José Manuel Bolieiro foi até à casa de Artur Lima, líder do CDS, em Porto Martins, na Ilha Terceira para negociar esta terça-feira, sabe o Observador. No mesmo dia Vasco Cordeiro entrava na mesma casa com o mesmo propósito. Os encontros já começaram, os telefonemas também e, aos primeiros contactos, há cada vez mais confiança à direita de que vai ser possível formar um governo que afaste o PS do poder. E a “caranguejola” de direita já pensa no passo seguinte: como convencer o representante da República (e Marcelo Rebelo de Sousa) de que a maioria de direita é a solução mais estável. O Observador sabe que um acordo escrito para assegurar um mínimo de estabilidade política é uma hipótese forte em cima da mesa e está a ser seriamente estudada pelo líder regional do PSD/Açores, José Manuel Bolieiro.
O PSD sabe que na próxima semana pode ser chamado ao Representante da República e, nessa altura, quer ter algo sólido para apresentar a Pedro Catarino. É aí que o acordo escrito — solução que agradará a partidos como o PPM e o CDS — se impõe como o grande trunfo da direita. Se Vasco Cordeiro não tiver garantido uma maioria e, do outro lado, existir um acordo sólido, se possível escrito, o PSD acredita que até podem ser queimadas etapas: pode ser dada logo posse a Bolieiro para evitar que aconteça a Vasco Cordeiro o que aconteceu a Passos Coelho, que esteve 21 dias no Governo para depois ver o seu programa de Governo rejeitado e cair.
O processo está a ser acompanhado com muita atenção pelas direções nacionais dos partidos envolvidos. No PSD, assume-se que neste momento é possível formar uma alternativa de direita. Há dúvidas sobre o aspeto formal da aliança, mas tudo está a ser considerado. Tal como dava conta o Observador, o mais provável é que CDS e PPM sejam chamados a fazer parte do governo regional, esperando que Chega e Iniciativa Liberal viabilizem o executivo no Parlamento açoriano.
Na sede nacional do CDS, a palavra de ordem é prudência. Existe a consciência de que qualquer passo em falso pode comprometer as negociações e que o que está em jogo é demasiado volátil. Um acordo escrito é algo que não choca e que pode ser uma possibilidade também para os democratas-cristãos. Mas a regra mantém-se: o PSD terá de apresentar garantias de estabilidade à direita antes de o CDS entrar num barco ingovernável. Se Bolieiro falhar, logo se vê o que fará Artur Lima, líder do CDS/Açores.
Já as notícias sobre um eventual piscar de olho de Vasco Cordeiro ao CDS — PS, Bloco e CDS teriam maioria — dizem pouco aos democratas-cristãos, que estão genuinamente empenhados na solução de direita e veem nesses sinais de aproximação dos socialistas ao CDS um sinal de algum desespero. O PPM, que até foi a votos no Corvo em coligação com o CDS, está no mesmo barco: no que depender deles, o reinado do PS acabou.
A Iniciativa Liberal, que conseguiu eleger um deputado nestas eleições, não está fora da equação — e o voto contra um eventual programa de governo socialista é um dado adquirido. Mas os liberais estão atentos ao que vai resultar das negociações entre o PSD e Chega. Ninguém quer entrar em soluções exóticas, diz-se. Ainda é cedo para certezas seja do que for.
O Chega nunca votará a favor do programa socialista. E dará a mão ao PSD? É complicado, mas não impossível. Mantêm-se, para já, as duas condições que o Observador avançou também segunda-feira: um acordo para estudar uma revisão constitucional assinado entre André Ventura e Rui Rio; e o compromisso para reduzir para metade o número de beneficiários de Rendimento Social de Inserção (RSI) no arquipélago no espaço de uma legislatura. A primeira condição será impossível; a segunda improvável. Resta saber se há margem para negociar.