The winter is coming. O tom é de alerta, mas com um toque de tranquilidade. Primeiro, os factos: o inverno está a chegar e “os seres humanos adoecem mais no inverno”; o início da estação mais fria coincide com o início do novo ano letivo e, ao contrário do que aconteceu em março, as escolas não vão poder “fechar na totalidade”; as empresas e as atividades empresariais também não vão voltar a parar, como aconteceu em março, porque isso significaria a “destruição coletiva do funcionamento da sociedade”; logo, o pior pode estar a chegar. Por outro lado, há outros factos: ao contrário de março, hoje todos usam máscara, todos lavam as mãos várias vezes ao dia e todos usam desinfetantes, logo, “a comunidade está melhor preparada”. A conclusão é o lema de sempre: “Desejar o melhor mas estar preparado para o pior”.

Foi esta a mensagem que o primeiro-ministro António Costa levou preparada para dizer perante os jornalistas no final de uma visita ao centro hospitalar de Gaia a propósito da inauguração de um novo serviço de internamento. “Temos de viver com o vírus com a consciência de que não vamos ter no próximo ano a capacidade de resposta que tivemos em março quando as escolas encerraram”, começou por dizer. Mas depois acrescentaria: “Temos de viver com o vírus” também com a consciência de que “estamos melhor preparados” e de que “temos de continuar a robustecer o SNS para ser capaz de responder ainda melhor em caso de necessidade”.

“O vírus é muito novo e ninguém sabe exatamente como se comporta. Mas há uma coisa que sabemos: os seres humanos adoecem mais no inverno do que na primavera e no verão, por isso temos de nos preparar para o outono e inverno e temos de nos preparar com a consciência de que não vamos poder ter no próximo ano a capacidade de resposta que tivemos em março quando decidimos encerrar as escolas, porque o ano letivo que vamos abrir não pode decorrer com a escolas de novo totalmente encerradas. Também não vamos poder voltar a encerrar totalmente as empresas, e as atividades empresariais, porque isso significaria milhares de postos de trabalho em risco e a destruição coletiva do funcionamento da nossa sociedade. Por isso vamos ter de olhar para o futuro com a realidade de que vamos ter de viver com o vírus”, disse em declarações aos jornalistas.

Daí a necessidade de inaugurar mais alas de internamento, como aquela de Gaia, e de continuar a “fortalecer o SNS” com meios de resposta para o caso de haver “necessidade”. “É preciso que os portugueses tenham a confiança de que vamos viver com o vírus mas que o nosso SNS está preparado e está a reforçar-se para poder dar uma resposta caso venha a ser necessária”, sublinhou.

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Vacina vai ser gratuita e universal, garante Costa

Traçado o cenário, António Costa aproveitou o momento para fazer um anúncio sobre a tão desejada “luz ao fundo do túnel”: o Conselho de Ministros, por via eletrónica, aprovou esta quinta-feira uma autorização de investimento de 20 milhões de euros em contratos de aquisição de vacinas contra a Covid-19, no âmbito de um programa conjunto coordenado pela União Europeia. Trata-se da aquisição de um primeiro lote de 6,9 milhões de vacinas e, segundo afirmou António Costa aos jornalistas no final da visita, a ideia é que os critérios que serão definidos pela DGS para a vacinação caminhem no sentido de uma vacinação “progressiva, universal e gratuita”.

Segundo o jornal Público, os 6,9 milhões de vacinas são a quota a que Portugal tem direito no processo de aquisição conjunta de um lote de 300 milhões de doses já reservado pela União Europeia (UE) à farmacêutica AstraZeneca, que está a desenvolver uma vacina em conjunto com a Universidade de Oxford. A vacina ainda está em fase de testes e ainda não é certo se as doses serão individuais, sendo que, se forem, este primeiro lote daria para dois terços da população portuguesa.

“O Estado português associa-se assim à aquisição de vacinas contra a doença Covid-19 no âmbito do procedimento europeu centralizado, sendo que a Resolução do Conselho de Ministros hoje aprovada corresponde à primeira fase dos procedimentos aquisitivos, a realizar em 2020, assegurando a aquisição de 6,9 milhões de doses e assumindo como referência a estratégia nacional e correspondentes populações-alvo a definir pela Direção-Geral da Saúde”, lê-se no comunicado do Conselho de Ministros, onde se acrescenta que o modelo de aquisição de vacinas por cada Estado-membro foi aprovado por decisão da Comissão Europeia.

Falando aos jornalistas no final da visita ao Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, o primeiro-ministro falou no facto de hoje ser um “dia importante” por ser aquele em que “demos um passo fundamental” no sentido de caminhar para o objetivo desejado: o dia em que haverá uma vacina “desenvolvida pela ciência e comercializada e distribuída por toda a população”. “A União Europeia coordenou uma aquisição conjunta e hoje autorizamos já, no Conselho de Ministros eletrónico, o primeiro lote de 6,9 milhões de vacinas por via desse processo de aquisição em curso”, disse, sublinhando que se trata de uma aposta da UE em “seis das diversas vacinas” que estão a ser desenvolvidas, sendo aquelas que são consideradas pela comunidade científica as mais promissoras.

O primeiro-ministro disse ainda que só os “otimistas” acreditam que no final do ano haverá já a disponibilização desses primeiros lotes, mas afirmou que o papel dos “realistas” é “acreditar” que isso pode acontecer, mas estar preparados para o caso de isso não acontecer já num futuro tão próximo. Quando isso acontecer, Costa adiantou ainda que o caminho será a definição de critérios para uma “vacinação progressiva, universal e gratuita”. Mas até lá, cabe ao SNS manter-se preparado para reagir ao inverno.