Análises a amostras de esgotos de Lisboa, Cascais, Vila Nova de Gaia e Guimarães sugerem que o coronavírus da Covid-19, detetado nos efluentes não tratados, é eliminado nas estações de tratamento, divulgou esta segunda-feira a Águas de Portugal.
Para o estudo foram analisadas mais de 200 amostras de esgotos recolhidas à entrada e saída de cinco estações de tratamento que servem cerca de 20% da população nacional e zonas com elevada prevalência de infeções, segundo um comunicado do grupo Águas de Portugal (AdP), que coordenou o trabalho.
Os resultados apontam para “a ausência de material genético” do coronavírus SARS-CoV-2 “no efluente tratado”, o que, de acordo com o comunicado, “sugere que as etapas do tratamento são eficientes” na remoção do vírus dos esgotos.
O grupo AdP adianta que, apesar de ter sido detetado material genético do novo coronavírus nos esgotos à entrada das estações de tratamento, “não significa” que o SARS-CoV-2 “se encontre infecioso ou ativo e que se possa propagar” pela água.
De facto, não existe evidência à data da possibilidade de infeção por SARS-CoV-2 através desta via”, assinala a nota, sublinhando que as cargas virais encontradas nas amostras de esgotos, antes de serem tratados, são “proporcionais às concentrações reportadas por estudos semelhantes em curso noutros países”.
O trabalho monitorizou, adicionalmente, a circulação do vírus nas redes de drenagem de esgotos dos hospitais Curry Cabral, em Lisboa, Eduardo Santos Silva, em Vila Nova de Gaia, e Senhora da Oliveira, em Guimarães.
Numa fase subsequente, o grupo AdP e os seus parceiros no projeto vão realizar estudos de “associação das cargas virais detetadas” com a população infetada em cada área servida por uma das cinco estações de tratamento de esgotos e com os doentes internados nos três hospitais.
Este processo visa estabelecer correlações entre a população infetada, que potencialmente excreta vírus através das fezes e das secreções orofaríngeas, com as cargas virais em circulação nos sistemas de saneamento”, refere a Águas de Portugal.
O trabalho coordenado pela AdP insere-se no projeto “Covidetect”, lançado em abril com o propósito de monitorizar a circulação do vírus da Covid-19 na comunidade mediante a vigilância dos sistemas de saneamento, e assim mitigar os efeitos de novos surtos da doença respiratória.
O grupo AdP conta com a parceria científica da Faculdade de Ciências e do Instituto Superior Técnico, ambos da Universidade de Lisboa, além de entidades gestoras de sistemas de saneamento.
A Direção-Geral da Saúde, a Agência Portuguesa do Ambiente e a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos integram o conselho consultivo do projeto, que decorre até março de 2021.