Pouco passava das quatro da tarde, ainda a oito horas do fecho de mercado, quando as negociações entre Sp. Braga e Sporting por Paulinho caíram. Como mostrou o tempo, de vez. O único avançado pedido por Rúben Amorim (a todo o custo) deixava de ser hipótese, outro que não tinha pedido mas que poderia surgir como plano B (Slimani) também – e não foi apenas por uma questão salarial porque havia vontade de fazer um esforço orçamental para ter o argelino. Esse acordo, à semelhança da contratação de Lucas Veríssimo pelo FC Porto que não se confirmou também, antecipou o final desta janela de transferências que não foi tão “mexida” como se esperava no último dia mas que teve o condão de mostrar que se a pandemia continua a impedir os espetadores de irem nos estádios, não afetou aquilo que foi o mercado. E o investimento superou as expetativas, em passes e/ou salários.

O último dia do mercado ficou-se sobretudo pelos empréstimos porque o negócio Paulinho caiu a meio da tarde

Os “grandes”, esses, seguiram caminhos contrários com pontos de contacto mas paradigmas opostos. Depois de perder o título na última época, e num contexto de eleições com Jorge Jesus de regresso para treinador, o Benfica foi o “rei” do mercado com um investimento acima dos 100 milhões de euros amortizado em grande parte pela venda de Rúben Dias ao Manchester City que só foi ponderada por estes valores (68 milhões) pela eliminação precoce da Champions. Globalmente, os encarnados ficaram mais fortes: na defesa, onde saiu apenas o central formado no Seixal mas chegaram Vertonghen, Otamendi, Toliso (por empréstimo) e Gilberto; no ataque, com as contratações de Everton Cebolinha, Waldschmidt, Pedrinho e Darwin Núñez, o jogador mais caro de sempre do clube. O técnico ficou apenas sem o ‘8’ que desejava – em especial se o mesmo fosse Gerson, do Flamengo – mas melhorou o plantel quando se pensava que haveria contenção depois da derrota na Liga dos Campeões.

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ENTRADAS (96,5 milhões): Darwin Núñez (24 milhões), Everton Cebolinha (20), Pedrinho (18), Otamendi (15), Luka Waldschmidt (15), Gilberto (3), Helton Leite (1,5) e Todibo (2, empréstimo)

SAÍDAS (74 milhões): Rúben Dias (68), Carlos Vinícius (3, empréstimo), Florentino (2, empréstimo), Zlobin (1), Zivkovic (custo zero), Tomás Tavares (empréstimo), David Tavares (empréstimo) e Jota (empréstimo)

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Por seu turno, o mercado do FC Porto foi assente em três grandes premissas: 1) especial atenção ao mercado mais interno, sobretudo em situações a custo zero ou com compra de percentagens de passe; 2) abertura para ouvir as propostas que fossem aparecendo sem excluir qualquer possibilidade tendo em conta necessidades de tesouraria provenientes do fair-play financeiro; 3) exploração dos últimos dias para estudar possíveis empréstimos que equilibrassem o plantel. Se na baliza houve apenas a entrada de Cláudio Ramos, na defesa as saídas dos laterais Alex Telles e Tomás Esteves promoveram as entradas de Nanú, Carraça, Sarr e Zaidu, com a intenção de voltar a ter mais opções para as laterais sem deixar de reforçar o eixo central ainda desfalcado do lesionado Marcano; no meio, a saída de Danilo Pereira mereceu uma entrada específica, com Grujic a juntar-se a Loum, Sérgio Oliveira e Uribe para a posição, havendo Felipe Anderson para jogar como possível ’10’ como Otávio; no ataque, quase tudo novo à exceção de Corona e Marega, com as saídas de Soares, Zé Luís Aboubakar e Fábio Silva (a grande venda por 40 milhões) e as entradas de Taremi, Toni Martínez e Evanilson. O saldo foi positivo, de quanto não se sabe. Mas vontade não faltou. E, além do ala Pepê do Grémio, houve ainda uma sondagem por Sami Khedira.

ENTRADAS (28,5 milhões): Evanilson (7,5), Taremi (7), Nanú (4), Toni Martínez (4), Zaidu (4), Carraça (custo zero), Cláudio Silva (custo zero), Sarr (2, empréstimo), Felipe Anderson (empréstimo) e Grujic (empréstimo)

SAÍDAS (72 milhões): Fábio Silva (40), Alex Telles (15), Zé Luís (7,5), Soares (5,5), Osório (4), Danilo (4, empréstimo), Vítor Ferreira (empréstimo) e Aboubakar (custo zero)

Por fim, o Sporting. Que conseguiu os remendos possíveis, não alcançou todos os necessários e manteve aquela que era a maior pecha apontada ao plantel. Se na baliza Adán chegou e assumiu o lugar em vez de Luís Maximiano (que era apontado como um dos ativos que mais poderia valorizar para uma possível venda), na defesa houve trocas diretas à exceção da lateral direita, para onde entrou Pedro Porro: Feddal chegou para o lugar de Mathieu, Antunes equilibrou o lado esquerdo de Nuno Mendes após a saída de Acuña; no meio-campo, que teve muitas saídas como Wendel (vendido por 20 milhões), Battaglia, Doumbia ou Eduardo, João Mário foi a figura de proa além de Pedro Gonçalves ou os regresso de João Palhinha e Daniel Bragança; no ataque, sem baixas de relevo, chegaram os alas Bruno Tabata e Nuno Santos. Se no plano financeiro o mercado foi equilibrado com saldo positivo (embora com contratações para pagar a médio prazo), no plano desportivo não trouxe o avançado desejado: Amorim queria Paulinho e o acordo falhou; Slimani estava disponível a baixar o salário mas o acordo parecia à partida falhado; e Luiz Phellype ficou assim como única alternativa a Sporar, que também não tem sido opção.

ENTRADAS (17,5 milhões): Pedro Gonçalves (6,5), Bruno Tabata (5), Nuno Santos (3), Feddal (3), Adán (custo zero), Antunes (custo zero), André Paulo (custo zero), João Mário (empréstimo), Pedro Porro (empréstimo)

SAÍDAS (40,3 milhões): Wendel (20,3), Acuña (10,5), Matheus Pereira (9,5), Battaglia (empréstimo), Doumbia (empréstimo), Eduardo (empréstimo), Rosier (empréstimo) e Pedro Mendes (empréstimo)

No entanto, nem só de história a envolver os principais clubes o mercado foi feito e houve outros capítulos de registo neste mercado que “fintou” as perdas da pandemia (e a atual indefinição, acrescente-se). O resultado dessa opção, essa, chegará a breve prazo na parte desportiva e a médio/longo prazo na vertente mais económica.

As nove grandes histórias do mercado de verão: a novela de Cavani, a loucura do Chelsea, os defesas de Guardiola e o salto de Suárez

O jogador mais rico do mundo na Madeira – e não, não é Ronaldo

O nome Faiq Bolkiah não é propriamente muito conhecido entre os adeptos portugueses, embora tenha formação em Inglaterra no Leicester, mas trata-se do “jogador mais rico do mundo”, como era apelidado em terras de Sua Majestade, por ser sobrinho do sultão do Brunei, Hassanal Bolkiah, com uma fortuna de 20 biliões de dólares de acordo com a Forbes. Após ter passado na formação por Southampton, Arsenal e Chelsea, chegou ao Marítimo a custo zero na tentativa de mostrar, aos 22 anos, que é mais do que um milionário nascido nos Estados Unidos e que cresceu no meio de mordomias da família como a coleção de 6.000 carros de luxo, um Boeing, o maior palácio do mundo com uma área útil de 200 mil metros quadrados (com 1.788 quartos). Ele próprio também tem algumas excentricidades, nomeadamente o facto de viver com um pequeno tigre de estimação em casa.

O valor do plantel do Marítimo é 0,09% da fortuna do seu novo reforço. Quem é Faiq Bolkiah?

Musa, o refugiado que brilhou em Itália e chegou ao Boavista

O Boavista, que chegou a este mercado com outras possibilidades em termos financeiros, foi uma das maiores surpresas nesta janela de transferências, criando um plantel muito competitivo capaz de lutar por uma posição na primeira metade da tabela a olhar para os lugares europeus. Entre Reggie Cannon, Alberth Elis (ambos vindos da MLS), Angel Gómez, Javi García, Chizodie, Sebastián Pérez e o campeão mundial Adil Rami, os axadrezados garantiram o empréstimo de Musa Juwara, jovem de 18 anos do Bolonha que ficou com uma opção de compra de sete milhões. Nascido na Gâmbia, o ala que perdeu os pais muito novo passou por Senegal, Mali, Burkina Faso, Níger e Líbia com o objetivo de chegar ao Mediterrâneo, onde conseguiu colocar-se na Sicília num pequeno bote. Colocado num campo de refugiados em Basilicata, começou a jogar, passou para o Chievo e estreou-se na Serie A.

Há um novo filão no mercado nacional (graças a Taremi): o Irão

A contratação de Taremi por parte do FC Porto (após ter estado na agenda do Benfica e de o Rio Ave ter recusado uma proposta do Sporting) motivou um especial interesse por parte da imprensa iraniana, que acompanhou ao detalhe a ida do avançado para o Dragão. Contacto leva a contacto e, a certa altura, as perguntas que os jornalistas locais faziam já colocavam jogadores que nem eram internacionais na rota de clubes como o P. Ferreira (este caso aconteceu com o Observador). O país asiático, que Carlos Queiroz sempre elogiou a nível de talento durante a longa passagem como selecionador, começa a ser cada vez mais visto como um mercado apetecível e foi de lá que chegaram mais dois iranianos para se juntarem a Taremi e Amir na Primeira Liga: Shahriar Moghanlou, avançado de 25 anos que brilhou no Paykan, e Ali Alipour, avançado internacional de 24 anos que jogava no Persepolis.

Benfica seguiu, Sporting tentou, FC Porto contratou: Taremi oficializado pelos dragões (que já contam com Nakajima)

Lucas esteve num lado, esteve no outro e ficou onde estava

Na sequência da contratação de Gilberto e do interesse (não assumido) na dupla Gerson e Bruno Henrique, o nome de Lucas Veríssimo, central do Santos, começou a ser associado ao Benfica, havendo mesmo notícias na imprensa brasileira de contactos exploratórios para uma possível contratação. A opção acabou por recair em Vertonghen que, experiência europeia à parte, era aquele central canhoto com saída de bola que Jorge Jesus pretendia, dando continuidade ao que tinha acontecido no Sporting (Mathieu) e no Flamengo (Pablo Marí e Léo Pereira). Depois, com a saída de Rúben Dias, a chegada de Otamendi e o abortar das negociações por Rúben Semedo, o defesa voltou a ser opção nos últimos dias. Mais uma vez, a opção caiu. No entanto, o FC Porto também estava atento e tentou neste último dia de mercado garantir o central, assegurando o acordo com o clube e com o jogador antes de haver um recuo dos azuis e brancos perante a permanência de Diogo Leite. E o brasileiro vai mesmo ficar no Santos.

O verão dos regressos, dos portugueses aos estrangeiros

É já um habitué em todos os mercados: quando começam a surgir os primeiros rumores de mercado associados às principais equipas portuguesas, há sempre nomes conhecidos ou por terem sido antigos jogadores do clube em causa, ou por serem internacionais portugueses ou por granjearem de passagens de sucesso em Portugal. Não é sempre mas às vezes confirma-se: enquanto Adrien foi apontado aos “grandes” e acabou em Itália (Sampdória), João Mário regressou mesmo a Alvalade quatro anos depois da saída para o Inter, tendo pelo meio passado pelo West Ham e pelo Lokomotiv de Moscovo. Mas o médio não foi o único destes casos, que colocaram outras equipas também ao barulho: o internacional Ricardo Quaresma deixou a Turquia e assinou pelo V. Guimarães aos 36 anos; o argentino Nico Gaitán, que depois do Benfica passou por Atl. Madrid, China, EUA e França, reforçou o Sp. Braga aos 32 anos; o espanhol Javi Garcia, que após a passagem na Luz esteve no Manchester City, no Zenit e no Betis, mudou-se para o Boavista aos 33 anos. E no último dia ainda houve mais uma surpresa, com Fábio Coentrão a calçar de novo as botas após uma espécie de “ano sabático” para voltar ao Rio Ave aos 32 anos.

É oficial: quatro anos depois de deixar o Benfica, Gaitán regressa a Portugal e é reforço do Sp. Braga