A garantia é da Federação Portuguesa de Futebol: Cristiano Ronaldo “está bem, sem sintomas e em isolamento”, depois de ter tido um teste positivo ao novo coronavírus. Mas de que forma é que esta infeção pode afetar a sua vida? O facto de ser atleta de alta competição é garantia de que não terá consequências graves? Pode vir a ter sequelas que prejudiquem a sua carreira profissional?
“O Ronaldo não é grupo de risco. Pelo contrário, até está mais bem preparado para lidar com a infeção“. As palavras são do virologista Pedro Simas. Ao Observador, o investigador do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) considera que o novo coronavírus afeta os atletas de alta competição “da mesma forma” que afeta uma pessoa que não pertença aos grupos considerados de risco para a Covid-19 — que “pessoas com determinadas doenças debilitantes e que geralmente estão associadas à idade avançada” —, sendo que “quanto mais saudável” a pessoa for, “em geral” melhor é.
“Em princípio, os atletas de alta competição são pessoas super saudáveis. Para toda a gente que não seja grupo de risco, o vírus ou causa uma infeção assintomática ou uma infeção que geralmente é ligeira, com raras exceções que às vezes não se percebem, mas na grande maioria dos casos o prognóstico é perfeitamente favorável”, afirma o virologista.
Para o infecciologista Jaime Nina, o facto de se tratar de um atleta de alta competição “não aumenta nem diminui o risco” face à Covid-19. “O que é importante é a idade e os atletas de alta competição são novos“, diz o médico do Hospital Egas Moniz ao Observador, acrescentando que, “tanto quanto saiba, não há nenhum fator de risco acrescido” por ser um atleta de alta competição.
Ainda assim, isso não é garantia de que Ronaldo não terá problemas de maior. Para o professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, é tudo uma questão de probabilidades. “É altamente improvável que ele tenha problemas, mas não quer dizer que não seja possível“, indica o especialista, sublinhando que dos mais de dois mil mortos por Covid-19 contabilizados em Portugal, “meia dúzia” tinha menos de 40 anos e “dois terços” tinha idade superior a 80 anos. “É uma infeção com uma mortalidade altamente concentrada no final da vida.”
“À partida, não é provável que tenha sequelas”
Ambos os especialistas consideram que as pessoas infetadas com o novo coronavírus e que tenham uma infeção ligeira — o que parece ser o caso de Cristiano Ronaldo — não desenvolvem sequelas: “À partida, não é provável que tenha sequelas. Tanto quanto se sabe, as pessoas novas que têm uma infeção ligeira ficam sem sequelas“, explica Jaime Nina.
O mesmo não se pode dizer dos mais velhos, nomeadamente aqueles que tenham uma infeção grave e estiveram internados nos cuidados intensivos. “Podem ficar com alguma fibrose pulmonar, que provoca uma diminuição da capacidade respiratória e de tudo o resto, mas isso é para infeções graves, particularmente em pessoas que estiveram ligadas a ventiladores, que eu espero que não seja o caso do Ronaldo. Seria muito estranho que fosse.”
Pedro Simas também refere que podem existir sequelas “que duram mais ou menos tempo” nos casos graves de infeção, que ocorrem mais nos grupos de risco: “Isto é uma doença grave nos grupos de risco.” O mesmo já não acontece nas pessoas que não se enquadram nos grupos de risco e que tenham uma sintomatologia ligeira ou que estejam assintomáticos.
Nesses casos, as consequências serão praticamente nulas: “Eu parto do princípio, até ser demonstrado o contrário, que este coronavírus é como os outros coronavírus respiratórios que já existem na espécie humana e, portanto, eu encaro este vírus nesse sentido [para os casos ligeiros] como uma constipação e as constipações geralmente não deixam sequelas.”
Também para o infecciologista do Hospital Egas Moniz, Jaime Nina, Cristiano Ronaldo “estará perfeitamente operacional” daqui a duas ou três semanas.