Uma mutação do vírus SARS-CoV-2 encontrada em visons na Dinamarca foi detetada também em 214 pessoas no país, de acordo com os últimos dados publicados pelo Statens Serum Institut, centro de referência dinamarquês doenças infecciosas. O Instituto acrescentou que as infeções foram detetadas entre as pessoas que trabalham em quintas de visons, mas também entre a população local.

Entre os infetados, 14 foram detetados fora da região da Jutlândia do Norte, onde o Governo dinamarquês anunciou na quinta-feira a imposição de restrições de movimento e depois de decidir abater cerca de 17 milhões de visons.

A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, disse, num comunicado, que os cidadãos daquela região não poderão deixar os seus municípios nas próximas quatro semanas. Além disso, durante esse período, a indústria hoteleira da região estará encerrada e todos os eventos culturais e desportivos serão suspensos. As escolas permanecerão abertas.

“A infeção entre as quintas de visons está a aumentar em número e extensão geográfica, sem que medidas preventivas tenham funcionado”, admitiu o Statens Serum Institut.

Novas variantes do novo coronavírus foram encontradas em visons, mostrando sensibilidade reduzida aos anticorpos de várias pessoas com histórico de infeção. Isso é sério, pois pode significar que uma futura vacina de covid-19 será menos eficaz contra a infeção para essas variantes”.

O instituto acrescenta que cinco variantes do SARS-CoV-2 foram detetadas em visons e que uma delas “exibe menos suscetibilidade a anticorpos de vários indivíduos com infeções anteriores em relação ao vírus não mutado”. Esta variante, afirma o Statens Serum Institut, foi encontrada em cinco quintas de visons e em doze amostras de infeções humanas nos meses de agosto e setembro.

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse nesta quinta-feira que está em contacto com as autoridades dinamarquesas para se manter a par dos acontecimentos.

Dinamarca vai abater 15 a 17 milhões de visons após mutação do novo coronavírus

Os especialistas ouvidos pelo STATNews reconhecem que a situação faz ligar todos os sinais de alerta e entendem que o governo dinamarquês tenha decidido eutanasiar todos os visons das quintas como forma de prevenção, mas também dizem que é pouco provável que uma mutação que surja nos visons venha a ser mais eficaz a infetar humanos. Pelo contrário, o que os especialistas veem é que o vírus se está a modificar para ser mais eficaz a transmitir-se entre visons.

Desde o início da pandemia, que se registou alguns casos entre visons e humanos que trabalhavam nessas quintas, com os humanos a passarem o vírus aos animais e estes a transmitirem-no entre si — se há coisa que não acontece nestes espaços é distanciamento físico entre os animais. O SARS-CoV-2 mostra uma capacidade equivalente de infetar visons e estes animais têm sido usado nas experiências de laboratório como modelos animais do que pode acontecer em humanos.

É certo que também há alguns casos de visons que passaram o vírus para humanos, mas é um grande salto imaginar que eles possam agravar a transmissão do vírus ou a situação da pandemia. Aliás, se o vírus se tornar tão bem adaptado aos visons, pode ser que nem se consiga transmitir entre humanos.

O SARS-CoV-2 já sofreu centenas de mutações desde o início da pandemia e apenas uma delas, até agora, mostrou ter alguma influência no desempenho do vírus enquanto agente causador de doença. É pouco provável que uma ou outra alteração ocorridas nos visons venha a ter tamanho impacto no vírus que torne, como alega o Statens Serum Institut, as vacinas ineficazes, disseram os especialistas ao STATNews.

Pode a mutação D614G facilitar a transmissão do coronavírus?

Por sua vez, o Ministério da Agricultura sueco confirmou, também nesta quinta-feira, um surto do novo coronavírus em visons na região de Blekinge (sul) que atinge dez quintas.

Depois de tomar conhecimento da situação na Dinamarca, o Governo britânico anunciou que retirou a Dinamarca da sua lista de corredores aéreos seguros. Os viajantes procedentes da Dinamarca serão obrigados a ficar em quarentena de 14 dias na sua chegada ao Reino Unido.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 1,2 milhões de mortos em mais de 48,1 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Atualizado às 16h30 com a opinião dos especialistas ouvidos pelo STATNews.