O desafio foi acrescido devido à pandemia de Covid-19, obrigou a caminhar por “terreno desconhecido”, mas, no fim, chegou-se a uma solução. Começa esta quarta-feira a terceira edição da Tomorrow Summit, um evento organizado pela Federação Académica do Porto (FAP) que tem como objetivo juntar estudantes e vários setores da sociedade para discutirem as grandes questões do futuro. Este ano, tudo acontece numa plataforma online, entre 25 e 27 de novembro, e o tema principal assenta no papel do Homem, da Máquina e do Planeta, tendo por base os dez desafios tecnológicos da próxima década.
Os últimos anos têm sido de uma evolução tão rápida que muitas vezes perde-se o hábito de discutir as mudanças e vai-se aceitando tudo. Além disso, tudo o que são as mudanças estruturais têm vindo do conhecimento, principalmente da tecnologia, e a Academia é o local, por natureza, para a criação desse conhecimento e tecnologia. A Tomorrow Summit foi uma forma de criar uma ponte de ligação entre a sociedade civil e a Academia para discutir os problemas da sociedade atual com especialistas e com pessoas que não são especialistas na área”, explica ao Observador Marcos Alves Teixeira, presidente da FAP.
A edição deste ano é realizada inteiramente online e é de acesso gratuito, mediante inscrição prévia na plataforma. Na lista de oradores há vários nome do Governo, como o ministro do Ambiente e Ação Climática, João Pedro Fernandes, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, a comissária europeia Elisa Ferreira e André de Aragão Azevedo, secretário de Estado para a Transição Digital. Haverá ainda intervenções da cientista Elvira Fortunato, do diretor da Cooperação para o Desenvolvimento na OCDE, Jorge Moreira da Silva, de Pedro Duarte, da Microsoft, entre outros.
Dentro da plataforma, explica o presidente da FAP, os utilizadores podem escolher as sessões a que querem assistir e participar em salas virtuais — cada uma com um tema diferente e dentro de dez desafios tecnológicos. Há também workshops, meetups temáticos e um espaço dedicado ao empreendedorismo e ao setor empresarial, onde empreendedores e startups vão poder expor as suas ideias e contactar diretamente com investidores e empresários. “A ideia é criar o ambiente de networking que se tem nos eventos presenciais e replicá-lo de uma forma diferente nesta conferência”, acrescenta Marcos Alves Teixeira.
Sobre a temática deste ano, o responsável da FAP explica que a equipa (constituída exclusivamente por estudantes da Academia do Porto) queria “uma perspetiva alargada sobre qual é que seria o papel do ser humano e da máquina no planeta, à luz de dez desafios tecnológicos ou relacionados com a tecnologia para a próxima década”. Em cada desafio — que vai desde a Inteligência Artificial à Sustentabilidade, passando pela Ética Digital e pela Saúde Digital — vai-se debater o papel do Homem, perceber quais são os problemas que existem e também qual pode ser o contributo dos mais jovens para resolver esses problemas.
O “caminho desconhecido” da pandemia e ligação entre a Academia e a sociedade
Quando, em março deste ano, a pandemia de Covid-19 chegou a Portugal, a Federação Académica do Porto teve de tomar logo uma decisão: este ano, e porque o evento “não dá para ser preparado num mês”, a Tomorrow Summit iria realizar-se online. Logo aí, explica Marcos Alves Teixeira, o desafio de organizar um evento destes foi ainda maior.
“Era um desafio no sentido em que não havia know-how [conhecimento] na área de eventos deste género. Foi um terreno totalmente desconhecido. Quando tomamos a decisão de fazer o evento online não tínhamos por onde nos guiar, não tínhamos muitas referências e foi um exercício de criatividade muito grande. Por si só, organizar o evento já foi um exercício de aprendizagem para todas estas áreas que vamos discutir”, explica.
A plataforma onde tudo vai acontecer foi “criada de raiz” por uma equipa de trabalho constituída por cerca de 20 pessoas. E uma das grandes particularidades, acrescenta o responsável da FAP, é o facto de este evento ser organizado exclusivamente por estudantes. “Também é um desafio para nós todos, enquanto jovens, conseguir criar estas plataformas. Felizmente o trabalho de dirigente associativo dá uma bagagem muito grande a quem trabalha e a FAP é também já uma estrutura com uma tradição de eventos”, acrescenta.
O evento surge também com o objetivo de “facilitar ou intermediar de forma mais eficaz e mais próxima o que é a transmissão do conhecimento para o resto da sociedade”, contando com um papel ativo da Academia e diminuindo, assim, a lacuna e falta de comunicação que muitas vezes existe entre os estudantes e os restantes setores da sociedade. Os desafios provocados pela pandemia foram grandes, mas vão também servir de teste para o futuro do evento.
Para já, há algumas lições: “Se há coisa que a pandemia tem feito é pôr em causa muitas das construções sociais ou a forma como nós vivíamos em muitas áreas. Há mudanças que estão agora a acontecer provocadas pela pandemia e motivadas pelas restrições que temos todos que cumprir, mas que estou certo que vão resultar em aprendizagens que vão ficar, porque são coisas melhores e faz parte da evolução da humanidade. É importante conseguirmos sempre ver o lado mais brilhante da moeda e aproveitar isso”.