O Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, acusou a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que lançou uma campanha de solidariedade com o seu correspondente preso Khaled Drareni, de querer “desestabilizar” a Argélia.
Tebboune acusou os RSF e outras organizações não-governamentais de tentarem “minar a estabilidade do país”, ao serviço de governos internacionais. “Os Estados não nos atacam frontalmente, mas confiam essa missão a organizações não governamentais”, acusou o Presidente argelino, quando foi questionado sobre o destino do jornalista Khaled Drareni, fundador do meio de comunicação ‘online’ Casbah Tribune e correspondente na Argélia do canal de televisão francês TV5 Monde, além de ser um membro dos RSF.
Drareni, 40 anos, que se tornou um símbolo da luta pela liberdade de imprensa na Argélia, foi condenado, em 15 de setembro, a dois anos de prisão por “incitar à rebelião desarmada” e por “minar a unidade nacional”, numa sentença que gerou indignação internacional.
Com a mira colocada sobre Robert Ménard, ex-secretário-geral dos RSF que deixou a organização em 2008, Tebboune disse que, se os RSF tinham “jornalistas respeitáveis”, era “inadmissível terem escolhido o filho de um colono que procura sempre dar lições aos argelinos”.
“Daí a importância de investigar os fundadores dessas organizações, bem como as modalidades do seu financiamento”, disse o Presidente argelino, referindo-se a Ménard, que agora é presidente da Câmara da cidade francesa de Béziers, apoiado pela Frente Nacional. Tebboune assegurou ainda que “ninguém é preso (na Argélia) por um artigo que tenha escrito”, embora reconhecendo que o seu Governo proíbe “insultos e ataques a assuntos relativos à segurança do Estado”.
Para o Presidente argelino, Khaled Drareni foi condenado por estar “envolvido num caso sem ligação com a imprensa”, aludindo à sua participação em atividades dos RSF. Detido desde 29 de março, Khaled Drareni foi condenado depois de ter feito a cobertura jornalística de uma manifestação estudantil em Argel, em 07 de março, organizada pelo Hirak, um movimento de protesto pacífico nascido em fevereiro de 2019, que exige uma mudança profunda do sistema que vigora desde a independência do país, em 1962. Drareni foi também acusado de ter criticado na rede social Facebook “a corrupção e o dinheiro” do sistema político, segundo os RSF.
O ministro da Comunicação da Argélia, Ammar Belhimer, acusa o jornalista de ter trabalhado sem carteira profissional e de ser pago por embaixadas estrangeiras. “A continuação da detenção é a prova do confinamento do regime numa lógica de repressão absurda, injusta e violenta”, denunciou o secretário-geral dos RSF, Christophe Deloire, após a condenação do jornalista.
A Argélia está em 146.º lugar (de 180) no Índice de Liberdade de Imprensa Mundial 2020, no ‘ranking’ feito pelos RSF.