Enquanto falava sobre o caso SEF, Marcelo Rebelo de Sousa começou por tentar fugir à questão se Eduardo Cabrita tem condições para continuar, já que “o candidato só pode dizer o que o Presidente pode dizer”. Em entrevista à TVI como candidato presidencial, o Presidente da República apontou, no entanto, de forma velada a porta da saída a Eduardo Cabrita, dizendo que a diferença para Constança Urbano de Sousa é que — após declarações idênticas do chefe de Estado — o atual ministro da Administração Interna não pediu a exoneração.
Marcelo Rebelo de Sousa diz mesmo que foi tão duro com Eduardo Cabrita como foi com Constança Urbano de Sousa. O Presidente explica que, na altura, “disse que valia a pena pensar se quem, no plano da administração pública, exercia funções que tinham conduzido a certo resultado, seria indicada a mudança para essas mesmas pessoas”. Agora diz que fez parecido: “Usei há dias em Belém uma expressão que era paralela a essa num plano diferente“. Diferença: “A senhora ministra pediu a exoneração na altura, agora não tenho conhecimento que tenha havido pedido nem proposta de exoneração do senhor ministro da Administração Interna”.
Ainda sobre o que levou à morte de um cidadão ucraniano às mãos do SEF, Marcelo Rebelo de Sousa diz que “houve uma consequência política que foi a saída da diretora do SEF e a reestruturação do SEF.”
E Eduardo Cabrita não foi o único ministro visado pelo Presidente da República com dureza nas palavras. Sobre a escassez de vacinas para gripe e o facto de ele próprio e a ministra terem garantido que haveria vacina para quem a quisesse tomar, Marcelo Rebelo de Sousa diz que “é verdade: os portugueses foram enganados e eu já reconheci isso numa entrevista a um canal concorrente, reconheci que eu disse baseado naquilo que era a convicção da ministra da Saúde que estava ao meu lado.” E a seguir tentou amenizar a farpa que acabara de mandar ministra: “Ela própria também não esperava aquele movimento que existiu”.
Marcelo reiterou ainda — também quando se discutia o facto de não ter dado as condolências à viúva nos nove meses que seguiram — que “nunca ninguém o ouviu de falar de processos concretos”. Já “em relação a contactar vítimas”, o Presidente emendou a mão relativamente ao que tinha dito na entrevista à SIC — quando tinha dito que não o fazia com processos em curso — dizendo agora que a sua preocupação é “intervir o mais rápido possível”. O Presidente da República diz que nos casos em que o fez já teve “muita dificuldade” em cumprir o objetivo essencial e que quando isso ocorreu foi depois dos processos estarem muito mais avançados.
“Não é desejável nem previsível uma crise política em 2021”
Marcelo Rebelo de Sousa volta a dizer que, no segundo mandato, vai ser igual ao primeiro e não endurecer o tom: “Os princípios que vou obedecer são os mesmos. Eu sou o mesmo”. O Presidente diz que vai procurar a “proximidade, estabilidade e compromisso no essencial” e para isso vai empenhar-se no “reforço da área de poder para ser sustentável e reforço da oposição para o Presidente dispor de alternativa em caso de crise”.
O candidato presidencial nega ter sido menos duro com o Governo e disse mesmo que a “dureza é muito relativa”. E justificou: “No mandato em curso, exerci o direito de veto mais vezes do que a generalidade dos meus antecessores. Vetei a lei em matérias fundamentais”. E deu um exemplo, puxando a brasa à sua dureza: “Foi aprovada no Parlamento uma lei agora sobre a celebração de contratos públicos relativamente aos fundos que vêm de Bruxelas. Qual podia ser a tentação de um Presidente fim de mandato? Fazer vista grossa. Mas eu vetei”.
Marcelo admite que o “segundo mandato vai ser mais difícil porque continua a ter pandemia”. E ensaiou um pequeno elogio a Passos Coelho: “Entrei sem pandemia, à saída de uma crise já preparada pelo Governo anterior“. Mas agora tudo é pior porque a incerteza é grande: “Vamos ter por quantos meses pandemia? Vamos ter durante quantos anos crise económica e social? Quanto mais tempo for a pandemia, maior é a crise. Quanto maior for isto tudo, maior é o stress político.”
Ainda assim, como as lideranças partidárias só vão internamente a votos em 2022, Marcelo Rebelo de Sousa diz que “não é desejável e não é previsível nenhuma crise política em 2021“.
O candidato voltou a dizer que não vê “constitucionalmente como dizer que não” a um Governo apoiado pelo Chega. “Imagine que o candidato André Ventura é eleito Presidente da República. Não lhe dá posse?”, questiona. Apesar disso, volta também a dizer que “se fosse líder partidário, com quem queria formar Governo? Com o PSD e com o CDS.”
O Natal segundo Marcelo: “Para mim, o ideal são cinco à mesa”
Sobre a sugestão que dá aos portugueses, Marcelo diz que no dia 23 vai almoçar fora num restaurante com a família que vem do Brasil e “como são ligeiramente mais do que 5 ficam em duas mesas espaçadas”. Nesse dia, vai jantar com os irmãos e as cunhadas e são novamente cinco. No dia 24 vai almoçar com a parte da família que sobra, sendo cinco novamente.
No dia 25 não vai almoçar nem jantar, o que pode significar que eventualmente terá ações. Já no dia 26, como não é o Presidente que está a organizar e diz que “são sete” a previsão, Marcelo ainda está “com dúvidas” se irá a esse evento familiar.
Marcelo diz que, para ele, o número ideal “são cinco” pessoas à mesa, mas admite que sejam considerados os números da Europa que vão de 8 a 12. No entanto, apela aos portugueses que “não estraguem” o que foi feito até agora. E deixou o aviso que tanto ele como o primeiro-ministro têm ciente que farão “tudo o que for necessário fazer para que não haja uma terceira vaga, sabendo do custo para a economia”.
Tancos. Marcelo soube que munições foram encontradas através da Lusa
Relativamente ao caso Tancos, Marcelo lembra que “tomou a iniciativa” de ir a Tancos e viu que a fechadura que existia era tipo “marquise” e o cadeado do tipo de uma “bicicleta”. Em entrevista no Jornal das 8, da TVI, o candidato presidencial acredita que “vai haver uma decisão mais rápido do que se temia a certa altura” porque é “fundamental para a própria dignidade do Estado de Direito democrático”.
Questionado sobre o facto de o Ministério Público considerar que o antigo chefe da Casa Militar teve conhecimento do caso antes do momento que é indicado pelo Presidente (que diz ter sabido pela comunicação social), Marcelo diz que soube que as munições foram encontradas através de uma notícia da Lusa. Diz ainda que não afastou o chefe da Casa Militar e que ele simplesmente “passou à reserva”.
Marcelo Rebelo de Sousa diz que nunca se sentiu enganado pelo ministro da Defesa porque ficou “com a convicção” de que Azeredo Lopes não sabia nem antes nem depois do roubo nem da simulação que levou a que fossem encontradas as munições.