A administração Trump informou os hospitais que a partir de quarta-feira teriam de enviar a informação relacionada com os doentes Covid-19 para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) e não para os Centros de Controlo e Prevenção de Doença (CDC), para onde os enviavam até agora. Os especialistas receiam que os dados oficiais possam ser escondidos ou manipulados.

O HHS defende que a utilização da plataforma TeleTracking Protect, desde que preenchida corretamente e diariamente pelos hospitais, permite evitar sobreposição de informação ou falta de dados e tem como objetivo a correta alocação de tratamentos, como o medicamento remdesivir, equipamentos de proteção individual e outros recursos.

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O atual diretor dos CDC, Robert Redfield, desvalorizou o impacto da mudança e disse que a agência ia continuar a ter o mesmo acesso aos dados, só não os recolhia, noticiou o STAT News. Mas quatro antigos diretores dos CDC dizem que nunca tinham visto um governo norte-americano desvalorizar tanto o papel da agência, sobretudo depois de, na última semana, ter agido contra as recomendações feitas em relação à abertura das escolas.

“Nós os quatro lideramos os CDC por um período de mais de 15 anos, abrangendo administrações republicanas e democratas. Não nos lembramos, no nosso mandato coletivo, de uma única vez em que a pressão política levou a uma mudança na interpretação das evidências científicas”, escreveram num artigo de opinião no jornal The Washingthon Post.

Não há um único estado ou território nos Estados Unidos a fornece publicamente dados completos sobre a Covid-19, como testes realizados, número de mortes, doentes recuperados, hospitalizações ou internamentos em cuidados intensivos ou enfermaria, segundo Projeto COVID Tracking, lançado pela revista The Atlantic, citado pela Science.

Eram os dados divulgados pelos CDC que permitiam aos especialistas em saúde pública, epidemiologistas e outros investigadores fazerem projeções e tomarem decisões críticas, lembrou o jornal The New York Times. Também era a divulgação pública dos dados que permitia o escrutínio por jornalistas e cidadãos.

É certo que a plataforma dos CDC tinha lacunas ou alguns dias de atraso — foi adaptada à pandemia e não criada especificamente para a situação —, mas o receio dos especialistas é que agora deixem totalmente de estar acessíveis. O segundo problema, é que os hospitais vão ter de aprender a trabalhar com uma nova plataforma, que pede mais dados, num momento em que os Estados Unidos voltaram a bater o recorde de número de casos diários (mais de 77 mil).