A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, admitiu esta quinta-feira que “nada impede” que o mês dos santos populares seja assinalado com sardinhadas em esplanadas, desde que seja mantido o distanciamento necessário.
“Nada impede que haja uma esplanada, que essa esplanada tenha música e que essa música seja acompanhada de um grelhador e de umas belas sardinhas. Desde que se cumpram as regras do distanciamento. É uma nova normalidade. As coisas podem fazer-se, mas podem fazer-se com regras”, afirmou Graça Freitas durante a conferência de imprensa diária sobre a pandemia da Covid-19 em Portugal.
“Há esplanadas ótimas que estão com muitas pessoas, em que tudo está ordenado, tudo está cumprido, e o risco é mínimo. E depois há outras situações em que, de facto, as pessoas se juntam demasiado”, acrescentou Graça Freitas.
A diretora-geral da Saúde sublinhou que os bailes tradicionais, com grandes ajuntamentos, estão proibidos, sobretudo porque é impossível conhecer todas as pessoas que estão num arraial e assegurar que não há risco de transmissão do coronavírus.
Na quarta-feira, também na conferência de imprensa, a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Mariana Vieira da Silva, tinha sublinhado que “as festas populares estão expressamente proibidas”. Para garantir o cumprimento das normas, a cidade de Lisboa, que esta semana deveria celebrar o Santo António, vai ter um reforço policial nas ruas.
https://observador.pt/2020/06/11/covid-19-eua-ultrapassam-os-dois-milhoes-de-casos/
Quem também apelou à responsabilidade individual no período dos feriados foi a secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Jamila Madeira. “A todos os que usufruem destes feriados para viajar, podemos dizer: aproveitem. Mas dizemos também que cabe a cada um de nós continuar a assumir esse sentido de responsabilidade cívica que tivemos até agora”, disse.
Só duas crianças internadas, nenhuma nos cuidados intensivos
Graça Freitas anunciou também uma “notícia muito boa” relativamente à pediatria: neste momento, só há duas crianças internadas no país — e nenhuma delas se encontra em unidade de cuidados intensivos.
“Desde que começámos a ter internamentos pediátricos, e isto reporta-se ao Sul todo do país — não temos informação em contrário da região Norte, por isso tomamos como bons os resultados do Hospital Dona Estefânia —, que neste momento tem duas crianças internadas e nenhuma está em cuidados intensivos“, afirmou a diretora-geral da Saúde.
Graça Freitas abordou também a questão da região de Lisboa e Vale do Tejo, que continua a ser a mais afetada pela pandemia — esta quinta-feira, 91,3% dos novos casos foram registados nessa região — e que foi alvo de uma operação de rastreio intensivo.
No rastreio, confirmou-se uma das preocupações que já têm sido identificadas por diversas vezes: o setor da construção civil.
“Aquele grupo que foi testado e que mais positivou, 10% das pessoas que tiveram teste positivo, foi o grupo dos trabalhadores da construção civil. Outros grupos, nomeadamente trabalhadores temporários, lares, até agregados familiares, deram uma percentagem de testes positivos inferior, na ordem dos 4 a 5%. O grupo que tinha mais pessoas assintomáticas e positivas foi o dos trabalhadores da construção civil“, disse Graça Freitas.
Questionada sobre a estratégia de rastreios em todo o território nacional, Graça Freitas salientou que “a política de testagem deve ser uma política dirigida”, nomeadamente para diferentes “contextos e situações de risco”.
“Não se pararam os rastreios em nenhuma região do país. Mas temos de convir que há regiões do país que praticamente não têm atividade epidémica nem têm circulação do vírus. Nessas, não se justifica fazer rastreios indiscriminados“, afirmou a diretora-geral da Saúde.
“Mesmo aqui em Lisboa, nós tomámos esta medida de fazer mais de 14 mil testes de rastreio num contexto específico, para encontrar positivos rapidamente, isolar esses positivos. Agora, a estratégia é outra, é acompanhar esses casos positivos”, acrescentou.
Segundo a diretora-geral da Saúde, o mais provável é que só no fim da pandemia seja possível entender detalhadamente a forma como o vírus se propagou no país. “Na SARS, por exemplo, só depois de ter acabado é que nós conseguimos perceber onde é que cada foco tinha começado. Quando se estudar isto mais aprofundadamente, perceber-se-á melhor as cadeias de transmissão”, explicou.
“O padrão do Norte começou com casos importados, casos que transmitiram a muitas pessoas. Houve aquele grande aumento no Norte. Depois tivemos o fenómeno da zona centro, em Ovar, houve uns casos iniciais circunscritos naquela região“, lembrou Graça Freitas. “Num outro tempo, Lisboa e Vale do Tejo teve sempre casos, mas não foi tão evidente em determinadas alturas. Até que em Lisboa começaram a surgir vários focos, ligados a trabalhadores de empresas de trabalho temporário, que começaram no pólo da Azambuja.”
A partir desse momento, desenvolveram-se “focos nas habitações e focos nos transportes”, como “uma sementeira de casos que vão originando outros focos”.
Foco na freguesia de Arroios (Lisboa) foi um “lapso”
A secretária de Estado Jamila Madeira admitiu ainda que houve “um lapso” e que a freguesia de Arroios não faz parte dos 13 focos de covid-19 registados na zona da grande Lisboa.
“Nós temos alguns surtos em alguns pontos que têm uma correspondência com um código postal e no caso de Arroios houve um lapso que já foi identificado e que naturalmente pedimos desculpa pelo facto”, afirmou hoje a secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Jamila Madeira, durante a conferência de imprensa diária de atualização de informação relativa à infeção pelo novo coronavírus.
Na quarta-feira a ministra da Saúde, Marta Temido, falou em 13 surtos preocupantes em Lisboa, Loures, Odivelas, Amadora e Sintra, referindo-se aos casos registados nas freguesias de Arroios, Santo António, Encosta do Sol, Queluz e Belas, Águas Livres, Agualva, Mira-Sintra, Mina d’Água e Rio de Mouro.
O aumento de casos registado nos últimos dias na região de Lisboa e Vale do Tejo levou o Governo a criar um Gabinete Regional de Intervenção para a Supressão da Covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo.
Até agora, já se registaram em Portugal 35.910 casos de Covid-19 e 1.504 pessoas morreram vítimas da infeção. Nas últimas 24 horas, registaram-se 310 novos casos (dos quais 283 em Lisboa e Vale do Tejo) e sete mortes.