Um valor acrescentado anual de 38 milhões a 262 milhões de euros para a economia portuguesa, que pode chegar aos 740 milhões de euros com efeitos indiretos, a criação de até 5350 empregos, que podem ir até ao 13 mil  indiretos, e a redução de até 3,5% das importações, são alguns dos impactos positivos que o projeto português de hidrogénio verde pode trazer.

Os números fazem parte de um estudo elaborado pela FCH Joint Undertaking, uma parceria público privada para o desenvolvimento do hidrogénio que junta a Comissão Europeia, representantes da indústria e da comunidade científica. Foi o estudo realizado por esta entidade para Portugal, intitulado “Oportunidades para as tecnologias energéticas de hidrogénio face aos planos nacionais de energia e clima (tradução portuguesa do original em inglês), que o secretário de Estado da Energia, João Galamba, invocou para responder às críticas apontadas pelo vice-presidente do PSD, Salvador Malheiro, sobre o plano nacional de hidrogénio.

João Galamba: nova polémica no Twitter por causa do hidrogénio verde (agora com vice do PSD)

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As estimativas de valor acrescentado para a economia portuguesa calculadas no documento resultam da soma dos salários dos trabalhadores empregados nesta indústria, das margens de negócio das empresas envolvidas, e dos impostos e taxas entregues ao Estado. Para um valor acrescentado em termos indiretos entre os 92 e os 740 milhões de euros, máximo que seria alcançado num cenário elevado, o estudo adianta que o número representa mais de dois terços do investimento anual necessário para implementar a estratégia nacional para o hidrogénio.

O investimento previsto nos vários cenários oscila entre os 146 e os 970 milhões de euros, mas o documento não detalha das fontes de financiamento, nem os apoios públicos que o Governo defende no seu plano, referindo apenas a disponibilidade de fundos europeus. Os investimentos acumulados nas tecnologias do hidrogénio podem variar entre 1,1 mil milhões e 7,3 mil milhões de euros.

De acordo com a FCH JU, a maior fatia do valor acrescentado a criar, e dos empregos previstos, deverá resultar da construção e operação de fontes de energia renovável dedicadas (painéis solares) e processadores de eletrólise (o hidrogénio resulta da eletrólise para qual é necessária energia) e pela construção e operação de redes de transporte e armazenamento. O impacto no emprego estimado varia entre 630 e os 5340 postos de trabalho diretos entre 2020 e 2030, que podem gerar mais 1870 a 13100 empregos indiretos, no cenário mais otimista.

João Galamba usou em particular o estudo da FCH JU (Fuel Cells and Hydrogen Join Undertaken) para refutar os argumentos de que a estratégia do Governo estaria a deixar para trás a necessidade de investimentos prévios nas redes de distribuição de gás e o impacto que isso teria em termos de custos para os consumidores ou contribuintes.

No caso das redes, o referido estudo defende que a infraestrutura de gás (gasodutos e rede de distribuição) está preparada para receber uma mistura de hidrogénio (que também é um gás, mas que seria produzido a partir de fontes renováveis de eletricidade) na rede pública, num horizonte entre 2025 e 2030. A médio prazo, esta rede pode ser convertida para receber apenas hidrogénio, já que a rede de distribuição de gás tem uma percentagem relativamente elevada de polietileno, o que permite a sua conversão para hidrogénio com um custo relativamente baixo. A necessidade de converter as redes de distribuição para acolher pipelines exclusivos de transporte de hidrogénio só se colocaria a longo prazo, na medida em que a quantidade de hidrogénio a injetar na rede de gás seria relativamente pequena até 2030.

O estudo defende ainda que Portugal tem um potencial de produção de energia renovável substancialmente mais elevado do que a capacidade de produção instalada prevista para 2030, o que cria uma oportunidade significativa de mobilizar uma parte dessa potência renovável para produzir hidrogénio. Isto num quadro em que a capacidade de interligação com outros países (Espanha e Marrocos) continua relativamente limitada, o que trava as exportações, dada a localização periférica do país.

O principal cliente do hidrogénio verde seria a indústria de uso intensivo de energia, que hoje recorre ao gás natural, bem como as refinarias, contribuindo assim para o processo de descarbonização da economia. Numa segunda fase, também o setor dos transportes, rodoviários e ferroviários, entraria na cadeia do hidrogénio. Os cenários referidos admitem que o número de carros elétricos que poderiam ser abastecidos com recurso a este combustível oscile entre os mais de 50 mil e mais de 100 mil até 2030, o que exigiria uma rede de abastecimento com 100 a 200 postos, consoante o cenário. Já no segmento doméstico e dos serviços, o hidrogénio pode ser usado em soluções alternativas de aquecimento e refrigeração de edifícios.

A redução adicional de emissões de gases de efeitos de estufa poderia variar entre 1,2% e os 6,5% até 2030.