Uma troca de identidades de duas idosas residentes no lar de São Lázaro, no Porto, ambas infetadas com o novo coronavírus, fez com que uma delas fosse cremada e velada pela família da outra — que estava, afinal, viva. O caso levou a que a Santa Casa da Misericórdia abrisse um inquérito.

As duas idosas tinham a mesma idade, 96 anos, e deram entrada no Hospital de Santo António, no Porto, com Covid-19 no mesmo dia. António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, disse à TVI que ambas as utentes “já estavam numa situação limite quando foram para o hospital” e “já nem conseguiam falar nem dar conta do que estava a acontecer, se lhe estavam a trocar os nomes”.

Foi isso que aconteceu. Uma das utentes, Palmira Godinho, acabou por morrer, mas como a identidade tinha sido trocada, o seu corpo foi entregue à família errada — a família da utente que, afinal, estava viva e a melhorar da doença e que todos pensavam que estava morta. Os familiares fizeram assim o funeral a outra pessoa e não se aperceberam uma vez que, por causa da pandemia, os caixões não são abertos.

Apercebemo-nos da troca de identidades exatamente quando a senhora regressou ao lar. Não coincidia com a identidade da pessoa que estava dada como falecida”, explicou o provedor.

A família de Palmira Godinho julgava que a idosa estava viva e só ficou a saber do sucedido depois de o lar ter dado conta do erro. A neta, Rute Silva, contou à CMTV que tinha até sido informada pelo hospital que a avó estava “fora de perigo”, que tinha uma infeção, mas que “já estava estável”. “Fiquei muito feliz”, contou. Mais tarde, no dia 12 de novembro, foi mesmo informada de que a sua avó ia “ter alta no final da semana e que já tinha dado negativo para a Covid-19”. Só que, no dia seguinte, a filha de Palmira Godinho é informada pelo lar de que, afinal, a mãe estava morta e tinha sido enterrada por outra família. A neta ainda voltou a ligar para o hospital e, de lá, disseram-lhe que a avó “tinha acabado de ter alta” — mas essa informação estava errada.

Agora, a família quer que as cinzas lhes sejam devolvidas para poder fazer-lhe o funeral e colocá-la no jazigo de família. “Foi o que ela sempre desejou”, disse a neta, ressalvando que a avó não queria ser cremada: “Acabou por ser tratada da forma que não queria”. O Ministério Público tem agora de atestar que Palmira Godinho está, afinal, morta.

A Santa Casa da Misericórdia já abriu um inquérito e alterou o protocolo da instituição. O provedor esclareceu que as duas idosas tinham consigo um documento com a identidade que terá sido trocado. “Enquanto durar este período [de pandemia] vamos usar uma pulseira com a identidade porque isso pelo menos permite que quem vai no hospital depois cortar a pulseira possa confirmar a identidade da pessoa”, explicou António Tavares. Também à TVI o INEM garantiu que não houve qualquer erro no transporte das utentes até ao hospital.

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