A Toyota, como marca individual, é quem mais carros vende por esse mundo fora. Mas, enquanto conglomerado, tem perdido a liderança para o Grupo Volkswagen nos últimos anos. Se não há como colocar em causa a importância da marca japonesa na indústria automóvel, também não há como não estranhar as recentes declarações do seu CEO, Akio Toyoda, o neto do fundador da marca, Kiichiro Toyoda, que em tempos decidiu mudar o foco da empresa dos teares para a indústria automóvel, há 83 anos.

Numa entrevista concedida à Bloomberg, Akio Toyoda foi questionado em relação ao facto de a Toyota ter sido ultrapassada em capitalização bolsista pela Tesla, um construtor cuja produção não deverá ultrapassar meio milhão de veículos, contra mais de 10 milhões do grupo nipónico. Isto enquanto o fabricante americano ultrapassou em bolsa os 400 mil milhões, contra 200 mil milhões do japonês.

A pergunta deverá ter sido interpretada pelo CEO como um desafio, para mais vinda de uma empresa americana, tal como a Tesla. Daí a resposta: “A Tesla pode pensar que tem a receita que serve como standard para o futuro e nós estamos a perder no que respeita ao valor das acções. Mas, quando se fala de produtos, a Toyota tem um menu completo que conquistará a preferência dos clientes.” Caso a Bloomberg não tivesse percebido à primeira, Akio Toyoda resolveu especificar: “A Tesla não está a fazer nada que seja real, pelo que as pessoas estão apenas a comprar a receita. Mas nós temos uma verdadeira cozinha e nós fazemos a verdadeira comida.”

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Depois desta (intempestiva) reacção do CEO japonês, algo invulgar entre os executivos do país do Sol Nascente, pelo menos em público, fica-se na dúvida se o aparente mal-estar se deve ao facto de a Toyota se ter desfeito do investimento de 50 milhões que realizou na Tesla em 2010 e que vendeu em 2017, quando as acções eram transaccionadas a 62 dólares a meio do ano, longe pois dos 429 dólares a que fecharam na última 6ª feira.
A alternativa, para explicar as afirmações inflamadas de Akio Toyoda, é o CEO ter testado os primeiros eléctricos da marca e ter percebido que o prato principal ainda está longe dos acepipes da concorrência. O mais fácil será repetir a receita do Supra, em que a Toyota adquiriu o restaurante, o chef e a receita à BMW, e rapidamente conseguiu um desportivo à altura, ainda que com o chassi, motor e suspensões do Z4.

De recordar que a primeira fábrica da Tesla, em Fremont, na Califórnia, pertenceu em tempos à Toyota e à General Motors, antes de fechar por falta de interesse dos clientes em alguns dos “pratos” que saíam daquela cozinha.

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