta das Políticas Sociais. Os documentos serviam como uma espécie de guia para que os hospitais recusassem o internamento de algumas pessoas com deficiência e idosos com Covid-19 para evitar o colapso do sistema de saúde. Segundo o El País, os idosos de casas de repouso voltaram a poder ser admitidos nos hospitais, quando a pressão sobre estes diminuiu, em meados de abril. Desde 8 de março até à sexta-feira passada, 5.986 pessoas com Covid-19 ou sintomas associados à doença morreram em lares. Deste número, 88% ocorreram até ao dia 17 de abril, ou seja, durante o período em que os hospitais negaram a admissão de pessoas vindas de casas de repouso.

“Enquanto não houver pessoal adequado e equipamentos de proteção individual (EPI) nos lares, temos de ajudá-los no fornecimento e na transferência racional para os hospitais”, diz Mur de Víu num email datado de 20 de março. O protocolo que Mur de Víu assinou a 20 de março, e que pediu que fosse enviado aos lares de Madrid, contém cinco critérios de exclusão para pacientes com infeções respiratórias que vivem em residências sociais em Madrid, incluindo aqueles com deficiência.

Os doentes e os dependentes com doença terminal foram excluídos com base no índice de Barthel, uma escala que mede a autonomia das pessoas de 0 a 100. Depois de surgirem fortes críticas quanto a este sistema, o Ministério da Saúde alterou os critérios de exclusão, deixando de incluir as pessoas com deficiência de qualquer idade e reduzindo o nível de autonomia do doente, com base no índice de Barthel, de 60 para 25.

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Os critérios seguidos pelos hospitais públicos de Madrid para selecionar pacientes com Covid-19 vindos de casas de repouso, segundo o protocolo final do Ministério da Saúde, datado de 25 de março

Carlos Mur de Víu acabaria por ser demitido, a 13 de maio, e foi substituído por Javier Martínez, um dos geriatras que prepararam os documentos.

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A escala de fragilidade dos mais idosos, seguida pela Comunidade de Madrid

Isabel Díaz Ayuso e Enrique Ruiz Escudero começaram por dizer que não houve ordem para que os protocolos fossem enviados aos lares, mas mudaram de versão, garantindo que os documentos foram enviados por engano. E acrescentam que cada decisão de transferência de um doente para um hospital foi feita puramente com base em “critérios clínicos”. Segundo os responsáveis da comunidade autónoma, 10.300 pessoas foram transferidas para hospitais, com o pico a ser atingido a 6 de abril (206 internamentos). Porém, segundo o jornal espanhol, há vários relatos de familiares de falecidos que dizem ter havido recusas generalizadas de transferência de alguns doentes entre meados de março e meados de abril, ou seja, durante o período mais crítico da pandemia.

O El País já tinha revelado que o Conselheiro das Políticas Sociais, Alberto Reyero (do Cidadãos), alertou Escudero em dois e-mails, a 22 de março, para o facto de os protocolos poderem levar à morte indigna, o que poderia ter “consequências legais”.