O antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho tornou a quebrar o silêncio esta sexta-feira, acabando por deixar várias críticas ao atual Governo em temas tão díspares como a TAP, a morte de Ihor Homenyuk ou aquilo que diz ser a “passividade sem explicação” perante a crise de segurança no norte de Moçambique.

Pedro Passos Coelho falou na conferência “Globalização em Português: Revoluções e Continuidades Africanas”, evento que serviu para comemorar os 150 anos do nascimento do empresário Alfredo da Silva, fundador do Grupo CUF. Porém, para o antigo primeiro-ministro, serviu para deixar várias críticas ao atual Governo — e para tal foi a vários temas da atualidade.

No caso da injeção de capital na TAP, Pedro Passos Coelho recordou que foi o atual Governo, liderado por António Costa, que tomou a decisão reverter a privatização da TAP — medida essa que foi tomada por aquele antigo primeiro-ministro.

“A TAP prepara-se, se Bruxelas der autorização, para canalizar o que lhe falta na saúde, na educação, na ciência ou na ajuda à economia, para injetar na TAP redimensionada, com milhares de despedimentos inevitáveis, menos aviões e atividade, sem no entanto explicar ao país que apenas o fará porque reverteu uma privatização que vários governos tentaram, mas só um conseguiu concretizar”, disse Pedro Passos Coelho, citado pela Rádio Renascença. O também ex-presidente do PSD sublinhou que esta será uma “fatura que o Governo se prepara para endossar” e que vai ser “suportada por muitos anos, por muitos governos e demasiados contribuintes, a quem o Estado não vê hoje com respeito e parcimónia”.

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Quanto ao caso de Ihor Homenyuk, o cidadão ucraniano que foi morto nas instalações do SEF do Aeroporto Humberto Delgado, Pedro Passos Coelho falou numa “incompreensível inação” e uma “superior dificuldade em admitir as falhas graves incorridas”.

“Depois de meses de incompreensível inação após os factos serem conhecidos, e com a autoridade do Estado seriamente abalada e a confiança nas instituições públicas beliscada, tudo tem servido para procurar disfarçar o indisfarçável: a superior dificuldade em admitir as falhas graves incorridas ao não se ter atuado prontamente”, apontou o antigo primeiro-ministro, que acrescentou que este é um caso de “fuga às responsabilidades” dos “dirigentes” do Estado.

Essa dificuldade de admitir falhas, continuou Pedro Passos Coelho, levou depois a que lançasse “o opróbrio injusto sobre toda a força de segurança em causa, nomeadamente apontando para o seu esvaziamento funcional, em vez da simples e pronta assunção de responsabilidade”.

Pedro Passos Coelho estendeu ainda essa crítica a outro tema: o dos resultados obtidos pelos alunos do 4º ano a Matemática no relatório “Tendências Internacionais de Matemática e Ciências” (TIMSS, na sigla inglesa). Entre 2015 (data do anterior relatório) e 2019, o desempenho dos alunos do 4.º ano caiu 17 pontos em absoluto, apesar de ter subido de posição em relação aos restantes países no estudo. Em reação, o secretário de Estado da Educação, João Costa, apontou o dedo ao governo anterior, dizendo que “esta é uma geração que é inteiramente das Metas Curriculares”, em alusão à reforma implementada pelo Governo de Pedro Passos Coelho e o ministro da Educação Nuno Crato.

Pedro Passos Coelho diz que esse é um apontamento “ridículo” e falou em “populismo e facilitismo”.

“O facto de o atual Governo ter preferido culpar o Governo que chefiei, e que já terminou funções há mais de cinco anos, por estes resultados que incidem sobre o percurso escolar de alunos que iniciar os seus estudos já no âmbito das reformas introduzidas pela atual equipa governativa, além de ridículo, apenas serve para sublinhar como o populismo e facilitismo podem animar o debate político”, disse, de acordo com a Rádio Renascença.

Houve também espaço para falar sobre Moçambique, a braços com uma grave crise de segurança a Norte, em Cabo Delgado, onde milícias rebeldes e terroristas têm vindo a tomar controlo de partes significativas do território, sem que as forças armadas moçambicanas e as empresas contratadas por Maputo (como os russos da Wagner) consigam reverter a situação.

Este mês, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, fez uma visita oficial a Moçambique. Em comunicado do Ministério da Defesa de Moçambique, lê-se que o ministro Jaime Neto “reiterou o pedido de apoio feito à União Europeia e agradeceu a resposta pronta de total disponibilidade em prestar assistência ao país”. Dessa visita, resultou o compromisso de Portugal no sentido de apoiar Moçambique na organização logística e capacitação de militares no combate ao terrorismo — mas, para já, ficou descartada a possibilidade enviar tropas para aquele território.

O tema de Moçambique surgiu en passant quando Pedro Passos Coelho se referia ao tema específico da sua comunicação (“Globalização em Português: Revoluções e Continuidades Africanas”), dizendo que a lusofonia tem andado “distante das preocupações dos poderes públicos”.

“Ainda para mais quando há situações que bem reclamam uma outra atitude de responsabilidade e de solidariedade, como acontece perigosamente com Moçambique, por exemplo, cuja, pelo menos aparente, passividade portuguesa não tem explicação”, acrescentou.