“Recebi imensos telefonemas, tive que preencher uma imensidão de formulários em papel, imprimir, digitalizar, tinha dificuldade em comparar os preços.” No final de 2017, Ana Teixeira percebeu que criar um seguro de vida em Portugal não era uma tarefa assim tão fácil. A burocracia, a logística, a informação complicada ou simplesmente em falta, tornaram-se num desafio. Mas foi precisamente aqui, no meio de todo este processo, que lhe chegou a ideia que viria a fundar o Mudey, o primeiro mediador de seguros em formato totalmente online.

Licenciada em Economia pela Universidade do Porto, com uma pós-graduação em Análise Financeira pela Porto Business School e um MBA Executivo em Cambridge, iniciado em 2011, Ana acabou por integrar diversas equipas de vários braços do grupo britânico BGL, um distribuidor digital de seguros e serviços financeiros domésticos. O primeiro desses braços foi o Beagle Street.

“Na altura já se faziam seguros de automóvel e casa através da internet, mas seguros de vida, como é um processo mais extenso, o Beagle foi o primeiro. Fiz parte da génese e acompanhei até que deu lucro”, explica ao Observador.

Passou depois por Paris, pelo Les Furets, neste momento o maior comparador de seguros em França e acompanhou o processo de crescimento. A Holanda foi a paragem seguinte, no grupo HoyHoy. “Sempre projetos inovadores na altura – 2012, 2013 e 2014 – nesta área digital”, conta.

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Antes de um curto regresso a Portugal, que lhe traria as fundações da sua própria insuretech, Ana rumou novamente a Inglaterra para ingressar na Dead Happy. “Aqui, a inovação foi a simplificação do produto; normalmente os seguros de vida têm um questionário médico bastante extenso. No caso do Dead Happy reduziram-se para apenas quatro perguntas e trabalhámos a parte do Marketing de forma extensa.” Em julho de 2019 deixou a posição de responsável financeira e concentrou-se no novo projeto.

“Em 2017 passei dois ou três meses em Portugal e quis fazer um seguro de saúde. Foi aí que percebi a dificuldade que existia e percebi, também, que com a minha experiência havia aqui uma oportunidade”, diz.

Deixou a ideia no papel, começou a falar sobre o assunto, a delinear uma estratégia e trouxe a irmã para a acompanhar na viagem pela construção do projeto. “A Sónia é da área de Direito, tem licenciatura e mestrado da Universidade Católica do Porto e é uma peça fundamental para nós na área da regulação, da proteção de dados e de compliance.”

Ana juntou a formação em Finanças à da irmã Sónia, em Direito, para juntas lançarem a Mudey

Contas feitas, foram entre 12 a 18 meses de implementação e uma ronda inicial de investimento, em que angariou 720 mil euros para construir a Mudey. “Já tinha alguma experiência com angariação de capital de risco e arranjámos, no final de 2019, business angels de Portugal, Brasil e Estados Unidos”, esclarece Ana. A mecânica de negócio é simples e vai ao encontro de uma só ideia: um mediador com produtos de sete parceiros (Allianz, April, Liberty Seguros, Metlife, Lusitânia, Asisa e Europ Assistance), prometendo simplificar ao máximo a aquisição de cada um destes.

O Mudey permite gerir até 11 modalidades de seguros através de uma carteira digital que permite ao utilizador concentrar no mesmo sítio todas as suas aquisições. “Ou seja, consegue, num só sítio, adicionar todos os seus seguros e detalhes da apólice, consegue também anexar todos os documentos dos seguros e permite ter uma gestão de renovação, além da parte de consultoria que, através dos dados que temos das pessoas, nos permite aconselhar novos produtos.”

Tudo isto, da simulação, comparação, compra e gestão, é feito online, de forma automática e dentro dos seguintes ramos: Vida, Saúde, Dentário, Acidentes Pessoais, Empregada Doméstica, Bicicleta, Trotinete, Drones, Crianças, Família e Viagem. A atividade é regulada pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensão (ASF) e estabelece que, caso o consumidor compre um seguro através de um mediador, este recebe uma comissão paga pela seguradora.

O Mudey permite gerir até 11 modalidades de seguros através de uma carteira digital

Mas a oferta “está constantemente a ser alargada”, até porque, diz, estão sempre sempre à procura de melhorar o serviço.

“Há um caminho que já estava a ser feito em Portugal no sentido da digitalização e do online. A parte positiva da pandemia, se a há, é que acelera a transição. As pessoas podiam ter alguma desconfiança e agora isso está a mudar de forma radical, muito por culpa das empresas que apostam na qualidade e na confiança. Este tempo de exceção serve para valorizar o serviço da Mudey mais rapidamente”, diz ao Observador.

Por agora a plataforma conta com mais de mil utilizadores inscritos e com cerca de oito mil visitas ao site, um início “bastante positivo” para Ana Teixeira que tem como plano chegar a outros mercados. “O investimento que conseguimos foi muito virado para aí. Ou seja, Portugal é o piloto para montar a plataforma e mostrar que o modelo funciona e depois é para arrancar para esses mercados. Como os nossos investidores são dessas áreas geográficas e já de certa forma relacionados com a área dos seguros, já temos lá um pé. E, em princípio, já há muito interesse em que lá comecemos a operar.”