A morte de crianças por malária durante a estação chuvosa, quando se registam mais casos e mortes, baixou 57% na Gâmbia e 42% no Burkina Faso graças a um tratamento que custa anualmente três euros por criança, segundo um novo estudo.

A investigação, publicado na revista The Lancet, demonstra o impacto da Quimioprevenção Sazonal do Paludismo (SMC), uma combinação dos antimaláricos sulfadoxina-pirimetamina com amodiaquina, administrada sob a forma de comprimidos uma vez por mês, durante a estação chuvosa de quatro meses, por agentes de saúde comunitários.

A SMC já tinha demonstrado que reduzia significativamente os casos de paludismo entre as crianças, mas este novo estudo é “a primeira prova do impacto nas mortes por malária em crianças”, pelo que os autores apelam a uma ampla administração em toda a África Ocidental e Central.

O estudo “Alcançar a expansão catalítica do SMC no Sahel” (ACCESS-SMC, sigla em inglês), agora publicado, avaliou a segurança e eficácia da SMC em termos de escala, custos de entrega, relação custo-eficácia e os efeitos sobre a resistência aos medicamentos, entre 2015 e 2016, em sete países: Burkina Faso, Chade, Gâmbia, Guiné, Mali, Níger e Nigéria.

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Foram identificados baixos níveis de resistência aos tratamentos sazonais, mas os autores consideram necessária uma monitorização molecular contínua para proporcionar um alerta precoce de perda de eficácia.

Em 2019, a malária causou 643.000 mortes a nível mundial e mais de metade (356.000) eram crianças com menos de 5 anos, a grande maioria na África Ocidental e Central.

Na região sub-Sahel de África (do sul do Senegal e norte da Guiné até ao Chade e norte dos Camarões), a SMC é dada mensalmente às crianças, durante a estação chuvosa.

Os comprimidos são administrados durante três dias: dois no primeiro dia, um no segundo e outro no terceiro.

Alguns ensaios clínicos apontaram para uma redução da malária, incluindo a malária grave, na ordem dos 75%.

Para Paul Milligan, da London School of Hygiene & Tropical Medicine (Reino Unido), um dos autores do estudo, “esta avaliação do aumento da implementação da SMC fornece as primeiras provas de um impacto na redução das mortes por malária em crianças”.

O projeto aumentou a procura de medicamentos SMC, o que por sua vez encorajou os fabricantes de medicamentos a aumentar a capacidade e a desenvolver formulações favoráveis às crianças.

Existem agora programas em 13 países que atingiam cerca de 22 milhões de crianças em 2019. Contudo, cerca de oito milhões de crianças que vivem em áreas adequadas para a SMC estão a ser esquecidas. A entrega precisa de ser otimizada para assegurar níveis elevados de cobertura em todas as regiões, segundo a publicação.

Durante o período em análise, a SMC reduziu as mortes por paludismo em crianças durante a estação chuvosa em 42% no Burkina Faso e em 57% na Gâmbia.

A incidência de malária grave foi reduzida na Gâmbia em 55%, durante 2015 e 2016, e em 27% no Burkina Faso, em 2015. Os dados para 2016 não estavam disponíveis.

Em todos os sete países, os casos de malária ambulatorial diminuíram, variando entre uma redução de 25% na Nigéria, em 2016, e de 59% na Gâmbia, no mesmo ano.

Cada tratamento mensal demonstrou um elevado grau de proteção pessoal durante quatro semanas, reduzindo a incidência da malária em mais de 80% durante este período.

A proteção cai então rapidamente, com o medicamento a reduzir a incidência da malária em 61% entre o 29.º dia e o 42.º dia após o tratamento.

Por esta razão, avançam os autores, os tratamentos devem ter um intervalo estrito de 28 dias para manter elevados níveis de proteção.

O estudo refere que mais de 12 milhões de tratamentos SMC mensais foram administrados em 2015 a uma população alvo de mais de 3,6 milhões de crianças e 25 milhões de tratamentos SMC em 2016 a uma população alvo de 7,6 milhões de crianças.

Em 2015, 86% das crianças receberam pelo menos um tratamento, enquanto 55% receberam os quatro tratamentos. Em média, 76% das crianças receberam o tratamento todos os meses. Números semelhantes receberam tratamento em 2016. Em ambos os anos, a cobertura variou entre os sete países.

A entrega porta a porta demonstrou ser o método mais eficaz de chegar às crianças, especialmente nas zonas mais pobres.

O controlo da segurança através do sistema nacional de farmacovigilância em cada país foi melhorado para garantir que o fármaco permanecesse seguro quando administrado em grande escala.

As reações adversas graves foram pouco frequentes, o que estava em conformidade com os ensaios clínicos anteriores.

Em 779 relatórios de segurança de casos individuais relacionados com o tratamento de SMC que estavam disponíveis no estudo, incluindo casos de erupções cutâneas e perturbações gastrointestinais, foram registadas 36 reações adversas graves a medicamentos, mas todas estas crianças recuperaram e nenhum caso de reações cutâneas graves foi relatado no estudo.

Yacine Djibo, diretor-executivo de Speak Up Africa e autor do estudo, afirmou: “Apesar dos desafios de entregar tratamentos mensais porta a porta, é possível conseguir uma elevada cobertura, reduzindo a inaceitável taxa de mortalidade infantil associada à malária”.

Estas conclusões devem apoiar os esforços para manter níveis elevados de cobertura da SMC e é muito encorajador ver que, desde o fim do ACCESS-SMC, os países do projeto transitaram com sucesso para outras fontes de financiamento e mais países iniciaram programas sazonais de quimioprevenção da malária”.