O deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro, cujo nome aparece no despacho de acusação do caso Tancos por ter trocado mensagens com o à data ministro da Defesa Azeredo Lopes, já prestou por escrito o seu testemunho ao tribunal de Santarém. O também líder da concelhia do PS do Porto garante que das respostas que recebeu do ex-governante, quando o felicitou em outubro de 2017 pela recuperação das armas, nada lhe pareceu que fosse digno de “censura”, lê-se nas declarações a que o Observador teve acesso.

A troca de SMS entre Azeredo Lopes e o deputado é uma das provas usadas pelo Ministério Público, e elencadas na acusação, para provar ao tribunal que Azeredo Lopes sabia da investigação da Polícia Judiciária Militar à revelia da Polícia Judiciária civil. E que o ex-ministro nada fez mesmo sabendo estar a ser feita de forma ilegal. Por isso acusa-o dos crimes de denegação de justiça, e prevaricação em co-autoria, favorecimento pessoal e abuso de poderes.

No telemóvel de Azeredo Lopes estava uma mensagem escrita enviada às 15h51 horas do dia 18.10.2017, do deputado Tiago Barbosa Ribeiro para Azeredo:

Parabéns pela recuperação do armamento, grande alívio..! Não te quis chatear hoje

Eu sabia, mas tive que aguentar calado o porrada que levei. Mas, como é claro, não sabia que ia ser hoje, respondeu o ex-ministro.

Azeredo Lopes já justificou em tribunal que estas mensagens não foram “sequenciais”. São intercaladas por outras mensagens. “O vernáculo pode ser usado em mensagens!”, ressalvou. Afirmou também que disse ter aguentado “calado” pela “circunstância de sistematicamente desde o início ser perguntado pelo andamento da investigação criminal”. Que não podia dizer que tinha esperança que tudo seria resolvido.

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O deputado perguntou depois:

 Vens à AR explicar?

— Venho, mas não poderei dizer o que te estou a contar. Ainda assim, foi uma bomba

O ex-ministro contou que esta resposta se deveu ao facto de não poder falar do telefonema da procuradora. “Não há aqui nenhuma vontade de explicar o que quer que seja”, afirmou perante o coletivo de juízes.

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Já o deputado, a resposta ao tribunal que entrou no processo a 27 de novembro, assumiu as mensagens de felicitações no dia em que se soube publicamente da recuperação das armas. “Da sua resposta não entendi, de forma alguma, qualquer tipo de atitude que merecesse censura nem nada que sugerisse qualquer tipo de conhecimento ou acção não conforme às leis, às regras de ética”. E mesmo quando o ex-governante lhe respondeu que “sabia”, o líder do PS do Porto interpretou como um “desabafo da sua convicção sobre o desfecho da investigação que estava em curso”. Nada mais.

“Não tendo qualquer razão para não achar que não era acompanhada pela tutela com toda a normalidade, bem como o que o então ministro poderia vir a dizer sobre ela nos termos da leu e do regular escrutínio em matérias de defesa nacional”, lê-se.

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Arrolado como testemunha pelo Ministério Público, o deputado foi ainda confrontado com os encontros de Azeredo Lopes com o emtão diretor da Polícia Judiciária Miltar -. também ele arguido no processo — assim como  o encontro em Tancos logo após o crime em que esteve também o presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Tiago Barbosa Ribeiro disse desconhecer tudo isso, tendo apenas conhecimento do caso pela comunicação social.

O deputado é o terceiro político a responder por escrito ao tribunal de Santarém, onde decorre o julgamento de 23 arguidos, num processo que envolve os acusados pelo assalto e os acusados por uma investigação que foi considerada ilegal. Marcelo Rebelo de Sousa respondeu a 12 de novembro, explicando que soube que havia uma encenação da recuperação das armas pela então Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, ainda antes das detenções. Já o primeiro-ministro António Costa reiterou, a 26 de novembro, que nada soube, nem da encenação nem do descontentamento da PJM quando soube que a investigação do furto aos Paióis Nacionais de Tancos tinha passado para a PJ civil.