Em abril de 2001, há mais de 19 anos, Sarina Wiegman tornou-se a primeira holandesa a representar a seleção do país em 100 ocasiões. Não a primeira jogadora — a primeira holandesa. Ou seja, até Sarina, ninguém, homem ou mulher, tinha representado 100 vezes a seleção de futebol da Holanda. Dois dias depois do jogo histórico contra a Dinamarca, foi homenageada e recebeu uma placa comemorativa das mãos de Louis van Gaal, o então selecionador da equipa masculina. “Tenho muito respeito pela Sarina. Para os homens, está tudo organizado. Isto é muito mais difícil”, disse o treinador na altura. 19 anos depois, Sarina continua à procura do que ainda não foi feito.
A atual selecionadora da Holanda, campeã da Europa em título e vice-campeã mundial, é a preferida da Federação inglesa para suceder a Phil Neville no comando da equipa de futebol feminino. O ainda selecionador, antigo jogador do Manchester United e irmão de Gary Neville, anunciou em abril que não iria permanecer no cargo depois do final do contrato, em julho de 2021, e a busca por um sucessor começou desde logo. Com um lote de candidatos bastante extenso, a BBC garante que a decisão da Federação está a cair principalmente em Sarina Wiegman por ser alguém habituado a lutar por troféus — algo que Inglaterra, apesar de tudo, ainda não conseguiu fazer, ao cair nas meias-finais tanto do último Europeu como do último Mundial.
Internacional holandesa dos 16 aos 32 anos, ou seja, de 1987 a 2001, Sarina fez toda a carreira profissional no Ter Leede, até terminar a carreira em 2003 e depois de ficar grávida do segundo filho. O ano mais importante da carreira, porém, foi logo no início: na China, no final dos anos 80, conheceu Anson Dorrance, o então selecionador norte-americano, que a convidou para estudar na Universidade da Carolina do Norte e explorar o programa de futebol feminino da escola. Aceitou, integrou a equipa da universidade e jogou ao lado de nomes como Mia Hamm ou Kristine Lilly, que acabaram por ser dos elementos mais importantes da modalidade nos anos 90.
Em 2006, três anos depois de deixar os relvados, foi convidada para assumir o comando do Ter Leede, onde tinha jogado. Conquistou um campeonato holandês e uma Taça da Holanda e saiu no ano seguinte, para o Den Haag, onde foi novamente campeã nacional em 2012. Em agosto de 2014, foi convidada para integrar a equipa técnica da seleção holandesa como treinadora adjunta e anunciou desde logo que iria tirar o curso necessário para obter a licença da UEFA — tornando-se apenas a terceira holandesa a fazê-lo, na altura.
Um Mundial que não tem a melhor do mundo e é o mais importante de sempre. Mas porquê?
Chegou a ser treinadora interina, entre o despedimento de Roger Reijners e a chegada de Arjen van der Laan, mas só em janeiro de 2017 é que assumiu o cargo de forma permanente. Nessa altura, já tinha estagiado no Sparta Roterdão, acabando por referir que tinha o objetivo de levar o profissionalismo e a exigência do futebol masculino para a vertente feminina. Seis meses depois de passar a liderar a equipa e no torneio organizado em casa, a selecionadora levou a Holanda à conquista do Campeonato da Europa ao ganhar todos os jogos da competição. Foi a primeira vitória internacional da seleção feminina e apenas a segunda do futebol holandês, depois de Rinus Michels ter levado Van Basten, Gullit e companhia à conquista do Euro 88.
No verão passado, a Holanda voltou a ser um dos destaques de uma grande competição — com nomes como Martens, Miedema e Van de Donk — e chegou à final do Mundial de França, perdendo apenas com os Estados Unidos no jogo decisivo. Apesar da derrota, a Federação holandesa anunciou que uma representação de Sarina Wiegman seria colocada no jardim das estátuas da sede da organização, tornando-se a selecionadora a primeira mulher a receber esta distinção.
Holanda é campeã europeia de futebol feminino depois de vencer a Dinamarca por 4-2
19 anos depois de escrever a tinta permanente o próprio nome na história do futebol holandês, Sarina Wiegman está à beira de dar mais um salto na carreira e assumir a seleção que nesta altura tem como principal objetivo contestar o poderio dos Estados Unidos. O único obstáculo, à partida, serão os Jogos Olímpicos: a selecionadora ainda quer orientar a Holanda em Tóquio, no próximo ano, e o contrato de Phil Neville expira antes do final da competição. A alternativa, segundo o The Times, é Jill Ellis, a norte-americana que orientou os Estados Unidos até ao ano passado e que conquistou os dois últimos Mundiais.