Uma nova onda de violência surgiu, este sábado, na Costa do Marfim, depois de o partido no poder ter oficializado a candidatura do atual Presidente, Alassane Ouattara, a um terceiro mandato neste país da África Ocidental.

“A cidade está paralisada, a estação de autocarros, a universidade e uma padaria foram incendiadas”, disse o habitante de Divo, uma região produtora de cacau a 200 km a noroeste de Abidjan, à reportagem da agência de notícias francesa, a AFP.

As manifestações têm sido frequentes na Costa do Marfim nas últimas semanas, desde que o atual Presidente anunciou a sua intenção de se recandidatar a um terceiro mandato, depois da revisão da Constituição e da morte do candidato inicialmente apoiado pelo seu partido.

Em Gagnoa, local de nascimento do ex-presidente Laurent Gbagbo, e a 250 quilómetros de Abidjan, um residente contou à AFP que os jovens ligados à oposição, que diz que a recandidatura de Ouattara é ilegal, queimaram pneus e ergueram barricadas em diferentes partes da cidade, exibindo cartazes onde se lia ‘Não queremos um terceiro mandato’.

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Vários episódios de violência registaram-se também em Bonoua, no sudeste do país, desde sexta-feira, conclui a reportagem da AFP.

A oficialização da candidatura de Ouattara surge esta manhã, depois de autoridades terem anunciado a “suspensão” de manifestações públicas no país até 15 de setembro, em vésperas de uma marcha de mulheres da oposição contra um terceiro mandato do Presidente.

“O conselho (de ministros) decidiu suspender as manifestações na via pública para as permitir apenas em áreas fechadas”, segundo um comunicado divulgado na quinta-feira.

“A medida tomada no âmbito do atual estado de emergência vigora até 15 de setembro (…) e evita as consequências como o balanço humano e material de manifestações anteriores e os riscos de abertura de bolsas de conflito comunitário”, adianta o comunicado.

O anúncio surgiu quase uma semana após violentas manifestações ligadas ao anúncio da controversa candidatura do Presidente, Alassane Ouattara, a um terceiro mandato, que se transformaram em violência durante três dias, deixando “seis mortos, cerca de 100 feridos, 1.500 deslocados internos, 69 pessoas presas e muitos danos materiais”, de acordo com um relatório oficial divulgado na quarta-feira.

Alassane Ouattara, 78 anos, eleito em 2010 e reeleito em 2015, tinha anunciado, pela primeira vez em março, que já não se candidataria, e iria apoiar o seu primeiro-ministro, Amadou Gon Coulibaly.

Mas, depois de Coulibaly morrer de ataque cardíaco a 8 de julho, Ouattara anunciou a 6 de agosto que iria, afinal, concorrer a um terceiro mandato.

A Constituição permite dois mandatos presidenciais, mas a oposição e o Governo discordam sobre a interpretação da reforma adotada em 2016: os apoiantes de Ouattara dizem que o número de mandatos foi reposto a zero nesse ano, enquanto os seus opositores consideram inconstitucional uma terceira candidatura.