O primeiro passo já está, mas era o mais fácil. O orçamento suplementar foi aprovado na generalidade, com a abstenção do PSD e dos antigos parceiros do geringonça, mas se, por um lado, Rui Rio diz que dificilmente mudará o seu voto da abstenção para o voto contra, os partidos da esquerda querem aproveitar o debate na especialidade para conseguir algumas vitórias e deixam tudo em aberto para a votação final. Tudo dependerá de como correr o debate na especialidade, dizem.

Perante este cenário, a líder parlamentar do PS não quis perder tempo e, assim que terminou a votação no plenário, foi fazer declarações aos jornalistas para pôr pressão nos antigos parceiros: em nome da responsabilidade e do interesse nacional não basta aprovar o orçamento na generalidade. É preciso também aprovar na especialidade, avisou.

Questionada sobre se o PS estava disposto a acolher propostas dos partidos da esquerda, Ana Catarina Mendes diz que “a seu tempo cada proposta será avaliada”. Mas avisou: “Não basta em nome da responsabilidade e do interesse nacional ter aprovado hoje na generalidade o orçamento”. Ou seja, é preciso manter a postura de responsabilidade até ao fim.

“Não podemos olhar para este orçamento como um parênteses inconsequente no meio da legislatura. Ele tem consequências e exige um compromisso duradouro de todos partidos que agora aprovaram o orçamento, que é um compromisso duradouro para com os portugueses”, disse, sublinhando que este orçamento mantém o compromisso que tinha sido feito com os parceiros da esquerda de não ir por um caminho de austeridade.

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Ou seja, o PS quer mesmo vincular os partidos que agora carimbaram o orçamento, mesmo que tenha sido através da abstenção, a este orçamento, exigindo-lhes responsabilidade até ao último minuto. Quem viabiliza à primeira, viabiliza à segunda. Para Rui Rio, o argumento é pacífico: “Só se houvesse uma alteração profundíssima é que alterávamos o sentido de voto, penso que não vai haver uma alteração profundíssima, o diploma vai para a votação final mais ou menos parecido”, disse esta tarde. Mas para a esquerda, não é assim tão líquido.

Ainda assim, Ana Catarina Mendes acredita que “estão criadas todas as condições” para os partidos que agora se abstiveram virem a manter o seu sentido de voto. Até porque o caminho que o Governo quer seguir é o mesmo que tem seguido nos últimos 5 anos. “Os que, connosco, ao longo dos últimos 5 anos, rejeitaram a austeridade são os que connosco fizeram o caminho do maior crescimento económico, de devolução de rendimentos, de apoio a uma política de rendimentos já nesta legislatura”, disse, apontando o dedo aos antigos parceiros da esquerda. A eles, Ana Catarina Mendes, diz que o caminho que está pela frente no orçamento suplementar é o mesmo: reforço do estado social, das empresas e do emprego.

Certo é que, para a líder parlamentar socialista, o que a esquerda tem de ter em mente é que este não é um orçamento retificativo “como os da direita”, uma vez que “não impõe cortes nem aumenta impostos”. É este o argumento do PS para convencer a esquerda de que não tem como não viabilizar. Até porque a pandemia provou que “a democracia está madura”.