Os lares de idosos vão passar a ser alvo de um controlo mais apertado para garantir que são cumpridas “as boas práticas”, avançou a ministra da Saúde Marta Temido. Na conferência de imprensa desta sexta-feira, sobre a situação epidemiológica de Portugal, a ministra da saúde adiantou que os lares vão passar a ser “visitados por equipas conjuntas formadas pela Saúde e pela Segurança Social — e também pela Proteção Civil quando necessário — para que haja um controlo permanente daquilo que são as boas práticas”.

“Vamos manter um controlo apertado”, afirmou Marta Temido, acrescentando que está a ser equacionada a retoma “de alguns programas de rastreio”, mas de uma forma mais aleatória e dirigidas aos funcionários dos lares.

A ministra disse ainda que “generalizar a suspensão de visitas” aos lares “não se afigura proporcional”, uma vez que muitas das infeções nestas estruturas residenciais são transmitidas pelos funcionários e não pelas visitas.

Estaríamos a atacar um foco errado”, indicou a ministra, referindo que um terço dos óbitos que ocorreram em Portugal são pessoas que estavam em lares de idosos.

A ministra atualizou ainda o número de casos positivos no lar de São Vicente, em Alcabideche: 45 utentes e três profissionais de saúde testaram positivo para o novo coronavírus e aguardam-se ainda resultados. Já o lar Amera, em Cascais, tem 39 utentes e 6 profissionais infetados.

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Sobre a capacidade do Hospital de Cascais, a ministra adiantou que a unidade hospitalar tem 234 camas de enfermaria e tem, neste momento, internados 39 doentes infetados com o novo coronavírus. Nos cuidados intensivos, existem 18 camas, das quais seis são para doentes Covid e 12 para doentes não Covid, sendo que, atualmente, o hospital tem quatro doentes com Covid-19 internados.

Relativamente aos transportes públicos, Marta Temido afirmou que, na na audição parlamentar desta quarta-feira, não disse “que os transportes público não eram foco de transmissão”.

O que eu disse é que nas identificações de transmissão de infeção que temos não temos nenhuma identificação associada a contágio em transportes e que isso nos deve fazer refletir.”

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Vacinas contra a gripe: “A grande aposta é começar a vacinar o mais precocemente possível”

Relativamente às vacinas contra a gripe, a diretora-geral da Saúde recordou que Portugal comprou dois milhões de doses, cujos procedimentos concursais “estão a decorrer”, e adiantou que “a grande aposta é começar a vacinar o mais precocemente possível”.

Graça Freitas afirmou que a vacinação vai começar por dois grupos: “os profissionais de saúde e não só, os prestadores de cuidados a outros” e os idosos residentes em lares.

O que queremos é aumentar a cobertura vacinal destes grupos e vamos começar a vacinar logo que tenhamos as vacinas.”

“Os números não são ainda aqueles que gostaríamos de ter”

No início da conferência de imprensa, a ministra da Saúde afirmou que a situação epidemiológica do país permanece “marcada pela força do impacto” da região de Lisboa e Vale do Tejo, mais concretamente na zona da Área Metropolitana de Lisboa.

Marta Temido sublinhou que os dados referentes a Lisboa e Vale do Tejo, no boletim desta sexta-feira, têm apenas uma fonte: “os dados agregados dos respetivos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES)”. “Optou-se por esta fonte porque a não notificação laboratorial no SINAVE LAB por um parceiro privado nos últimos três dias e apenas realizada nas últimas 24 horas originou cerca de 200 notificações cuja distribuição ainda carece de análise”, afirmou a ministra, acrescentando os números terão de ser corrigidos.

Marta Temido disse ainda que, em Lisboa e Vale do Tejo, há 7929 casos ativos e dez mil pessoas em vigilância pela saúde familiar. Relativamente aos surtos ativos no país, há 18 surtos ativos na Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, 5 na ARS do Centro, 5 na ARS do Alentejo e 6 na ARS do Algarve.

Marta Temido adiantou ainda que foram feitos1100 contactos e visitas domiciliárias, nos últimos três dias, por parte dos elementos das equipas multidisciplinares, constituídos pelos Agrupamentos dos Centros de Saúde, pela Segurança Social, pela Proteção Civil, pelos municípios e pelas forças de segurança.

Os números não são ainda aqueles que gostaríamos de ter e temos de continuar a empenhar o nosso melhor esforço para diminuir a progressão epidémica”, disse a ministra da Saúde.

Relativamente à resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a ministra da Saúde adiantou que Portugal tem, “nesta data”, 495 camas de enfermaria com doentes infetados com o novo coronavírus, sendo que destas camas, 72 são de unidades de cuidados intensivos.

“Destas camas, 365 e 60 respetivamente estão ocupadas na região de Lisboa e Vale do Tejo”, afirmou Marta Temido, acrescentando que Portugal tem 121 mil camas hospitalares no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e 534 “só de cuidados intensivos polivalentes de adultos”.

“Com estes números, o SNS continua a responder nesta que foi mais uma semana difícil na luta contra a pandemia.”

Reino Unido: “Não há na situação epidemiológica nada que justifique esta decisão”

Quanto à decisão do Reino Unido de excluir Portugal do corredor aéreo, a ministra da Saúde considerou que “não há na situação epidemiológica de Portugal, sobretudo quando comparando com o Reino Unido, nada que justifique esta decisão”.

Ainda assim, Marta Temido que esta é uma decisão que tenderá a evoluir” num sentido que seja “mais favorável para o país”. “É uma decisão que irá acompanhar a evolução da infeção, é uma situação que terá o dinamismo próprio daquilo que é a evolução da infeção.

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Questionada sobre as críticas do presidente da Câmara de Lisboa, a ministra da Saúde não respondeu diretamente, considerando que as autoridades de saúde estão “profundamente” empenhadas em continuar a trabalhar, “a identificar situações de casos e contactos e cortar cadeias de transmissão.”

Os demais aspetos acho que nos desfocam daquilo que é o central da nossa atuação e os portugueses não nos perdoariam por isso.”

Fernando Medina: Controlo da Covid-19 correu mal em Lisboa

A ministra da Saúde adiantou ainda que entrou em vigor, no dia 1 de julho, um “despacho conjunto sobre a circulação através de transporte aéreo” e que levou o INEM e o INSA a assegurar “o apoio ao aeroporto de Lisboa”.

Este despacho, continuou Marta Temido, determina que “passageiros que venham de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, cidades no Brasil com quem Portugal já abriu ligação e mesmo [dos] Estados Unidos tenham de trazer um teste”. Caso não tragam, “se forem residentes em Portugal” ou tenham nacionalidade portuguesa, “essa falta de teste é suprida no aeroporto”.

Realizámos nas últimas 24 horas duas centenas de testes”, afirmou a ministra, acrescentando que “é expectável” que se deixe de dar esse apoio.

“Começámos com o controlo de temperatura, mantivemos o cartão de localização do passageiro e agora, com uma maior intensidade de circulação aérea, estamos a aplicar estas medidas para o que são origens que nos inspiram maior cautela face à situação epidemiológica”.

Novos casos em Lisboa e Vale do Tejo “são pessoas que nunca estiveram confinadas”

Questionada sobre a estratégia atual de combate à pandemia, a ministra da Saúde sublinhou a necessidade de “adaptações constantes das estratégias de resposta”.

Ao contrário do que aconteceu no início da pandemia — em que Portugal conseguiu aprender com os erros de outros países porque teve “um início da doença” posterior —, Marta Temido considerou que, neste momento, os países estão todos “mais ou menos” na mesma fase, “embora a situação em Lisboa e Vale do Tejo esteja mais difícil de ultrapassar”.

“Não há uma explicação exata e precisa para aquilo que é a diferença” entre Lisboa e Vale do Tejo e as outras regiões do país, adiantou ainda a ministra.

Indiciam-se várias explicações possíveis e uma delas é um padrão que encontramos em outros países que tem a ver com altas densidades populacionais e determinadas circulações, estilo de habitação, etc”

“O mais importante neste momento é continuar a trabalhar para romper cadeias de transmissão e nunca esquecer que a maioria dos novos casos, pelo menos em Lisboa e Vale do Tejo, são pessoas que nunca estiveram confinadas”, disse Marta Temido, acrescentando que “não se pode atribuir os novos casos ao desconfinamento. “Não sabemos em que percentagem é que essa interpretação deveria ser realizada, porque estamos numa circunstância em que ninguém consegue fazer essa prova cientifica”.

Sobre problemas no Hospital de Braga e a retoma da atividade assistencial não Covid, a ministra da Saúde referiu que se está a retomar esta atividade “lentamente e gradualmente” e que “essa é uma das grandes prioridades e preocupações”.

O que mais nos preocupa em Lisboa e Vale do Tejo é exatamente a dificuldade que daí advém em, com tranquilidade, poder retomar atividade não Covid”, afirmou Marta Temido, sublinhando, contudo, que não se verifica essa situação nas outras regiões do país, “onde foi determinado o reagendamento da atividade assistencial normal”.

A ministra considerou que o facto de “todos termos de fazer as coisas de maneira diferentes”, como por exemplo em termos de exames de pré-operatório ou até a circulação de utentes nas unidades, “demora mais tempo e leva a mais dificuldade” e isso “tem impacto na atividade assistencial e provavelmente tê-lo-á no Hospital de Braga”.