Tic, tac, tic tac… As calotas polares estão a derreter seis vezes mais depressa do que nos anos 90, o nível do mar está a subir.  Em algumas regiões do planeta, os fenómenos meteorológicos mais extremos estão a tornar-se recorrentes, há mais períodos de pluviosidade em contraste com as vagas de calor. Estas informações abrem noticiários, sabemos que as sabe de cor. As previsões mostram que estes impactos vão intensificar-se nas próximas décadas e isso é preocupante, mas há boas notícias: o Centro de Portugal está virado para o futuro e a investir em políticas ambientais sustentáveis.

Há pessoas, projetos e empresas que estão a apostar na inovação tecnológica ao nível das energias renováveis em várias áreas. Vamos conhecê-los?

No Médio Tejo, a energia eólica está a ganhar terreno e Mação está entre os concelhos mais procurados para a instalação de empresas que trabalham com estes moinhos de vento modernos. O vento sopra e os vários parques eólicos destacam-se na paisagem, com vários aerogeradores, colocados estrategicamente em zonas ventosas e de grande altitude, a capturar energia cinética. Falamos da transformação da energia do vento em energia mecânica e por fim em energia útil, que é o mesmo que dizer em eletricidade. Explicações básicas feitas, importa dizer que a energia eólica é uma forma renovável, limpa e barata de obter energia, e que reduz a nossa dependência de combustíveis fósseis. Ora, o futuro é mais verde e Mação acompanha a tendência. E ainda bem.

Ainda no Médio Tejo, queremos contar-lhe a boa nova: a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo está a apostar no hidrogénio como fonte de energia limpa, renovável e alternativa. Simplificando, porque para complicado já basta o estado do nosso planeta, significa que a região tem trabalhado com vários parceiros e entidades num projeto que pretende utilizar a tecnologia do hidrogénio em áreas como transportes públicos rodoviários, na promoção da mobilidade suave e do cicloturismo.

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Depois desta visita, seguimos caminho até Idanha-a-Nova, a primeira bio-região portuguesa, e isso é importante porque mostra como o primeiro município português a integrar a Rede Internacional das Bio-Regiões tem assumindo um papel cimeiro na construção de um mundo mais sustentável. Ora, esta rede privilegia, acima de tudo, um conceito de respeito pelo ambiente e a implementação de uma estratégia de desenvolvimento sustentável dos territórios. E também é isso que o município tem feito ao longo dos últimos anos, ao assegurar a captação de milhões de euros em investimentos diretos e indiretos para projetos rurais que valorizam a agricultura familiar e os recursos naturais que abundam na região.

Green Valley Food Lab – diz-lhe alguma coisa? É assim que se chama o inovador projeto em Idanha-a-Nova, uma espécie de ‘Silicon Valley’ do mundo rural que acolhe empresas desse cariz, numa área de acolhimento com 800 hectares. A mudança não vem apenas do setor empresarial e o Festival Boom é prova disso: nos últimos anos tem vindo a conquistar vários prémios internacionais graças às inovações ambientais que apresenta a cada edição.

Do Fundão, chegam-nos vários projetos interessantes que estão a ajudar o nosso país a tornar-se mais amigo do ambiente, a caminhar a passos largos para um futuro mais sustentável e reconhecido por isso mesmo. Exemplo disso é a belíssima Aldeia Histórica de Castelo Novo, localizada num anfiteatro natural, no coração da Serra da Gardunha. Não é por acaso que falamos desta aldeia: é uma das doze que integra a rede de Aldeias Históricas de Portugal que nos últimos anos tem sido bastante reconhecida internacionalmente. Após receber, em 2018, o certificado Biosphere Responsible Tourism do Instituto de Turismo Responsável, uma organização internacional independente, tornando-se o primeiro destino em rede no mundo e o primeiro organismo nacional a receber este reconhecimento; este ano a surpresa foi ainda maior. A rede de Aldeias Históricas de Portugal tornou-se o primeiro destino português a liderar a comunidade internacional de Destinos Turísticos Sustentáveis, um cargo que tem à sua responsabilidade a dinamização do projeto nos 28 destinos que fazem parte desta rede mundial.

E de Turismo de Natureza, já ouviu falar? Também no Fundão, a 925 metros de altitude, encontramos o Natura Glamping em plena Serra da Gardunha: um espaço que promove experiências únicas, aliando a natureza à sofisticação do alojamento, privilegiando o respeito e proximidade autêntica com os recursos naturais. Conte com sete belíssimas ‘domos’ com vista deslumbrante para a Cova da Beira e Serra da Estrela. O turismo de natureza procura oferecer aos visitantes experiências inesquecíveis no meio natural, sem o danificar. A paragem, por aqui, é obrigatória.

Na Quinta do Prado Vasco, uma propriedade com 200 hectares, no Fundão, três jovens agricultores apostam no cultivo de fruta de caroço, sobretudo pêssego, nectarina e ameixa. O projeto é familiar e liderado por dois irmãos, um arquiteto e um engenheiro informático, e uma prima, psicóloga de formação. Os compridos campos de cultivo, que atualmente estão na fase da poda, mostram pomares muito bem compostos.

Do Fundão para a região das Beiras e Serra da Estrela e é importante passarmos por aqui porque o projeto turístico Vale das Lobas, em Forno de Algodres, está um passo à frente: está comprometido em investir na regeneração ecológica e económica do Vale do Mondego, nomeadamente através da oferta de soluções ligadas ao turismo de natureza – que respeita o desenvolvimento rural sustentável -, à agricultura regenerativa e à construção ecológica. Mais ainda: este projeto pretende criar empregos sustentáveis através de uma rede de iniciativas
empresariais.

Na cidade de Seia, já toda a gente sabe que outubro é mês de CineEco, um evento português com grande prestígio internacional. Trata-se do mais antigo e internacional evento dedicado ao ambiente em Portugal, que desde 1995 recebe durante uma semana, uma vez ao ano, os melhores realizadores, produtores, ativistas, biólogos e outros especialistas para discutir cinema, ambiente e sustentabilidade. Para o ano já sabe: espera-o várias conferências, debates, eco talks, concertos, workshops e exposições. Mais ainda: a decorrer paralelamente, e o ponto alto do CineEco, os visitantes podem ver centenas de filmes de todo o mundo, com muita qualidade e de cariz mais alternativo, no Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela.

E, agora, desloquemo-nos até Aveiro. Chama-se OLI e é uma empresa que produz autoclismos, com sede em Aveiro. E isto é importante porquê, especialmente num artigo sobre projetos do Centro de Portugal com cariz sustentável? Esta empresa, que diz ser a maior produtora de autoclismos do sul da Europa, poupou 105 mil euros num ano com recurso à energia solar fotovoltaica, após preencher a cobertura do complexo com 2.800 painéis. É bonito ver como as ações rumo a um país com menos emissões de carbono são concertadas a todos os níveis, não é? Também as empresas no Centro de Portugal estão comprometidas a aumentar a qualidade do meio ambiente da comunidade e a valorizar os seus recursos naturais. Outro projeto com um nome divertido, H2Cork, está a ser desenvolvido por investigadores da Universidade de Aveiro. Ora, esta equipa conseguiu produzir hidrogénio, um combustível renovável, utilizando um método limpo que recorre à cortiça, também ela renovável, e ainda retirar dióxido de carbono da atmosfera. Vale a pena ficar de olho.

Façamos um desvio no caminho para a costa Oeste. Já Luís Vaz de Camões falava, n’ “Os Lusíadas”, da ‘ocidental praia lusitana’ para referir-se a Portugal. Temos uma costa de 963 km banhada pelo oceano Atlântico e há quem esteja a investir no enorme e inesgotável potencial das nossas ondas para produzir eletricidade. Limpa e renovável, a energia marinha é uma das melhores fontes de produção de energia elétrica. Entre a Figueira da Foz e a Nazaré, em São Pedro de Moel, estão a ser construídas várias infra-estruturas ao largo da nossa costa, numa área de 320 km²  chamada Zona Piloto Portuguesa, que pretende potenciar o desenvolvimento tecnológico e a comercialização dessa energia elétrica. Destaque ainda para um outro projeto, o Waveroller, que está a ser desenvolvido em Peniche e recebeu um financiamento de 10 milhões de euros do Banco Europeu de Investimento, com o apoio do programa comunitário Horizonte 2020. Esta tecnologia permite converter a energia das nossas ondas em energia elétrica, através de painéis instalados no mar, com um circuito hidráulico no interior.

Arrancou recentemente um projeto muito interessante na região de Coimbra e que merece destaque neste roteiro. Falamos do Rurban Food, um projeto europeu liderado pela Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, que inclui oito regiões europeias. O propósito é claro: incentivar a criação de um rede de cidades comprometidas com conceção de planos alimentares que sirvam várias áreas urbanas e periféricas, com o intuito de aproximar a ligação entre o meio urbano e rural. Lê-se no site do projeto que esta abordagem pretende criar ambientes de produção e de consumo que respeitem a sustentabilidade económica, social e ambiental. Viva!

Outra iniciativa empresarial na região, a Medronhalva, está a fazer a diferença no Centro de Portugal: trata-se da primeira exploração de medronho certificada no mundo. A valorização desta espécie resistente ao fogo e durante séculos deixada ao abandono é um dos objetivos desta empresa, que aposta na diversificação e sustentabilidade da floresta. Uma cimenteira que produz microalgas? Sim, na região de Leiria, a empresa Secil criou um projeto que desenvolve tecnologias específicas para a produção de microalgas, com o intuito de sequestrar o CO2 emitido para a atmosfera. O resultado é espantoso: além de absorver o dióxido de carbono produzido pela cimenteira produz e comercializa o “ouro verde” da indústria alimentar, dietética e da cosmética. É na fábrica Cibra-Pataias, perto de Alcobaça, que a empresa aposta na investigação de soluções que coloquem o desenvolvimento sustentável da indústria cimenteira portuguesa em primeiro lugar.

Desde 1991 que quatro irmãos dão vida à empresa familiar Biofrade, uma quinta na Lourinhã que produz e comercializa apenas produtos de origem biológica. Os seus vastos campos de cultivo produzem anualmente uma variedade de produtos com qualidade, apoiando a biodiversidade e preservando os recursos naturais. A proteção do meio ambiente é uma responsabilidade que em nenhum momento é descartada: esta família de produtores agrícolas não só tem extrema atenção a todo o processo de cultivo da terra, respeitando a sazonalidade dos alimentos, como promove experiências para ensinar a colher e cultivar alguns produtos.

Da Lourinhã até a Torres Vedras é um pulinho, mas o desvio é merecido porque queremos contar-lhe que o Município assumiu, em 2010, dois importantes compromissos na área da sustentabilidade, nos quais continua a trabalhar: falamos da adesão ao Pacto de Autarcas, uma iniciativa da Comissão Europeia, nos quais os seus signatários se comprometeram a reduzir as emissões de CO2 no concelho, pelo menos 20% até 2020, através do recurso à eficiência energética e às energias renováveis, e da iniciativa Civitas à qual Torres Vedras se juntou. Esta última, também promovida pela instituição europeia, tem como objetivo a aplicação de estratégias para alcançar uma mobilidade urbana mais limpa, eficiente e sustentável.

Alenquer está de braços voltados para o futuro e o Alenquer Green Lab, uma pequena estrutura de madeira no centro do município que é prova disso. Trata-se de um espaço interativo, aberto a todos os cidadãos, onde a inovação e a experimentação são privilegiadas. Explicamos melhor: este espaço testa e demonstra soluções tecnológicas que promovam a redução do impacto ambiental na vida diária em Alenquer, impulsionando o processo de descarbonização das atividades da vila. As antigas lâmpadas do sistema de iluminação público deram lugar à tecnologia LED e à utilização eficiente e inteligente dessa iluminação; um sistema inteligente de apoio à procura de estacionamento está também a facilitar os habitantes de Alenquer a diminuírem as típicas voltinhas desnecessárias à procura de parqueamento, logo reduzirem a sua pegada ambiental e o sistema de rega dos espaços verdes foi otimizado, enumerando algumas mudanças positivas. Importante não esquecer também que é aos poucos que a mudança acontece e por isso a vila também cortou a circulação em algumas áreas no centro da vila e colocou à disposição dos seus habitantes alternativas de mobilidade suave como bicicletas elétricas e um transporte coletivo elétrico. Enquanto a vida decorre, estas mudanças podem ser monitoradas no Alenquer Green Lab, que através de um software inovador e pioneiro consegue medir em tempo real o verdadeiro impacto positivo dessas ações.

Antes de fecharmos este texto, há que dizer que existe um grupo português, o Cavalum, que está a criar bastante valor na promoção e desenvolvimento de operações de produção de energia, lá está, obtida através de fontes renováveis. Uma empresa com 20 anos de experiência que não descura a consciência ambiental e o desenvolvimento sustentado.

É pouco a pouco, são pequenas mudanças hoje, para um mundo descarbonizado amanhã. Quando o planeta pede, há que ouvir e fazer melhor: aproveitar as oportunidades do momento e comprometermo-nos com um futuro mais verde, mais sustentável. Porque esta é a nossa casa: o Centro do país sabe disso e está a trabalhar com olhos postos no equilíbrio do meio ambiente.

O relógio não parou enquanto lia este texto: tic, tac, tic tac… Contamos consigo?