Encontrar casa é quase sempre um processo moroso. Exige, sobretudo, tempo, paciência, capacidade de negociação e dinheiro. Se a isto juntarmos outros fatores, como a burocracia, a equação fica ainda mais densa. E se for necessário fazer obras, onde encontramos um empreiteiro? E como fazemos as mudanças? A escritura tem mesmo de ser presencial? Durante o processo, as dúvidas somam-se. E foram elas que levaram José Costa Rodrigues a pensar numa solução.
“Ao longos dos anos fui tendo experiências com as grandes imobiliárias e senti que faltava alguma coisa. Pagava 5% mais IVA e o serviço era limitado. Comecei a olhar para mercados externos, a tentar perceber se também era assim, e percebi que havia startups a criar inovação neste setor”, diz o responsável pela Relive, que é também o fundador da Forall Phones.
Até agosto do ano passado, José Costa Rodrigues esteve a liderar o projeto que lançou aos 19 anos (em 2015) para vender smartphones seminovos e que, cinco anos depois, acumulava cerca de 20 milhões de euros em vendas. Apesar de já não coordenar as operações diárias da Forall Phones, o empreendedor de 24 anos continua a acompanhá-la de perto, como membro do conselho de administração — enquanto lidera e faz crescer a Relive.
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A ideia para este segundo desafio surgiu-lhe em 2016, depois de se ter aventurado na renovação de um prédio que havia de transformar numa comunidade para estudantes estrangeiros.
Era preciso dinheiro para obras, um crédito, era preciso um empreiteiro, mobilar, fazer mudanças, e pensei que podia tratar de tudo numa agência imobiliária. Mas não”, explica ao Observador.
Foi assim que decidiu avançar com uma resposta digitalizada, uma one stop shop (tudo no mesmo sítio) para quem quer comprar ou arrendar casa. Isto torna o processo mais simples e integrado, combinando todas as necessidades num só sítio e através de um serviço que acompanha permanentemente os clientes. “Tudo o que é o processo de assinatura, processo de angariação para venda de imóvel, toda a burocracia que pode ser tratada e assinada a nível digital, fazemos. E todas as outras necessidades, também. Aí poupamos reuniões presenciais e papelada”, esclarece.
Na prática, a estratégia é um modelo de procura e oferta, tal como nas restantes imobiliárias, mas aqui, o vendedor ou arrendador pode submeter diretamente o imóvel no site da Relive.
Basta ir ao site, dar o nome, telefone e especificar o imóvel. Automaticamente será contactado por nós, entregamos-lhe um estudo de mercado para avaliação e indicamos-lhe qual a disponibilidade para fazer fotografias, vídeo, listar a plataforma online e realizar visitas”, explica o empreendedor de 24 anos.
O serviço é depois assegurado por uma equipa de seis pessoas a tempo inteiro no escritório de Marvila, apoiada depois por 15 executivos na área das vendas, encarregues de acompanhar cada cliente.
150 mil euros em capitais próprios
O projeto, que arrancou em março deste ano, teve um investimento na ordem dos 150 mil euros, quase todo assegurado por José. “Deu para termos uma equipa a tempo inteiro, deu para o espaço e para investir no site. Mas o maior investimento é parar o que estamos a fazer todos os dias e pensar o projeto de forma articulada”, diz.
Sete meses após o começo, a Relive conta com 20 imóveis listados, todos no distrito de Lisboa. Sobre os efeitos da pandemia no funcionamento, José diz que “as pessoas continuam a querer visitar os imóveis, só que nós, por uma questão de segurança, vemo-nos obrigados a filtrar essas visitas”. O fundador diz ter sido um início “um pouco acidentado” mas, por outro lado, viu também esta coincidência como uma mais valia.
Fomos contidos no plano de negócio porque sabíamos que as transações no imobiliário iam cair. Por outro lado, pensámos que, com isto, as pessoas iam ter mais facilidade em digitalizar. Não se compram casas online, as pessoas querem ver o espaço, mas todo o processo à volta da escolha podia ser mais digital”, acrescenta.
“Pensámos: ‘Como é que a nível digital o cliente podia conhecer a propriedade ao máximo para só a visitar se estivesse realmente interessado?’. Primeiro, as fotografias têm de estar muito boas, depois o imóvel tem de ter planta atualizada dos vários espaços. Temos, também, de fazer um vídeo dentro da casa e, por último, fazer um vídeo simples das redondezas do prédio”.
Este último, uma adição recente ao serviço, procura contrariar uma ideia que José diz ser cada vez mais evidente, a de que “o mercado está antiquado e saturado. E nós queremos ser um ar fresco que torne esta jornada simples”, acrescenta.
Quando tinha 16 anos, José Costa Rodrigues queria um iPhone, mas os pais não lhe quiseram dar um. A “nega” levou-o ao OLX e à revenda de telefones e, daqui, foi um salto até pensar num negócio que prometia vender modelos topo de gama seminovos, a Forall Phones. Agora, o salto é outro: é para casas com tudo incluído.