A chanceler alemã, Angela Merkel, disse este domingo ser “possível” que os líderes europeus, reunidos em Bruxelas pelo terceiro dia, não cheguem a acordo sobre a recuperação económica após a crise da covid-19, apesar de destacar a “boa vontade”.

“Há muito boa vontade, […] mas também é possível que nenhum resultado seja alcançado hoje”, afirmou Angela Merkel, falando à entrada da cimeira extraordinária de chefes de Governo e de Estado da UE, em Bruxelas.

Tendo sido a primeira a chegar ao edifício do Conselho Europeu, três horas antes do início da reunião, a chanceler descreveu o dia de hoje como “decisivo”, embora admitindo não conseguir determinar se “será encontrada uma solução” para o impasse político nas negociações.

Já o Presidente francês, Emmanuel Macron, considerou ser “ainda é possível” chegar a um “bom compromisso” na cimeira de líderes europeus sobre recuperação económica dada a crise da covid-19, mas avisou que os valores europeus não devem ser afetados.

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“Penso que ainda é possível chegar a um bom compromisso, mas esse compromisso não pode pôr em causa a ambição e os valores europeus. Existe vontade de chegar a acordo e de avançar. Vamos trabalhar num compromisso que seja aceite por todos”, declarou Emmanuel Macron, falando à entrada para uma reunião com a chanceler alemã, Angela Merkel, e os presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia à margem da cimeira extraordinária de chefes de Governo e de Estado da UE.

“Ainda existem questões para finalizar” como as condicionalidades no orçamento europeu relacionadas com o cumprimento do Estado direito e a governação do novo Fundo de Recuperação, esclareceu Macron. O Presidente francês reconhece que persistem “divergências e sensibilidades diferentes” sobre estas matérias, mas vincou que “é preciso mais do que nunca haver unidade na Europa”, dada a “crise inédita, em termos sanitários, económicos e sociais” criada pela pandemia.

Os líderes europeus partem hoje para o terceiro dia de cimeira em Bruxelas ainda longe de um compromisso sobre o plano de relançamento europeu, em boa parte devido às resistências dos chamados países ‘frugais’.

As dificuldades em chegar a um acordo

Ao cabo de dois dias intensos de negociações, o Conselho Europeu iniciado na sexta-feira de manhã na capital belga ainda não permitiu que os 27 se aproximassem o suficiente para a necessária unanimidade em torno das propostas sobre a mesa, de um orçamento da União para 2021-2027 na ordem dos 1,07 biliões de euros e de um Fundo de Recuperação de 750 mil milhões para ajudar os Estados-membros a superar a crise provocada pela pandemia da covid-19.

De acordo com diversas fontes europeias, o principal obstáculo a um compromisso continua a ser as exigências dos autodenominados países ‘frugais’, Holanda, Áustria, Suécia e Dinamarca — nalguns casos acompanhados da Finlândia -, pois a esmagadora maioria dos Estados-membros manifestou-se desde o início recetiva à proposta apresentada pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, muito semelhante àquela avançada pela Comissão Europeia em finais de maio.

Embora uma das questões delicadas das negociações pareça bem encaminhada, a da governação do Fundo de Resolução — a Holanda, que era o único país a fazer desta matéria uma ‘bandeira’, já aceita à partida a proposta de um “mecanismo travão” à autorização de pagamentos para casos extraordinários em que haja dúvidas sobre se determinado Estado-membro está a proceder às reformas necessárias –, são ainda muitas as diferenças que subsistem a impedir um acordo a 27.

Sendo que a questão da condicionalidade das ajudas ao respeito do Estado de direito ainda não está resolvida — Hungria e Polónia continuam desagradadas com o texto proposto, e as discussões prosseguem com vista a encontrar uma formulação que agrade a todas as partes –, o grande obstáculo a um entendimento é os montantes em jogo.