Um incêndio num prédio de quatro andares, no centro de Lisboa, causou este domingo um ferido grave, que permanece no hospital de São José com “prognóstico reservado”, avançou fonte hospitalar ao Observador. Um jovem de 24 anos, que estava desaparecido, foi encontrado morto nos escombros do prédio, segundo confirmou a Rádio Observador com os Bombeiros Sapadores de Lisboa.

As buscas continuaram durante toda a noite e madrugada. O residente de 24 anos foi encontrado morto às 02h45 — o Correio da Manhã e a Blitz identificam o jovem como sendo Gastão Reis, músico de 24 anos, baixista e vocalista da banda Zarco. Os outros quatro feridos ligeiros já tiveram alta. O ferido grave é pai do jovem encontrado morto e, segundo o Notícias ao Minuto, está internado no hospital de São José com queimaduras em cerca de 95% do corpo.

Inicialmente, Carlos Castro, vereador da Câmara Municipal de Lisboa com o pelouro da Proteção Civil, chegou a dar conta de que duas pessoas estariam desaparecidas, mas uma delas foi entretanto localizada e não se encontrava no edifício na altura do desabamento.

Pouco antes das 20h, Carlos Castro fez novo ponto da situação, mas havia pouco a acrescentar. As equipas de resgate e os bombeiros iam continuar “à procura da pessoa desaparecida”. “Continuam a faltar uma pessoa e vamos continuar aqui, toda a noite, até a encontrarmos. Tem sido e vai continuar a ser uma operação morosa”, disse Carlos Castro, quase doze horas depois do incidente.

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“Vamos retirar os escombros para ver se o encontramos. Não vamos sair daqui até clarificar isso”, disse ainda o vereador, salientando que se trata de uma intervenção que tinha de ser feita com muita precaução. O vereador também ressalvou que era preciso “garantir as condições de segurança de todos os operacionais”. Por exemplo, disse, “para entrar no edifício estas condições não estão garantidas”.

Carlos Castro também confirmou que o ferido grave “é o pai” da pessoa que continuava desaparecida. A explosão que fez cair o prédio, disse ainda, terá sido causada por uma fuga de gás, mas é “uma informação que ainda não é 100 por cento segura”.

Os moradores dos prédios contíguos (47 pessoas) foram retirados de casa por precaução e encaminhadas para respostas sociais ou casas de familiares e amigos. Os prédios foram alvo de avaliação, pelos engenheiros civis da Câmara Municipal de Lisboa, durante a tarde e cerca das 16h30 alguns dos moradores dos prédios no número 39 e 40 estavam já a regressar às respetivas casas.

Carlos Castro revelou que 34 destas pessoas já podem regressar (25 delas ao alojamento local que fica ao lado do prédio). E há outros 13 que já encontraram alojamento, por meios próprios, noutros locais.

O edifício onde se deu a explosão e o incêndio “não oferece qualquer condição de segurança para se operar com grande estabilidade”, sendo que, entretanto, “parte de um piso e da parede lateral do edifício” ruíram. “Já foi desobstruída parte do acesso ao edifício” e as equipas cinotécnicas do Regimento de Sapadores Bombeiros e da PSP  continuam, assim, a procurar o desaparecido.

O vereador deixou ainda uma nota sobre o Hospital de Santa Marta, que está localizado perto do local da derrocada. Os esforços das equipas, disse Carlos Castro, foram também no sentido de permitir que na segunda-feira todos os utentes do hospital pudessem ter as suas consultas. “As ambulâncias terão de entrar pela parte norte e não pela rua de Santa Marta, mas vamos fazer um corredor de segurança para que as pessoas a pé possam entrar no hospital”, disse.

Os edifícios contíguos “apresentam danos estruturais, mas não há risco de ruir”. Os técnicos de engenharia da unidade de intervenção territorial da Câmara Municipal de Lisboa têm vindo a fazer avaliações dos prédios ao longo da tarde e início da noite.

Carlos Manuel Castro destacou também que imagens recolhidas por um ‘drone’ [aparelho aéreo não-tripulado] permitem verificar que a cave do edifício – ao longo da tarde – continuava com material em combustão, “o que estava a dificultar o trabalho”. “Os trabalhos estão concentrados na remoção dos escombros à frente do edifício, para que permitam às equipas cinotécnicas entrar dentro do edifício”, afirmou o vereador.

Durante a manhã, os cães que realizaram as buscas depararam-se com duas dificuldades: o fumo e a humidade que está no local, que se deve à intervenção dos bombeiros. Estes fatores interferem com a capacidade de os animais farejarem o local. No local estavam – cerca das 16h30 – “mais de 80 pessoas”, entre Bombeiros Sapadores, Bombeiros Voluntários, a Polícia Municipal, a PSP, a Proteção Civil e técnicos de eletricidade e de gás.

De acordo com os Bombeiros Sapadores, o alerta foi dado às 07h48 para uma explosão seguida de incêndio num prédio na Rua de Santa Marta, números 41/42. Suspeita-se que a causa da explosão esteja relacionada com uma fuga de gás. “Parte da fachada do prédio caiu para a via pública em cima de viaturas”, disse à Lusa o oficial de dia da PSP.

O incêndio foi extinto na parte da frente do edifício, mas pouco depois das 9h00 ainda continuava a ser combatido.

Ainda durante a manhã, o comandante dos bombeiros, Tiago Lopes, chegou a indicar que “uma das empenas do edifício não inspira confiança” para que os bombeiros pudessem entrar no edifício, pelo que estão a recorrer a cães. “Caso os cães não detetem qualquer vida, temos de entrar, com remoção dos escombros de forma meticulosa para não criar mais danos aos prédios contíguos também”, disse, salientando que é um trabalho que pode demorar horas. “Só podemos mexer uma pedra quando tivermos a certeza de que não está ninguém por baixo”, acrescentou.

Estes edifícios são “em pedras resistentes e tabique, o que dá fragilidade tanto ao edifício como aos prédios adjacentes”. A parte da frente do edifício ruiu e várias projeções atingiram o Hospital de Santa Marta. A explosão atingiu também viaturas estacionadas naquela rua, que se encontra cortada ao trânsito.

Vi “senhores de pijama cheios de pó, a tentar saltar do prédio”

À equipa da Rádio Observador no local, a moradora que deu o alerta aos bombeiros relata que ouviu uma “explosão enorme”. Dirigiu-se da Rua Alexandre Herculano, onde reside, para a Rua de Santa Marta, onde ouviu “pessoas a gritar”, pedindo que chamasse os bombeiros.  Viu “senhores de pijama cheios de pó, a tentar saltar do prédio”. “Vejo outra senhora do prédio ao lado a gritar ‘Socorro, Socorro’. Vou chamar os Bombeiros e começo o ver a prédio a arder“, conta.

“Há um casal que vivia no prédio ao lado, que teve logo de sair. Conseguiram-se vestir, mas têm a casa toda destruída. Dizem que a cama deles saltou para a rua.” Oiça aqui o relato.

O repórter do Observador no local descrevia, pelas 10h00, que se avistava uma grande quantidade de fumo. O prédio localiza-se perto da Universidade Autónoma, da Avenida da Liberdade e da Praça do Marquês de Pombal. Naquele edifício funcionava o restaurante O Mastro.

Prédio cai em Lisboa. “Foi uma explosão enorme”

Uma outra testemunha, que trabalha numa pastelaria junto ao prédio que desabou, disse à Rádio Observador que, após a explosão, viu “pessoas soterradas com os braços de fora a pedir socorro“. Em conjunto com outros cidadãos tentou socorrê-las, mas sem sucesso. “Não conseguimos fazer nada, ligou-se para o 112 e estivemos à espera que chegassem os bombeiros”, aponta José Cruz.

Os danos terão chegado a outros edifícios. “O terceiro prédio também tinha brechas no quarto e as portas, com o impacto do estrondo, não abriam, as pessoas não conseguiam sair“, afirma.

António Domingues, dono da mesma pastelaria, refere que não sabe se o estabelecimento está em condições para funcionar.

Fumo dificulta buscas por desaparecidos depois da queda de prédio no centro de Lisboa

Uma moradora de um prédio que se localiza nas traseiras do edifício desabado conta que ficou com as janelas dos quartos destruídas, assim como as portas e as fechaduras do quintal. Acrescenta que tem vidros em cima das camas. “Pensava que ia morrer”, conta Maria José Figueiredo à equipa do Observador no local.

Pensei que fosse um terramoto, mas depois começámos a ver o fogo“, adianta. Os bombeiros arrombaram-lhe a porta com receio de que estivessem feridos. “Estavamos no quintal e não ouvimos baterem à porta. Entraram e começaram a gritar ‘Está aqui alguém? Está aqui alguém?”