Estamos habituados a que os filmes de espiões e de espionagem sejam feitos do “nosso” lado, com histórias, reais ou ficcionais passadas durante a Guerra Fria envolvendo agentes enviados em missões para os países de Leste, ou então perseguindo espiões comunistas, “toupeiras” ou agentes duplos nos EUA e na Europa Ocidental. “Wasp Network — Rede de Espiões”, do francês Olivier Assayas, inverte o ponto de vista habitual deste género. Apoiando-se no livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, do jornalista e escritor brasileiro Fernando Morais, Assayas conta a história real de um grupo de agentes secretos cubanos que se estabeleceram nos EUA, em Miami, nos anos 90, para vigiar, sabotar e neutralizar as organizações anticastristas formadas por exilados do regime comunista.

[Veja o “trailer” de “Wasp Network — Rede de Espiões”: ]

Édgar Ramiréz e Wagner Moura interpretam René González e Juan Pablo Roque, dois pilotos da Força Aérea cubana que fingem fugir do regime castrista (o primeiro até deixa a mulher, Olga – Penélope Cruz — e a filha pequena para trás, ambas julgando que ele é mesmo um traidor) para se instalarem na Florida e serem recrutados por organizações que precisam de pilotos para lançarem panfletos anticomunistas sobre Cuba, salvarem “balseiros”, cidadãos cubanos que tentam atingir os EUA em jangadas improvisadas, e apoiarem as ações de grupos paramilitares naquela ilha. O “terceiro homem” é Gael García Bernal, que faz Manuel Viramontez, um portoriquenho nascido nos EUA que, também instalado em Miami sob a capa de um dissidente, coordena todos os agentes da Vespa Vermelha, o nome da rede.

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[Veja uma entrevista com Olivier Assayas:]

Mas ao contrário de “Carlos”, o movimentado e empolgante filme (e minissérie) que Olivier Assayas realizou em 2010 sobre o terrorista venezuelano Carlos, “O Chacal” (também com Édgar Ramiréz), “Wasp Network — Rede de Espiões” peca por ser disperso, prolixo e muito explicativo, e por lhe faltar não só um centro dramático bem definido, na pessoa de uma das personagens principais em redor da qual toda a ação se organize, como também personalidade cinematográfica. Dir-se-ia um telefilme muito diligente e ilustrativo, mas anódino, que por acaso foi parar aos cinemas, e cujo realizador quer dizer e mostrar o máximo de coisas no tempo limitado de que dispõe, recorrendo em excesso à estenografia visual mais básica (muitos planos de gente a falar em bares, restaurantes e casas, muitas andanças de lancha e avião para cá e para lá).

[Veja o realizador e o elenco no Festival de Toronto:]

“Wasp Network — Rede de Espiões” também não é ajudado pelo facto de Olivier Assayas não querer escolher um lado e tentar manter-se neutro e equidistante em relação aos acontecimentos que recria, acabando por jogar com um pau de dois bicos. O filme mostra Cuba como o regime totalitário e de miséria que é na realidade, mas mete as organizações anticastristas no mesmo saco, pintando-as todas como responsáveis por ataques terroristas na ilha e envolvidas com o narcotráfico; e ora revela a dureza da vida quotidiana e a repressão política sob o regime castristas, ora é simpaticamente condescendente para com os “patriotas” que formam a rede Vespa Vermelha. Assayas parece querer estar confortável com Deus e com o Diabo.

[Veja uma cena do filme:]

O filme começa a abusar da nossa paciência quando, depois da prisão de González e dos outros agentes em Miami, se cola a Olga e às filhas e prolonga a faena lacrimejante da situação delicada em que esta fica, com o marido na cadeia e recusando-se a falar para ter a pena aligeirada, uma criança ainda bebé nos braços e arriscando-se a ser deportada para Cuba a qualquer momento. Começamos a olhar mesmo muito para o relógio, e isso é imperdoável num filme de espionagem.