O sexto lugar alcançado na Rep. Checa foi o melhor resultado de Miguel Oliveira no MotoGP mas o facto de Brad Binder ter conseguido na prova a primeira vitória de sempre da KTM no principal escalão acabou por levantar uma pergunta ao português na conferência de imprensa de lançamento do Grande Prémio da Áustria, no Red Bull Ring de Spielberg: houve algum sentimento de frustração por não ter sido ele a alcançar o feito? “Não, nada”, disse.

Miguel Oliveira recusa ter ficado frustrado por não ter vencido GP da República Checa

“Todos os pilotos querem dar a primeira vitória à fábrica que representam. Não me comparo ao Brad [Binder] ou ao Pol [Espargaró], até porque acho que o Pol gostaria de ter dado à KTM a sua primeira vitória, pois está lá desde o início. E não me sinto menos piloto por não ter ganhado a primeira corrida pela KTM, temos é de nos concentrar em aproveitar as próximas oportunidades”, salientou, voltando também a destacar que a saída do 13.º lugar da grelha também condicionou a obtenção de outra posição. “É difícil ter de ultrapassar alguns pilotos, conseguir fazer ultrapassagens inteligentes e não andar para trás não é fácil. Olhando para os dados da corrida, tínhamos ritmo para lutar pelo pódio, o que acaba por ser positivo”, destacou, entre os os parabéns a Binder.

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Mais um feito histórico: Miguel Oliveira termina em sexto na Rep. Checa e consegue melhor classificação de sempre

Pelos resultados, pelos tempos ou pela resposta da moto, Miguel Oliveira atravessava um dos períodos de maior confiança no MotoGP a que se juntou ainda a confirmação do Autódromo Internacional do Algarve como última corrida do calendário de 2020. Em entrevista à Rádio Observador na segunda-feira, Jorge Viegas, presidente da Federação Internacional de Motociclismo, contava uma história que dizia muito sobre o estado de espírito do piloto português: “Depois de ter terminado o Grande Prémio da Rep. Checa no sexto lugar, enviei-lhe uma mensagem de parabéns e ele respondeu a dizer: ‘Presidente ganho já a próxima corrida ou guardo-me para Portimão?’. Se fiz um pedido especial? Sim, claro que sim, mas isso agora fica só entre mim e ele”.

[Ouça aqui a entrevista de Jorge Viegas à Rádio Observador]

MotoGP em Portugal. “Ganho a próxima corrida ou guardo-me para Portimão?”

Depois de ter feito o sétimo melhor tempo na primeira sessão de treinos livres, o terceiro melhor na segunda sessão e o quinto melhor na terceira sessão, Miguel Oliveira passou por cima da Q1 e mostrava ritmo para discutir aquele que seria mais um resultado histórico, depois de ter largado no quinto posto na Andaluzia. A ideia acabou por não se confirmar, com o português a terminar com o 11.º melhor tempo à frente de Valentino Rossi mas a 0.489 de Maverick Viñales, que chegou à pole position. Entre KTM, equipa de fábrica e satélite Tech3, Pol Espargaró deu continuidade ao bom momento da marca com uma quarta posição só atrás de Viñales, da surpresa Jack Miller e do líder do Mundial Fabio Quartararo, ao passo que Brad Binder não foi além de uma 17.ª posição, logo seguido pelo jovem Iker Lecuona, que não terminou a última prova mas que teve um bom andamento este sábado.

Miguel Oliveira parte do 11.º lugar para o GP da Áustria de MotoGP

“Foi uma qualificação difícil com todos os pilotos muito perto. Já não era fácil fazer um bom tempo por volta na FP4, as minhas sensações não eram perfeitas. Conseguimos fazer algumas alterações na moto mas não foi o suficiente para conseguir ser um pouco mais rápido. Ainda assim, o nosso ritmo é muito bom e será interessante. Espero que possamos fazer uma boa largada, ficar longe dos problemas nas primeiras voltas e realizar uma boa corrida na casa da KTM”, concluiu o piloto português que teve neste Red Bull Ring o melhor resultado na época passada, com um oitavo lugar que era até ao início de 2020 o registo máximo no MotoGP.

Um pouco como tentou fazer na Andaluzia, onde ficou fora de prova na primeira curva depois de um toque de Brad Binder na roda traseira, Miguel Oliveira tentou sobretudo evitar males maiores na saída, onde conseguiu ainda assim subir uma posição apesar de ter sido ultrapassado por Rossi. Lá na frente, Quartararo voltou a ter um arranque para esquecer, descendo ao oitavo posto, e Jack Miller saltou para a liderança à frente de Dovizioso e Viñales, mais uma Yamaha a brilhar na qualificação mas que não conseguiu dar continuidade no arranque – o espanhol foi descendo lugares, baixou para quinto e foi ainda ultrapassado por Quartararo quando arriscou subir mais posições. Pol Espargaró conseguia também confirmar as boas indicações, saltando para segundo.

Este seria mesmo mais um Grande Prémio para as KTM de fábrica e satélite brilharem: Pol Espargaró conseguiu saltar para a liderança da prova à sétima volta, Brad Binder ia escalando lugares quase até ao top 10 e Miguel Oliveira dava espetáculo no Red Bull Ring, fazendo mesmo a volta mais rápida da corrida ainda no primeiro terço de prova e quando estava já num inédito quinto lugar, depois de ultrapassar “pesos pesados” como Morbidelli, Quartararo (com muitos problemas na moto desde início), Rossi ou Viñales. Seguia-se Joan Mir, o quarto, que estava a 1.3 segundos mas que em pouco tempo ficou a metade do tempo da distância enquanto Espargaró ia ganhando espaço e Dovizioso e Miller lutavam pela segunda posição. Estava a ser mais uma corrida de sonho para o português até surgir uma bandeira vermelha após uma violenta colisão entre Morbidelli e Zarco.

(e agora um parênteses porque há coisas mais importantes. Já depois de um arrepiante acidente Hafizh Syahrin na prova de Moto2, que obrigou à interrupção da prova com o piloto malaio a sair consciente mas com lesões que o obrigaram a seguir de maca para uma unidade hospitalar, o toque entre Morbidelli e Zarco com as duas motos depois a voarem e uma delas a passar a rasar a cabeça de Valentino Rossi acabou por ser um milagre com ambos os pilotos a saírem sem grandes sequelas e mais ninguém atingido – e isso é o mais relevante)

O Grande Prémio da Áustria tinha mais um arranque para as últimas 20 voltas, o que acabou por baralhar tudo por completo em relação às posições originais antes do acidente: Jack Miller saltou para a frente antes de Espargaró recuperar a liderança, Alex Rins a colocar-se na quarta posição e Miguel Oliveira a ficar em sexto, com Rossi atrás de si. O espanhol ainda foi de novo ultrapassado pelo português mas recuperou a quinta posição, com Brad Binder entretanto a ultrapassar Rossi no limite do risco e a subir ao sétimo posto, atrás do piloto de Almada. As KTM voltavam a ser a grande revelação apesar da queda de Pol Espargaró na classificação, passando de primeiro a quarto em pouco tempo, as Yamaha a grande desilusão em corrida depois dos tempos anteriores e o Falcão ia seguindo na sexta posição mas a olhar para as lutas à sua frente e a encurtar um pouco a distância.

Depois, tudo mudou: Miguel Oliveira envolveu-se num acidente com Pol Espargaró quando ia ultrapassar em curva o espanhol em queda livre na classificação, ficaram ambos fora de prova e o português não esconder a fúria quando chegou à sua zona de boxes, dando alguns pontapés perante a frustração de uma corrida que lhe podia ter valido mesmo pódio, depois da queda de Álex Rins e a quebra de andamento de Jack Miller e Joan Mir (no final o espanhol acabou por ultrapassar o australiano quando tinha a segunda posição controlada) que permitiu a Dovizioso, na semana em que se soube que não vai continuar na Ducati, saltar de vez para a liderança com Brad Binder à beira do pódio depois de ter sentido muitas dificuldades nos treinos livres e na qualificação. Na única repetição do embate, a ideia que dá é que Pol Espargaró voltou a alargar em demasia a trajetória, quis voltar para dentro quando ia ser ultrapassado e é aí que se dá a colisão com a moto de Oliveira já a deslizar nessa fase.