Houve as penalizações a Lewis Hamilton na Áustria ou o pneu furado a três voltas do final na Grã-Bretanha mas as quatro primeiras corridas do Mundial de Fórmula 1 tiveram o condão de prolongar mais o domínio da Mercedes em relação às restantes equipas. Eram eles e os outros, como se os outros lutassem entre si apenas por um lugar no pódio esperando que alguma coisa de anormal acontecesse com eles. E essa foi a principal notícia saída do Grande Prémio do 70.º Aniversário: uma estratégia arrojada mas vencedora na escolha de pneus e uma boa tática que se fosse adaptando ao que se passava também na corrida poderia permitir que se desafiasse a formação britânica. Foi isso que Max Verstappen, da Red Bull, fez com sucesso. Mas seria uma exceção ou uma regra?

“Ataca, gere, diverte-te”. Verstappen ganha asas com estratégia da Red Bull em Silverstone (mas Hamilton continua nas nuvens)

Os treinos livres e a qualificação começaram a dar entender que era um exemplo solto e sem grande margem para ficar. Aquela imagem de Hamilton a chegar ao fim da última corrida, a ir cumprimentar Bottas, que ultrapassou a três voltas do final, e a ir olhar para o estado em que os pneus cortaram a meta antes de ver também a diferença que existia em relação aos de Verstappen, parecia fazer já parte de um passado longínquo, ainda que a 92.ª pole position da carreira e a 150.ª saída da primeira linha da grelha de partida não fosse um carimbo de sucesso.

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“Tenho certeza que a equipa vai trabalhar ao máximo agora porque nunca tinha acontecido algo assim. Imagino que provavelmente a Pirelli estava a sofrer com falhas de pneus na semana passada e, de um fim de semana para o outro, aumentaram a pressão, e aumentaram, e aumentaram. Eles agora são balões, são as pressões mais altas que nós já tivemos numa pista como essa. Não sei se alguém mais sofreu com bolhas como nós, temos de ir investigar”, tinha comentado Hamilton na semana passada, de uma forma mais “polida” do que o companheiro de equipa Valtteri Bottas, que criticou a estratégia da Mercedes para a corrida em comparação com a Red Bull. “Não encontrei nenhum problema nos pneus até agora mas esta situação também ocorreu nos treinos livres da última semana, pelo que não podemos confiar tanto assim”, salientou no início da semana, em Espanha.

“Está definitivamente muito difícil, é o tempo mais quente que já apanhei aqui. Não acho mesmo que já tenha estado em Espanha com tanto calor. Estamos aqui em fevereiro e março normalmente, ou no início de maio. O tempo está lindo mas a temperatura é assassina com o carro e é difícil para os pneus também”, acrescentara, já a olhar para a melhor estratégia a ser delineada para a corrida. “Tem de se olhar com bastante cautela quais serão os pneus serão utilizados. Por enquanto não podemos ainda concluir qual estratégia será utilizada, ninguém sabe se teremos um ou dois pit stops”, assumiu Hamilton, naquela que seria a maior dúvida no Grande Prémio de Espanha mas, em paralelo, a chave para alargar a liderança no Mundial ou dar outra esperança aos adversários.

Para o britânico, tudo correu bem; para o finlandês nem por isso. Com um arranque muito sólido, Lewis Hamilton segurou a liderança da corrida enquanto Bottas se viu envolvido por um ataque da Racing Point que colocou Lance Stroll à sua frente, o regressado Sergio Pérez a arriscar também a ultrapassagem e Max Verstappen a aproveitar essas lutas para saltar para o segundo lugar. À sétima volta Bottas já estava em zona de pódio mas entretanto tinha perdido tempo que condicionou o resto da corrida antes se entrarmos na fase do “comboio” furada um pouco mais tarde pela luta que colocava Albon como protagonista na zona fora dos pontos.

A grande dúvida, essa, não demorou a ser desfeita: não seria pelos pneus que a Mercedes teria dificuldades, pelo menos comparando com o que aconteceu em Silverstone na semana passada. E foi o próprio Verstappen que veio assumir isso mesmo nas comunicações com a equipa, dizendo que os pneus traseiros estavam a dar problemas e que teria mesmo de ir para as boxes já depois de a Red Bull ter percebido como funcionavam os duros em Albon. Se Hamilton ia conseguindo aumentar a sua vantagem, Bottas aproximava-se de Verstappen. E as atenções dividiam-se entre a possibilidade de chover ainda antes do final da corrida e mais um episódio de uma época muito aquém da Ferrari, com Charles Leclerc a fazer um peão quando estava em nono e a ter pouco depois de desistir.

O finlandês forçou ao máximo o andamento mas não conseguiu sair à frente de Verstappen quando passou pelas boxes, ficando a sete segundos do holandês que teima em desafiar o domínio da Mercedes e que mais uma vez fez uma grande corrida, terminando numa segunda posição que permitiu aumentar a diferença no segundo lugar da classificação para Bottas mesmo vendo Lewis Hamilton destacar-se ainda mais com a quarta vitória em seis corridas na presente temporada, a que juntou ainda uma segunda posição em Silverstone e um quarto posto na Áustria, naquela que foi a 88.ª vitória em Grandes Prémios, a três do recorde de Michael Schumacher. E se o britânico temia o sol e o calor em pista (na ordem dos 50º), acabou a celebrar quase à chuva, com a parte norte do circuito a ser apanhada por uma nuvem mais carregada que condicionou as táticas das equipas no final mas que não evitou que Hamilton dobrasse Vettel quando o alemão estava então na quinta posição.

O germânico desceria a sexto ultrapassado com grande facilidade por Lance Stroll e passaria para sétimo depois de ser superado por Carlos Sainz. Essas seriam as únicas mudanças de relevo entre os primeiros classificados até ao final, que confirmou o triunfo de Lewis Hamilton ainda que sem Grand Slam, com Bottas a sacar ainda a volta mais rápida para assegurar mais um ponto. O britânico mantém assim os seis Grand Slams, a dois de Jim Clark (oito entre 1962 e 1965) naquele que é ainda hoje o recorde mais antigo no mundo da Fórmula 1 mas que pode em breve ser também alcançado. Com sol ou chuva, este é o tempo de Hamilton. E só mesmo uma grande tempestade na segunda metade da temporada poderá evitar que o piloto da Mercedes iguale os sete títulos de Schumacher. Para já, houve outro recorde do alemão superado: o britânico conseguiu chegar ao pódio pela 156.ª vez.