4, 5 e 6 de setembro na renovada Quinta da Atalaia no Seixal. Pelo menos é isso que está nos planos dos comunistas. Falta “apenas” saber se a situação epidemiológica da Covid-19 em território nacional, por essa altura, o permitirão. A pouco mais de dois meses da data anunciada, já com um cartaz renovado — que deu lugar apenas a artistas de língua portuguesa — o PCP decidiu responder às principais críticas de que tem sido alvo por ainda não ter optado por cancelar a edição deste ano da Festa do Avante! e estar já a preparar o espaço.
Numa nota publicada no site do partido, o PCP diz que deixar de fazer a Festa do Avante “apenas porque porque sob ela se lançou uma campanha mistificatória para instrumentalizar reais e naturais factores de preocupação (…) seria soçobrar a uma ofensiva reaccionária” que “passaria para outros patamares de limitação de liberdade e direitos”.
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PCP recusa ideia de que goza de “regime de exceção”
Sobre o cancelamento de festivais de verão, os comunistas dizem que “a proibição dos Festivais de Verão correspondeu a uma decisão adotada de acordo com os interesses específicos dos seus promotores face a problemas concretos que estes identificaram” e dá exemplo de “diversos eventos culturais que vão acontecer ao longo do verão deste ano: “Jazz ao ar livre em Leiria, o Jardim de Verão na Gulbenkian, programação do CCB, ‘Noites do Palácio’, no Porto”, citam.
O PCP diz depois que “não há qualquer exceção para o PCP” porque “a atividade política não está suspensa” e citam a nota de promulgação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que fez reparos sobre “a garantia do princípio da igualdade”. Escreveu Marcelo que “se uma entidade promotora qualificar como iniciativa política, religiosa, social que poderia ser encarado como festival ou espetáculo de natureza análoga, deixa de se aplicar a proibição”.
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PCP diz que “só quem não conhece a Festa” e o partido “pode avaliar a realização em função de objetivos financeiros
Aos críticos que dizem que o PCP insiste em realizar a festa para não perder uma das principais fontes de receita, o Partido Comunista Português responde que “só quem não conhece a festa e o PCP pode avaliar a sua realização e a conduta do PCP em função de objetivos financeiros”.
“A Festa do Avante! é, inegavelmente, a Festa de Abril e do povo, realizada a pensar no reforço da sua luta e dos seus direitos, como o testemunham as suas 43 edições. Neste momento da vida nacional é particularmente importante projetar a vida, a luta e resistência do povo português”, escreve o partido na nota numa das cinco respostas.
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Festa realizada “em defesa” dos direitos dos trabalhadores
Pelo menos é esse um dos argumentos dos comunistas que, mais uma vez, citam exemplos de outras festas ou eventos que também não foram cancelados. “Quando alguns têm direito a fazer festas na Quinta do Lago ou na Comporta, os trabalhadores são empurrados para transportes lotados para ir trabalhar, mas apenas para trabalhar”, começa por responder o PCP que acrescenta que “lazer, convívio e cultura não podem ser privilégios”.
“Para o PCP, os trabalhadores que apanham o autocarro cheio às 6 horas, os trabalhadores em layoff, os que foram despedidos, os que viram a sua atividade parar desde fevereiro e não têm rendimentos, todos têm direito a ter direitos”, apontam os comunistas em resposta a quem diz que a festa será realizada “apenas porque sim”.
Os comunistas não fazem a festa “porque sim”, mas porque, escrevem: “É urgente garantir salários dignos e por inteiro a quem trabalha, defender o direito à habitação, defender o SNS para todos, o direito à cultura e ao lazer. É em defesa de todos estes direitos que nos propomos realizar a Festa do povo, a Festa do Avante!”.
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A irresponsabilidade, PCP responde com irresponsabilidade
Já no que diz respeito às críticas sobre a irresponsabilidade de reunir no Seixal milhares de pessoas durante a pandemia da Covid-19, o PCP responde com a irresponsabilidade de outros: “Irresponsabilidade é impor a milhares de trabalhadores que circulem em transportes públicos sobrelotados” ou a “falta de condições sanitárias” nos locais de trabalho ou a “habitação precária” em que muitas famílias vivem.
“Irresponsabilidade são os ataques desferidos ao SNS durante décadas”, aponta o PCP respondendo às críticas na mesma moeda: com mais críticas e retoma o argumento da importância das Festa pela “defesa dos trabalhadores”.
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A bomba em 1976
Em 1976 estavam a terminar os preparativos para a realização da primeira Festa do Avante!, quando uma explosão numa cabine elétrica deixou todo o recinto e o quarteirão circundante completamente às escuras. O PCP tem poucas dúvidas de que se tratou de um ataque para boicotar o evento. A solução foi recorrer a um gerador da EDP para que a festa se realizasse.
Primeira Festa do Avante! entre uma bomba e um Governo socialista
Mas 44 anos depois o incidente volta, para justificar o porquê de o PCP argumentar que as vozes mais críticas que se têm ouvido são um “ataque ao partido”. “O ataque à festa é apenas uma expressão de um objetivo de sempre das forças reacionárias: o de pôr em causa o exercício de direitos políticos e mais em particular a atividade do PCP e sindical”, escreve o PCP acrescentando que ao longo dos anos se têm mantido “as tentativas várias” de impedir a festa, nomeadamente no que diz respeito à disponibilização de terreno — que terminou com o PCP a comprar o espaço onde a Festa do Avante! se realiza há várias décadas.
“A campanha contra a Festa, agora a pretexto da Covid-19, é apenas um momento mais visível dessa intenção como se viu com as comemorações do 25 de Abril, a jornada do 1º de Maio ou o comício do PCP no Parque Eduardo VII”, termina na nota o PCP, provando que caso as autoridades de saúde validem a realização, de acordo com as normas sanitárias, a Festa do Avante! será mesmo aberta no dia 4 de setembro.