O PSD de Vila Nova de Gaia criticou esta segunda-feira, durante uma reunião de executivo, o programa “Noites de Verão”, anunciado na semana passada pela autarquia e que inclui oito concertos de música portuguesa no estádio da Lavandeira, entre 10 de julho a 1 de agosto.
O vereador social-democrata Cancela Moura referiu-se à pandemia da Covid-19 para exigir o cancelamento do Noites de Verão em Gaia e fala em “surpresa geral”. “Será compreensível e aceitável que a câmara, em pleno estado de calamidade, se contrarie a si própria e contradiga o que o Governo decretou, violando as regras legais e sanitárias vigentes, para enfiar milhares de pessoas dentro de um estádio, por muito que se anuncie que serão respeitadas todas as regras e as medidas impostas pelas autoridades?”.
Em resposta, o presidente da câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, garantiu que estão a ser acauteladas todas as medidas de segurança no evento e que este pretende “dar esperança às pessoas”, pedindo ao PSD que “não enverede pelo discurso de medo”. O autarca sublinhou ainda que “não são milhares de pessoas, mas sim 900 todos sentados em cadeiras e com as devidas regras”, tendo pedido ao PSD que “não lance o pânico, o medo e a intriga”.
“Não podemos fazer o discurso provinciano de que em Lisboa se pode, como aconteceu no Campo Pequeno, mas o resto do país tem de estar fechado. Lá sim estavam milhares de pessoas. O que as autoridades de saúde proíbem não é eventos com regras, eventos que dão esperança às pessoas, às pessoas que a maioria delas não tem dinheiro para férias num hotel de luxo no Algarve, o que proíbem é a bagunça”, disse o presidente socialista.
Pedro Abrunhosa, Ana Moura e Herman José atuam em Vila Nova de Gaia entre julho e agosto
Segundo anúncio do evento por parte da câmara, o Noites de Verão em Gaia foi pensado pelo município tendo em conta o cumprimento de todas as normas preconizadas pela Direção-Geral da Saúde. “O Estádio Municipal da Lavandeira — local escolhido para acolher este evento — será delimitado, os lugares serão previamente identificados por cadeiras e respetivas marcações, cumprindo um distanciamento mínimo de 1,5 metros entre espetadores. A entrada e a saída do público terão circuitos próprios e haverá sinalização e marcas físicas no chão para que não existam filas e se cumpram dois metros entre as pessoas”, pode ler-se.
No entanto, o grupo de vereadores do PSD/Gaia pretende saber se a DGS já se pronunciou especificamente sobre a iniciativa, apontando que “nunca seria compreensível, nem aceitável que se procurasse realizar, com esta iniciativa, uma espécie de edição confinada do festival Marés Vivas, com a mediação, o patrocínio e a contraditória deriva de tudo quanto o presidente da câmara andou a apregoar nos últimos 100 dias”.
“O que se pede, pois, no mínimo, à câmara e ao seu presidente, é a suspensão imediata das anunciadas Noites de Verão, e respetiva publicidade, num último assomo de responsabilidade e respeito pelos gaienses, sobretudo pelos que viveram e vivem de forma angustiante esta crise sanitária, económica e social e pelos que, com seriedade e a todo o custo, a tentam contrariar, por forma a que todos possamos regressar, de pleno direito, não a um novo normal mas, sim, a uma vida normal”, afirmou o vereador social democrata Cancela Moura.
O presidente do município, Eduardo Vítor Rodrigues, defendeu que “tal como as praias terão pessoas com ordem e regras”, o “Noites de Verão e Gaia” será um evento “seguro, tranquilo e barato”. “Percebo que tentem fechar a cidade para que se esqueçam dela. Mas a cidade no se vai fechar e deixar de projetar a reboque da Covid-19. Estejam descansados: não somos menos que Lisboa e faremos as coisas de forma responsável.”
Contacto pelo Observador, Jorge Lopes, da PEV Entertainment, promotora do evento, diz não saber da discórdia na câmara municipal de Gaia, assegura que o evento irá realizar-se “segundo todas as normas exigidas” e acrescenta que foi o próprio primeiro-,inistro, a ministra da Saúde e a ministra da Cultura que “lançaram o repto para mantermos viva a chama da cultura nesta fase”.
O promotor recorda que o estádio da Lavandeira, em Gaia, “é um espaço maior que o Campo Pequeno e que levará uma lotação inferior”. De pé, o estádio pode receber 20 mil pessoas, mas neste caso os concertos vão realizar-se em lugares sentados, “com uma lotação que irá variar entre os 800 e os 900 lugares”, entre bancadas e cadeiras distribuídas pela relva. Para Jorge Lopes, o cancelamento da iniciativa “não é uma questão” e sublinha que o município de Vila Nova de Gaia deve sentir-se “orgulhoso por ter tido o rasgo de devolver cultura à cidade”.