O segundo mandato do governador do Banco de Portugal termina formalmente esta quarta-feira, mas Carlos Costa irá manter-se em funções até à tomada de posse do seu sucessor, cargo para o qual o Governo indicou o ex-ministro Mário Centeno.

Nascido em 1949 em Oliveira de Azeméis, Carlos Costa chegou a governador do Banco de Portugal no verão de 2010, nomeado pelo governo socialista de José Sócrates para suceder ao ex-secretário-geral do PS Vítor Constâncio (que foi ocupar a vice-presidência do Banco Central Europeu). Seria reconduzido em 2015 pelo executivo PSD/CDS-PP liderado por Passos Coelho, cargo que termina esta quarta-feira mas apenas formalmente.

O atual mandato do governador Carlos da Silva Costa termina, formalmente, a 8 de julho de 2020, cinco anos após a decisão da sua recondução, a 8 de julho de 2015. Independentemente deste calendário, o governador mantém-se em funções até à tomada de posse do próximo governador do Banco de Portugal”, disse fonte oficial do Banco de Portugal à Lusa.

A 25 de junho, o Governo propôs ao Presidente da República nomear para governador o ex-ministro das Finanças Mário Centeno, o qual será ouvido esta quarta-feira no parlamento, na Comissão de Orçamento e Finanças.

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Os 10 anos de mandato de Carlos Costa como governador do Banco de Portugal, que estão prestes a chegar ao fim, foram intensos e polémicos, com a troika, a queda do BES e severas críticas de vários quadrantes políticos.

Licenciado em economia pela Universidade do Porto, Carlos Costa chegou ao Banco de Portugal com um percurso na banca (CGD – Caixa Geral de Depósitos e BCP), nas instituições europeias (coordenador dos Assuntos Económicos e Financeiros na Representação de Portugal junto da União Europeia e chefe de gabinete do comissário europeu João de Deus Pinheiro) e era então vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI).

Desconhecido para o grande público, a sua escolha foi elogiada e os primeiros anos foram relativamente pacíficos, apesar da intervenção da troika, de quem foi interlocutor e com quem teve que negociar matérias complexas e interesses divergentes, e da gestão do setor financeiro, incluindo a obrigação de alguns dos principais bancos recorrerem à ajuda pública em 2012 para se recapitalizarem (BCP, BPI, CGD).

Já o ano de 2014 ficou marcado pela queda e resolução do BES e do Grupo Espírito Santo (GES), com as consequências que lhe seguiram a tornar o seu percurso como governador conturbado. Foi acusado de supervisão ineficaz, de não ter afastado Ricardo Salgado atempadamente, de ter feito pequenos acionistas acreditar no banco apesar de já saber dos problemas. Sucederam-se então as manifestações de lesados do BES/GES, centenas de processos contra o Banco de Portugal, mas também alguns contra si pessoalmente, que continuam a correr nos tribunais.

Já em dezembro de 2015 lidou com a resolução de outro banco, ainda que mais pequeno: o Banif. Severas críticas de vários quadrantes políticos marcaram os últimos anos de Carlos Costa no cargo – sobre os caso BES e Banif mas também sobre a concessão de créditos problemáticos quando era administrador da CGD -, tendo mesmo sido falada a sua exoneração, que acabou por nunca acontecer, mantendo-se no banco central ancorado na proteção do Banco Central Europeu (BCE) e das leis que regem a sua função.

Em maio último, numa entrevista ao Expresso de fecho de mandato, o governador defendeu a independência do BdP, afirmando que é hoje uma “máquina rejuvenescida, com muito maiores competências, com uma estruturação muito forte, com um sentido de missão e um foco muito claro”. Questionado sobre Mário Centeno, afirmou que o ex-ministro “tem todas as condições para ser um grande governador do Banco de Portugal”.