A conferência de imprensa dos médicos presidenciais sobre o estado de saúde de Donald Trump levantou mais questões do que trouxe respostas. O Presidente dos Estados Unidos está internado no hospital militar Walter Reed desde sexta-feira, infetado com o novo coronavírus, numa altura em que começam a surgir mais casos positivos de Covid-19 entre membros da Casa Branca e da campanha presidencial. Ao fim da manhã deste sábado, à porta do hospital, o médico do Presidente, Sean Conley, respondeu às perguntas dos jornalistas sobre o estado de saúde de Trump — mas as respostas confusas e evasivas deixadas pelo médico levantaram ainda mais dúvidas.

1. Desde quando é que Trump sabe que está infetado?

Logo no arranque da conferência de imprensa, Sean Conley afirmou que já passaram 72 horas desde o diagnóstico de Donald Trump. Contudo, isso não bate certo com as informações oficiais reveladas até agora pela Casa Branca. A julgar pelas palavras de Conley, e fazendo as contas, Trump teria sido diagnosticado com o coronavírus durante a tarde de quarta-feira. Mas a verdade é que a Casa Branca só divulgou a informação por volta da 1h da manhã na noite de quinta para sexta-feira.

Na tarde de quinta-feira, Donald Trump esteve em Nova Jérsia para uma angariação de fundos para a sua campanha eleitoral — que se realizou num espaço fechado, nas instalações de um complexo de golfe do próprio Trump. Até agora, a informação que existia era a de que quando Trump participou nesta angariação de fundos ainda não tinha sido diagnosticado com a Covid-19. Porém, as palavras do médico apontam no sentido oposto: Trump poderá ter ido àquele evento, onde contactou com várias pessoas, já diagnosticado com a doença. Nas declarações transmitidas pelos meios de comunicação, o Presidente norte-americano não deu nenhuma indicação de que estaria infetado.

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No entanto, o médico presidencial acrescentou uma informação que contribui ainda mais para a confusão sobre este assunto, assinalando que o teste que confirmou o diagnóstico de Trump foi feito na quinta-feira à tarde, depois da confirmação de que a conselheira presidencial Hope Hicks estava infetada. “Repetimos o teste e nessa noite tivemos a confirmação por PCR de que ele estava” infetado, disse Conley. Ou seja, há menos de 48 horas.

A confusão levanta várias questões: ou o médico se enganou na data do diagnóstico; ou Trump não foi informado do seu próprio diagnóstico; ou Trump sabia que estava infetado e não o revelou; ou o médico queria dizer que Trump foi testado na quarta-feira e que o teste foi repetido na quinta-feira. A confusão foi aprofundada quando outro dos médicos, que tomou palavra para explicar os detalhes da medicação administrada a Trump, afirmou que o Presidente tinha recebido a primeira dose de um tratamento de anticorpos há 48 horas — ou seja, na manhã de quinta-feira, antes do momento oficial do diagnóstico e antes da angariação de fundos em Nova Jérsia.

Já depois da conferência de imprensa, começou a circular na imprensa norte-americana uma clarificação das palavras do médico enviada pela Casa Branca. De acordo com esta justificação, o médico não pretendia dizer “72 horas”, mas sim que é o terceiro dia da doença. Por outro lado, o médico que falou da medicação não quereria dizer “48 horas”, mas sim dois dias — para se referir a quinta-feira.

2. Trump precisou de oxigénio suplementar?

Sean Conley foi questionado repetidas vezes sobre se Donald Trump precisou de oxigénio suplementar para apoio respiratório, mas esquivou-se sempre a responder, afirmando apenas que, na manhã deste sábado, o Presidente dos EUA não estava a precisar de oxigénio. O médico deu a mesma resposta a vários jornalistas que insistiram com a pergunta até que um dos repórteres presentes colocou a questão específica: Trump precisou de oxigénio na quinta-feira? E na sexta-feira?

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Conley respondeu, finalmente, que na quinta-feira não foi preciso ventilar Trump e que na sexta-feira, enquanto a equipa médica esteve com ele, também não. A imprensa norte-americana nota que esta resposta, na qual o médico não se alongou, deixa em aberto a possibilidade de Trump ter precisado de ventilação enquanto esteve na Casa Branca — uma vez que o Presidente só foi transferido para o hospital quase um dia depois do diagnóstico.

Com efeito, pouco depois da conferência de imprensa, a Associated Press noticiou que Donald Trump havia recebido oxigénio suplementar na sexta-feira, ainda na Casa Branca, depois de ter sido diagnosticado com a Covid-19.

Durante a conferência de imprensa, Sean Conley assegurou múltiplas vezes que Trump se encontra bem e de saúde, e que só foi transportado para o hospital por precaução — uma vez que é o Presidente dos EUA. “Estamos a maximizar todos os aspetos dos cuidados de saúde”, disse o médico, questionado sobre a utilização de várias terapêuticas. “É o Presidente. Se houver alguma possibilidade de melhorar os cuidados dele, quero usá-la.”

3. Donald Trump tem lesões pulmonares?

Questionado sobre a possibilidade de Donald Trump ter ou poder ficar lesões pulmonares na sequência da infeção com a Covid-19, Sean Conley foi evasivo e respondeu apenas que os médicos estão a fazer exames diários para averiguar essa eventualidade. Perante a insistência do repórter sobre se esses exames já detetaram algum problema, o médico limitou-se a dizer que não iria discutir publicamente os resultados dos exames — mas não respondeu negativamente à pergunta.