Em atualização
Não era o momento mais esperado da noite mas acabou por tornar-se num dos momentos da noite. Depois de ter visto a vitória do Benfica em Vila do Conde frente ao Rio Ave, Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, deslocou-se até aos estúdios da RTP no Porto, onde chegou cerca de uma hora depois do apito final de João Pinheiro na companhia do porta-voz da candidatura, João Gabriel, passou pela zona de maquilhagem e seguiu para estúdio, numa entrevista para marcar as duas últimas semanas até às eleições de dia 30, numa altura em que o atual líder decidiu suspender a sua campanha (e agenda) em virtude da atual situação epidemiológica que o país atravessa.
“Jorge Jesus? Antes, deixe-me dizer uma coisa que é mais importante”, começou por pedir no início da entrevista no Trio d’Ataque, perante a questão sobre a contratação do treinador ao Flamengo. “Hoje passou-se algo de muito grave e quero dar uma palavra de solidariedade ao presidente da Casa do Benfica de Braga. Aquela Casa já foi vandalizada mais de 20 vezes e é de lamentar que uma outra candidatura tivesse feito insinuações que alguém da minha candidatura tivesse feito aquilo. É sinal que não conhece o trabalho que se tem feito com as Casas do Benfica…. Depois, uma palavra para o André Almeida, que pode ter lesão grave. No autocarro disse-me que ia recuperar o mais depressa possível. Um abraço para ti”, prosseguiu o atual presidente dos encarnados.
“Contratei Jorge Jesus para ganhar as eleições? Não foi contratado para eu ganhar as eleições, até porque o Jorge Jesus é um nome controverso no mundo benfiquista. Há um ano ninguém sabia que ia haver uma pandemia… E numa conversa em casa dele, há um ano, disse-lhe que se houvesse uma alteração no Benfica ele seria o próximo treinador do Benfica. Estava o Bruno Lage. Ele foi em maio ou em junho para o Brasil, esta conversa foi em março”, assumiu, antes de falar sobre o “perdão” dos benfiquistas: “Ele foi muito claro na apresentação e no que disse, qualquer benfiquista deve estar feliz. É o nosso treinador e todos queremos que o Benfica ganhe”.
“Não melhorei muito o clube, acho que o Benfica foi refundado. Uns fugiram, outros saíram ressabiados… Em termos internacionais é admirado, em termos nacionais é invejado. Está muito apetitoso, achava que a feira de vaidades tinha acabado mas apareceu… Não vai haver rotura com o passado, este projeto vai ter continuidade, tem de ter continuidade. Eu não represento nenhuma notável, vim do bairro das Furnas. Notáveis são os que fazem 500 ou 700 quilómetros à chuva, os das Casas…”, destacou depois, sobre os últimos 20 anos, antes de voltar ao tema mais à frente: “O Benfica nunca me protegeu em nada, pelo contrário. Prejudicou e continua a prejudicar. A inveja neste país é uma coisa… Se eu não tenho aparecido no Benfica não havia estádio, não havia nada”.
A minha campanha é limpa. Não vou atacar ninguém. A minha vida é limpa, tenho resposta para toda a gente. Outros se calhar podem não ter”, salientou Luís Filipe Vieira na antecâmara das eleições.
“Os benfiquistas não têm de estar preocupados com as contratações porque o primeiro título do Benfica é sempre a credibilidade. O Everton custava mais no ano passado, o Waldschmidt também, o Darwin vai ser uma referência no futuro. Qualquer empresa vai atravessar dificuldades mas nunca falhámos compromissos. Há jogadores destes que foram comprados a cinco anos sem juros. Quando se tem credibilidade consegue fazer-se coisas diabólicas… Na altura em que cheguei ao Benfica era penoso, agora recuperar 100 ou 150 milhões é fácil”, continuou, antes de voltar a falar do sonho europeu dos encarnados: “Garanto o seguinte: se os benfiquistas esperarem quarto ou cinco anos e se nenhum dos jogadores do Seixal sair, vamos ver se é possível ou não. É uma aposta minha, firme, que vamos ganhar um título europeu. E vou conseguir nos próximos quatro anos, vou conseguir”.
“Rui Costa? É o meu ultimo mandato. Só podia abdicar para ganhar um penta, mas isso é outra coisa… Dizem que aquilo é monarquia mas só disse que, dentro do Benfica há gente qualificada para dar continuidade ao projeto. Quem vota são os sócios. O que eu disse foi ‘Eu sou o presente e tu, Rui, és o futuro’. Há um tempo para tudo na vida, tenho família também. Sei quantos dias tive de férias no Benfica ao longo destes anos… Fazer o que se fez em 20 anos não é para todos. O Benfica é um caso de estudo para saber como foi possível tornar isto tudo assim e este projeto, que é empresarial com amor popular”, disse a propósito do futuro do clube, antes de abordar também os processos não só ligados a si mas também aos encarnados que ainda decorrem na Justiça.
“Operação Lex? Primeiro não ofereci nada ao senhor Rui Rangel. A Justiça funciona neste país, nunca vou ser julgado por jornal nem televisão. Se não fosse presidente do Benfica, não estava metido naquilo. Até há uma escuta ou uma gravação em que digo ‘Oh Rui, se quiseres eu vou contigo ao tribunal’. Não era eu que devia ao Estado, era o Estado a mim. O que se devia dizer é como é que o Estado português demora tanto a pagar. O que é que eu tinha de pedir ao Rui Rangel? Ajuda-me aqui ou ali em quê? O que fiz qualquer um fazia”, comentou.
“Caso dos emails? Há quanto tempo dura os emails? Três anos e meio? Já deviam ter apresentado alguma coisa… Nos últimos anos o Benfica não tinha os melhores plantéis em Portugal? Ganhámos quatro Campeonatos seguidos. Acham que era preciso andar a pedir favores árbitros? Os nomes deviam ser investigados, aqueles que ajudaram o Benfica. Este caso acaba por prejudicar o Benfica, lógico. Sofri 12 anos com o caso Mantorras. Passado esse tempo foi arquivado. Tenho a consciência completamente tranquila. Vou ter de lutar pelo meu nome. Puseram muitas noticias cá fora, já me viraram ao contrário dez vezes seguidas e continuo em pé”, frisou.