Há cientistas britânicos a defender que se acrescente vitamina D a alimentos como o pão ou o leite para combater a deficiência destes compostos na população do Reino Unido. É uma proposta antiga (de acordo com o The Guardian, tem sido debatida nos últimos 10 anos), mas que agora surge com um novo argumento: segundo os investigadores que defendem esta medida, ela pode ajudar a combater a Covid-19. Mas não há evidência científica robusta que o sustente.

Gareth Davies, médico cientista, é um dos defensores desta medida.

“Na minha opinião, está claro que a vitamina D pode não apenas proteger contra a gravidade da doença, mas também contra a infeção. A fortificação de alimentos precisaria de um planeamento cuidadoso para ser implementada de forma eficaz, especialmente porque as pessoas agora estão a tomar suplementos. A escolha dos alimentos precisa ser feita com cuidado”, argumentou.

Mas a opinião não basta. Um estudo espanhol publicado no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism indicou que 80% dos 216 doentes com Covid-19 internados no Hospital Universitário Marqués de Valdecilla tinham falta de vitamina D — um composto que o corpo produz naturalmente perante a exposição à luz solar.

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No entanto, a amostra daquele estudo é demasiado limitada para tirar conclusões sobre a relação entre a quantidade deste composto e a infeção pelo novo coronavírus. Aliás, o próprio relatório sublinhou que “não encontrou nenhuma relação entre as concentrações de vitamina D ou a deficiência de vitaminas e a severidade da doença”.

Um dos argumentos que tem sido apontado para relacionar os dois aspetos é o facto de um estudo de 2014 ter apontado que, em países como Itália, Espanha, China e alguns locais dos Estados Unidos, a população sofria de uma deficiência de vitamina D devido à falta de sol. Estes foram alguns dos países mais afetados pela Covid-19. No entanto, isso também significaria que os países nórdicos seriam mais afetados do que foram, por exemplo.

As respostas mais desenvolvidas podem vir de um estudo liderado Adrian Martineau, especialista em doenças respiratórias na Queen Mary University of London. A investigação arrancou no final de outubro e vai seguir cinco mil pessoas ao longo do inverno para descobrir se a vitamina D protege ou não da Covid-19 e de outras doenças respiratórias.

No Reino Unido, como a população não tem muita exposição ao sol por causa das condições meteorológicas, as autoridades de saúde recomendam que se tomem suplementos de vitamina D nos meses de outono e inverno — algo que já acontecia antes da pandemia de Covid-19. Em declarações ao The Guardian, o Serviço Nacional de Saúde britânico “aconselha as pessoas a tomarem um suplemento de vitamina D durante o outono e inverno e isso é particularmente importante este ano, pois muitas pessoas podem ter passado mais tempo em ambientes fechados devido à Covid-19″.

Ou seja, as autoridades de saúde britânicas dizem, de facto, que este ano é “particularmente importante” tomar vitamina D, não porque isso terá alguma vantagem no combate à doença provocada pelo novo coronavírus, mas porque, à conta do confinamento imposto nas medidas de contenção, a população pode passar ainda menos tempo exposta ao Sol — logo, produzirá menos vitamina D.