Uma mulher de 23 anos morreu esta quinta-feira em São João da Madeira no seguimento de um tiroteio com a PSP que aconteceu naquela cidade do distrito de Aveiro. A jovem foi atingida durante uma operação policial naquela zona, onde os moradores se têm queixado de vários assaltos a carros.
O incidente foi dado a conhecer pela própria PSP, numa nota enviada às redações. De acordo com esse documento, uma equipa de agentes estava a investigar a “existência de vários furtos em viaturas num local concreto da cidade” e por volta da meia-noite, na zona da Avenida do Vale, deparou-se com “uma viatura suspeita a circular na área de ocorrência dos furtos, com as luzes desligadas, parando junto dos veículos estacionados”.
Os relatos oficiais dão conta de que a dada altura “foi audível o ruído correspondente à quebra de um vidro de uma viatura” estacionada nesta zona e, como tal, “os polícias abordaram os ocupantes [da viatura suspeita]”. Terá sido no seguimento desta abordagem que surgiram os disparos “em circunstâncias que serão apuradas”, isto antes dos suspeitos fugiram do local na viatura.
De acordo com o que fonte policial que preferiu não ser identificada disse ao Observador, os disparos terão ocorrido quando os alegados assaltantes começaram fugir da polícia e, nesse processo, tentaram atropelar dois agentes da PSP. Na sequência dessas duas tentativas, adianta a mesma fonte, foram efetuados “vários disparos” por parte dos agentes policiais.
Fonte da PSP detalhou que os disparos foram feitos para os pneus do carro e que a bala que atingiu a jovem terá feito ricochete, não tendo sido disparada diretamente ao corpo da mulher.
Posteriormente, uma mulher de 23 anos deu entrada no Hospital de São João da Madeira com ferimentos provocados por uma arma de fogo, “que se supõe estar relacionada com a ocorrência descrita”. Fonte da PSP disse ao Observador que o condutor, que seria namorado da mulher, a abandonou à porta do hospital após o tiroteio e fugiu de seguida.
Pouco depois terá entrado em paragem respiratória e terá sido essa a causa de morte. De acordo com a SIC e com o Correio da Manhã, a jovem de 23 anos foi deixada sozinha no hospital pelos restantes suspeitos, que estão fugidos.
A PSP já anunciou que tanto a Polícia Judiciária como a Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) está a investigar o caso, sendo que dois inspetores da Inspeção da PSP já estão a conduzir uma análise e avaliação inicial. A mesma polícia já instaurou também um inquérito de âmbito disciplinar, para apurar as circunstâncias que rodearam a intervenção policial.
Vítima sofria de violência doméstica, dizem vizinhos
De acordo com a edição desta sexta-feira do Jornal de Notícias, a jovem de 23 anos chamava-se Inês Carvalho e sofria de violência doméstica por parte do namorado — André “Pirata”, o condutor, que seria assaltante de carros.
Vizinhos da jovem no bairro das Condominhas, no Porto, ouvidos por aquele jornal relatam episódios de violência entre o casal de jovens.
“Acho que a Inês era vítima de violência doméstica. Ouviam-se muitas discussões e ela gritava-lhe: ‘Deixa-me em paz. Vai-te embora’. Era preciso os vizinhos irem bater à porta para as coisas acalmarem”, disse uma vizinha ao JN.
André “Pirata” já tem cadastro criminal e chegou a estar preso, escreve o mesmo jornal, detalhando que o homem foi condenado por vários casos de furtos de viaturas no Norte do país e preso na cadeia de Custoias.
Dentro da prisão, chegou a ser suspeito de tráfico de droga. Foi libertado em abril deste ano a propósito do programa de prevenção da pandemia da Covid-19 entre a população prisional.
Zona do tiroteio tinha assaltos a carros “há três semanas”
Ao Observador, algumas pessoas que frequentam a Avenida do Vale adiantam que os assaltos a carros naquela zona se têm sucedido com frequência nos últimos tempos.
“As pessoas já nem deixam nada nos carros”, diz uma pessoa que trabalha num estabelecimento na zona e que pediu para não ser identificada. Os assaltos em causa nunca foram a pessoas, mas antes a carros, cujos recheios eram furtados.
Esta é uma situação que já se tem vindo a verificar nas últimas três semanas e que levou a que os moradores e empresários da zona, onde se insere um condomínio de luxo, entrassem em contacto com a PSP.
Porém, os assaltos a carros naquela zona não se cingem somente a este mês de setembro. Domingos Teixeira, dono de uma empresa de construção naquela zona de São João da Madeira, conta ao Observador como o seu carro foi assaltado há um ano em frente ao seu estabelecimento. “Era meia-noite, eu estava aqui dentro numa reunião e nem os ouvi”, conta por telefone. “Tiraram de lá um computador, mas depois mais tarde apanharam o assaltante e consegui recuperá-lo.”
Nas últimas semanas, tem reparado como têm sido assaltados alguns carros naquela zona. Quando chega de manhã ao local de trabalho, repara nos carros com vidros partidos. “São sempre carros de alta cilindrada, aos outros eles não ligam”, diz.
Os assaltos a carros, contudo, não se cingem àquela zona. Que o diga o próprio Domingos Teixeira, cujo carro foi assaltado esta quarta-feira — não na Avenida do Vale em São João da Madeira mas perto da sua casa, a apenas 4 quilómetros dali. Esta sexta-feira a polícia recuperou no Porto a viatura usada nos assaltos pelas 1h50 na Bica Velha, não fazendo quaisquer detenções.
Nota: Notícia atualizada às 12h44 de 25 de setembro de 2020 com a informação de que a PSP recuperou a viatura usada nos assaltos.