Dezenas de indígenas brasileiros estão determinados em continuar com o bloqueio de uma estrada estratégica para o transporte de mercadorias na Amazónia, até que o governo atenda às suas reivindicações em relação à Covid-19 e à desflorestação.

O bloqueio, que tinha sido suspenso na terça-feira, foi esta quinta-feira retomado pelos indígenas da tribo Kayapo Mekranoti, que estão armados com arcos e flechas na estrada BR-163, perto da cidade de Novo Progresso, no norte do Brasil.

Os membros da tribo indicaram esta quinta-feira que não pretendem voltar a levantar o bloqueio para permitir, ocasionalmente, a passagem de veículos pesados de mercadorias, como fizeram nos últimos dois dias.

Vamos ficar aqui até que o governo mande emissários para falar connosco”, disse à AFP um dos líderes tribais, Mudjere Kayapo.

A BR-163 é uma importante rota para o escoamento de grãos de soja e milho da região do centro-oeste brasileiro até aos portos fluviais da Amazónia, antes da sua exportação, especialmente para a China.

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Na segunda-feira, a juíza federal Sandra Silva ordenou o levantamento do bloqueio, feito com pneus e troncos de árvores, alegando “transtornos” causados à “economia regional” e aos “utilizadores da via”. Na quarta-feira, a magistrada rejeitou um apelo dos Kayapos Mekranoti e autorizou o uso de força policial para a desocupação da BR-163, no estado do Pará.

“Não queremos lutar. Mas não vamos permitir que o exército ou a polícia venham aqui e nos retirem à força. Se isso acontecer, vai ser derramado sangue no asfalto”, alertaram os índios numa carta enviada à Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão governamental responsável pela questão indígena.

Os manifestantes queimaram ainda uma carta na qual a Funai rejeitava algumas das suas reivindicações.

Além dos pedidos de saúde ligados à pandemia da Covid-19, que tem afetado muitas tribos, os nativos exigem também compensações pelos danos ambientais causados pela construção daquela estrada, além do fim da desflorestação e da exploração ilegal de ouro que devasta o ambiente naquela região.

No Brasil, o novo coronavírus já infetou 26 mil indígenas e matou 690, segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), organização que coordena a luta dos povos originários pelos seus direitos.