Depois de marcar uma reunião de emergência para esta terça-feira, na sequência de uma moção de censura subscrita por mais de 20 mil sócios, Josep Maria Bartomeu apresentou a demissão do cargo de presidente do Barcelona. Segundo o Sport, para além do já ex-presidente, também se demitiram todos os restantes elementos da Junta Diretiva do clube.
Mas é preciso puxar o filme atrás para perceber toda a história. Em agosto, quando Leo Messi anunciou intenções de deixar o clube principalmente por estar descontente com a forma como este está a ser conduzido, Jordi Farré — desde já pré-candidato às eleições presidenciais do próximo ano — declarou que iria apresentar uma moção de censura a Josep Maria Bartomeu e à restante Direção dos catalães. A 7 de outubro, no início deste mês, o mesmo Farré revelou que a moção tinha reunido 20.731 assinaturas, um valor superior ao mínimo obrigatório de 16.521 de que precisava para ser admitida.
Confrontado com a possibilidade de ser afastado pelos próprios sócios num referendo, Bartomeu recorreu ao poder político — pediu um parecer à Generalitat, o governo da Catalunha, na esperança de que este considerasse inviável um referendo à liderança do clube em plena pandemia e crise sanitária. As esperanças de Bartomeu, porém, saíram esvaziadas. Em comunicado, já esta terça-feira, a Generalitat garantiu que existem possibilidades de estarem reunidas as condições para a realização da votação nos próximos dias. “Informamos que o Governo da Generalitat, representado pelos Departamentos da Presidência, do Interior e da Saúde, reitera que não existem impedimentos jurídicos nem sanitários para celebrar a votação da Moção de Censura, sempre e quando se incluam, no protocolo organizativo da citada Moção de Censura, os requisitos que o grupo técnico do PROCICAT [Proteção Civil catalã] apresentou ao próprio Barcelona numa reunião celebrada no passado dia 21 de outubro”, pode ler-se na nota governamental.
Assim, e de acordo com os estatutos do clube, a Junta Diretiva teria de marcar até às 23h59 desta terça-feira um referendo à liderança para os próximos dias 1 e 2 de novembro, ou seja, domingo e segunda-feira. Na reunião de emergência convocada por Bartomeu para as 19h desta terça-feira, o então líder terá comunicado que fez um último esforço junto da Generalitat, através de uma carta enviada a Pere Aragonés, o presidente catalão em funções, mas não conseguiu ter sucesso. Segundo o Sport, a Direção do Barcelona defendia que a votação acontecesse, por ser um direito dos sócios, mas não entendia que “em pleno estado de emergência, com o número de casos a subir”, fosse permitido que os sócios do clube pudessem votar presencialmente por todo o território espanhol — principalmente tendo em conta um grande número dessa massa associada tem mais de 60 anos.
Recebida nova resposta a favor da realização do referendo por parte da Generalitat, Josep Maria Bartomeu sugeriu uma demissão em massa da Junta Diretiva do clube e a proposta foi aprovada de forma unânime. Termina assim uma etapa de seis anos no Barcelona que incluiu o triplete de 2015 mas teve mais baixos do que altos, entre a venda de Neymar, o despedimento de Ernesto Valverde e constantes desentendimentos entre o plantel e a cúpula do clube. Seguem-se eleições antecipadas, ainda sem data marcada.
Josep Bartomeu não renuncia à presidência do FC Barcelona apesar da pressão
Antecipadamente preparados para a possibilidade de Bartomeu não agendar esta terça-feira o referendo, os representantes da moção de censura já revelaram a intenção de denunciar os dirigentes catalães por incumprimento dos estatutos. “Claro que exigimos [a marcação do referendo]. Não por vontade de nada, mas por indignação. Levaram-nos a um estado onde não queríamos chegar. Eles acorralaram-nos a todos. Espero que hoje, que terminam os prazos, se cumpram os estatutos”, disse Marc Duch, um dos porta-vozes do grupo “Més que una moció”, à rádio RAC1.
Já esta segunda-feira, quando a Junta Diretiva também reuniu e decidiu aguardar pela posição oficial da Generalitat para decidir o que fazer, o próprio Jordi Farré criticou a atitude e defendeu que só faltava “pedir clemência ao Papa”. “Desde o primeiro dia que tentaram entorpecer o processo da moção de censura. Agora mesmo, estou a estudar com os meus advogados as ações legais que vamos empreender se amanhã [terça-feira] não for convocado o referendo para os dias 1 e 2 de novembro. Estão a vulnerabilizar os direitos dos sócios e os estatutos do clube de uma maneira flagrante”, disse Farré, que também reuniu esta terça-feira com a organização da moção de censura para explicar todas essas ações legais que pensa levar a cabo.