Não fosse uma ou outra máscara cirúrgica pelo queixo, seria fácil acreditar que o vídeo, colocado este sábado ao fim da tarde no Facebook e entretanto tornado viral, tinha sido captado em tempos pré-pandemia, tal é a confusão e o aglomerado de pessoas, sem distanciamento social e em modo copos e festa, num bar na baixa do Porto.

Não foi. Segundo explicou Miguel Marques-Pinto, dirigente regional da JSD do Porto, na publicação que fez naquela rede social — e confirmou entretanto ao Observador João Ferreira, sócio-gerente do Adega Sports Bar — as imagens foram filmadas na passada sexta-feira, 8 de janeiro, noite em que os três grandes do campeonato nacional de futebol jogaram e fizeram encher o espaço, com três pisos e capacidade para 200 pessoas sentadas.

Enquanto Miguel Marques-Pinto fala em “festa clandestina”, que descobriu por acaso, quando se deslocou à casa de banho, no segundo andar do bar, e onde viu “mais de uma centena de pessoas”, nenhuma delas com máscara ou distanciamento físico, João Ferreira garante que tudo “não passou de um equívoco” e que o aglomerado de pessoas que se vê no vídeo não é prova de um evento marcado ao arrepio do estado de emergência e das medidas de restrição impostas pela pandemia.

“Foi um ajuntamento pontual de 5 minutos, pedimos às pessoas para começarem a sair e elas foram fumar mais um cigarrinho”, explica o gerente do espaço ao Observador, reconhecendo que, naquela noite, “estavam demasiadas pessoas” no Adega Sports Bar, apesar do segurança que lhe guarda a porta e que tem como função a contabilização do número de pessoas no interior.

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“Temos a consciência de que estavam pessoas a mais, pedimos para saírem e elas foram todas fumar cigarros. É o problema do confinamento, quando a política diz que vai fechar novamente toda a gente sai uma última vez. Não temos estado cheios e a partir do momento em que temos todos os lugares sentados não entra mais ninguém. Foi uma situação pontual, parecia que não havia amanhã e ainda por cima havia três jogos no mesmo dia, para azar nosso”, começa por se justificar João Ferreira, para depois acusar  Miguel Marques-Pinto de “aproveitamento político” e “injúria”.

No piso térreo do Adega Sports Bar para ver o jogo entre FC Porto e Famalicão, o presidente da mesa de Plenário do Núcleo Litoral da JSD explicou no Facebook que se sentiu seguro até ao momento em que teve de se levantar para ir à casa de banho — e até relatou o momento em que dois clientes foram chamados à atenção por circularem no interior do bar sem máscara. Depois, subiu as escadas e essa perceção alterou-se: “Fui à casa de banho no 2.º piso, onde me deparei com uma realidade antónima a onde estava. Aí circulava-se sem máscara, fumava-se onde se queria, grupos de 10 + pessoas falavam sem medidas de precaução como se o país nesse dia não tivesse batido um novo recorde de mais de 10.000 novos casos Covid-19. Dia 8 de Janeiro de 2021 apercebi-me neste bar, paralelo à Câmara Municipal do Porto, que não havia consciencialização, empatia nem fiscalização”, denunciou através daquela rede social. “Não obstante, dei por mim que havia um 3.º andar, onde uma festa clandestina decorria. O meu mundo parou, a realidade para que todos nós cumpridores, contra e para controlo, da pandemia, foi arrebatada”, escreveu ainda.

Ao Observador, o sócio-gerente do espaço explicou que o terceiro piso do Adega Sports Bar, com duas janelas grandes, que não são visíveis no vídeo partilhado no Facebook, funciona como sala de fumadores. “Os funcionários nem lá vão, nem os autorizo a ir, só quando é para fazer sair as pessoas, ninguém tem de estar a trabalhar e a levar com o fumo dos outros”, argumenta. “As pessoas não gostam, levam-nos a mal que estejamos sempre a dizer para porem a máscara”, lamenta ainda.

Ainda assim, e apesar da explicação de João Ferreira, é fácil perceber, através da observação do vídeo, que tem mais de 4 minutos, que no piso térreo do bar as mesas continuam ocupadas e as televisões ligadas, a transmitir o jogo de futebol, sem que se note qualquer movimento de encerramento do espaço ou de saída dos clientes do bar.

Ainda de acordo com o sócio-gerente, a polícia foi chamada ao Adega Sports Bar, onde chegou cerca de 30 minutos depois da hora de encerramento. “Não aconteceu nada, já não estava lá ninguém.”