A Câmara de Penafiel acusou de “profundo desconhecimento histórico e cultural e uma grande dose de hipocrisia” os deputados do PS que questionaram esta sexta-feira a ministra da Cultura sobre uma dança denominada “Baile dos Pretos”.

Em comunicado enviado à Lusa, a autarquia reagiu à pergunta dirigida a Graça Fonseca, sobre o facto de o evento cultural Bailes do Corpo de Deus – Cavalhada, candidato ao programa “7 maravilhas de Portugal”, da RTP, apresentar uma dança denominada “Baile dos pretos”.

Subscrita pelos deputados do PS Hugo Oliveira, Joana Sá Pereira, Rosário Gamboa, Bruno Aragão, Susana Correia e Cláudia Santos, a pergunta refere que na dança participam “pessoas caucasianas que se pintam de negro e dançam ao som destas quadras: O preto é o rei dos matos; imperador dos macacos; não posso levar avante; pretinho andar de sapatos”.

Na reação, o município argumenta com “a tradição secular chamada A Cavalhada, onde se inserem diversas iniciativas e cinco bailes populares, também eles seculares, cuja recriação e recuperação histórica ocorreu entre 2008 e 2011, com o envolvimento da comunidade e de diversas associações locais”.

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Um destes bailes é denominado Baile dos Pretos e, aquando da sua recuperação, a câmara municipal teve o cuidado de suprimir parte as quadras que pudessem conter alguma referência ofensiva, não sendo verdade que as quadras referidas no requerimento do PS à Senhora Ministra da Cultura integrem o atual reportório do baile”, lê-se ainda no comunicado.

Em todo o caso, “o município já tinha solicitado aos serviços da cultura e ao museu que avalie a pertinência de se manter este baile na tradição da Cavalhada”, acrescenta o documento.

Só um profundo desconhecimento histórico e cultural e uma grande dose de hipocrisia, podem ter levado deputados do Partido Socialista, a pôr em causa os bailes que integram a Cavalhada e fazer ligações a questões de racismo. Essa circunstância é ainda agravada pelo facto de uma das senhoras deputadas subscritoras do requerimento ser penafidelense e cidadã honorária da cidade [Rosário Gamboa] e nunca ao longo do tempo ter colocado qualquer questão, dúvida ou reserva, relativamente aos bailes!”, continua o documento.

O enredo do “Baile dos Pretos”, refere a publicação, “consiste na apresentação de um conjunto de escravos alforriados que, depois de libertos e acompanhados da sua própria realeza, apresentam os seus cumprimentos ao concelho e à comissão de festas, enquanto cidadãos livres e de plenos direitos que, tal como os outros grupos profissionais que se apresentam na Cavalhada, têm de trabalhar para seu sustento, executando uma vistosa e colorida dança de fitas que se entrelaça num poste, celebrando assim a libertação do jugo da escravatura e a sua integração de igual direito na sociedade”.