O Twitter está pintado de vermelho, de batom vermelho e a razão chama-se Marisa Matias. André Ventura, esta quarta-feira, decidiu atacar os adversários e afirmou que a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda “não está tão bem em termos de imagem” e “pinta os lábios como se fosse uma coisa de brincar”. Se o tom de vermelho não agrada ao líder do Chega, o mesmo não se pode dizer dos utilizadores do Twitter que levaram a hashtag #vermelhoembelem ao trending da rede social. Centenas de imagens de pessoas com batom vermelho – entre eles Pedro Filipe Soares, Joana Mortágua, Luís Monteiro ou Fabian Figueiredo do Bloco – estão a ser partilhadas como uma forma de apoio à eurodeputada que concorre nestas eleições presidenciais.

O apoio foi além do próprio partido, mas foram vários os dirigentes do bloquistas que entraram nesta onda de apoio a Marisa Matias:

A própria Marisa Matias aderiu à onda à qual foi arrolada:

Fora do Bloco de Esquerda também há apoios como o do líder da JS, Miguel Costa Matos:

Ana Gomes, adversária de Marisa Matias nesta corrida, prometeu que se juntaria à onda e fê-lo logo de manhã:

Não há esquerda a mais nestas eleições, nem mulheres a mais na política

Marisa Matias quer “reforçar o resultado” que conseguiu há cinco anos, quando teve mais de 10% dos votos nas eleições presidenciais e onde se tornou na mulher mais votada de sempre entre as candidaturas a Belém. Esse seria “um bom resultado”, admite, em entrevista à CMTV, enquanto realça que espera ter “uma expressão eleitoral que permita, no dia a seguir, continuar a poder trabalhar e dar seguimento a estas lutas”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As lutas da candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda estão bem definidas, as iniciativas de campanha têm-no demonstrado, mas há um tema geral que não esquece: a luta contra o crescimento da extrema-direita. E, como tal, não considera “de forma nenhuma que há esquerda a mais nestas eleições”.

Durante a entrevista, as novas medidas apresentadas, esta quinta-feira, pelo Governo para combater a pandemia e o novo confinamento, foram analisadas por Marisa Matias, que acredita que há um “reconhecimento” de que o Bloco de Esquerda tinha razão, já que “os apoios que [o partido dizia que] seriam necessários não estavam garantidos” e alguns deles chegam agora.

Por falar em partido, as principais caras do Bloco transformam-no no símbolo do poder feminino? Não há uma resposta concreta, mas há uma certeza: “Em Portugal não temos mulheres a mais na política, temos é mulheres a menos. Lá chegará o dia que a gente não tenha de questionar essa presença no sentido em que podemos trabalhar de forma mais paritária.” A eurodeputada concorda que a política não pode ser “totalmente dominada por homens”, porém o caminho é longo porque a discriminação continua a ser “muito mais acentuada sobre as mulheres” e isso, enaltece, acaba por “condicionar o comportamento e a forma de afirmação” do género feminino.

A desigualdade entre géneros é uma preocupação de sempre da bloquista, que também eleva a bandeira dos salários mais justos e menos precários. O salário “muito elevado” do Parlamento Europeu, principalmente comparado com o dos portugueses, não a aburguesou e, aliás, abdica de “uma parte muito significativa” para ajudar os outros. Não entrega dinheiro ao partido, mas faz questão de “manter essa prática” por acreditar que “ninguém deve enriquecer às custas do exercício de cargos políticos”.

O coelho de Marisa está do “lado certo da vida”

Há coelhos e coelhos. E o coelho de Marisa Matias está “do lado certo da vida”. Mas vamos por partes. Esta tarde, a candidata a Belém esteve no ‘Goucha’, na TVI, e dentro de uma caixa embrulhada encontrou um peluche de quando ainda era uma criança. Um coelho. A memória foi boa, mas a história não fica por aqui. Há alguns dias, naquela mesma cadeira esteve sentado o adversário André Ventura com a sua coelha Acácia (não de peluche), o que levou ao comentário da bloquista, que se referiu ao seu coelho como sendo o que está do lado certo da força.

Como o tema André Ventura não se arruma numa caixa como um peluche antigo, Manuel Luís Goucha aproveitou a presença da eurodeputada do Bloco de Esquerda para tocar num tema sensível, as ofensas que dirigiu durante um debate sobre as eleições presidenciais.

Foi um descer de nível? Marisa Matias considera que não e diz mesmo que “não retiraria nada do que disse”. Não fica contente consigo mesma quando olha para trás (aliás, diz mesmo que fica “triste”) e percebe que se exaltou, mas considera que há uma justificação para o que se passou. “O ataque aos mais fracos é cobardia. [Chamá-lo de] troca-tintas as pessoas percebem porque tem sido o comportamento em todos os votos [no Parlamento]. Vigarista é um bocadinho duro, mas também é verdade porque estamos a falar de alguém que se comprometeu a exercer a exclusividade e não o fez”, explica. A candidata acredita que tudo o que disse “é verdade”, ao contrário de Ventura, um “senhor que só diz mentiras”.

Ainda sobre os debates, Marisa Matias acredita que o pouco tempo não ajuda, tal como o facto de haver “pessoas que se apresentam a estas eleições e que não estão nada interessadas em apresentar programa e discutir propostas porque não as têm”. Essa atitude, critica, “não ajuda à forma como discutimos política”. Mesmo assim, deixa um conselho para o futuro: “Se calhar precisamos de ter mais debate até chegarmos ao ponto em que toda a gente seja obrigada de apresentar programa e propostas e não fugir a elas.”

Questionada sobre o perigo do populismo, Marisa considera que este significa “não ir à raiz do problema”, bem como “pegar em problemas ou medos e não ajudar para soluções, mas para agitar esses medos”. “É uma coisa muito básica, muito feia, muito má”, realça.

Na entrevista a Manuel Luís Goucha, Marisa Matias admite que ainda não conduz carros, ao contrário da política, em que quer conduzir “com a ideia de avançar”, até porque “para recuar temos muita gente a puxar”. E nesse caminho, um ponto comum com Marcelo Rebelo de Sousa: a bloquista quer “construir pontes”. Uma espécie de construção de pontes 2.0, já que foi exatamente com este mote que o atual Presidente da República se candidatou pela primeira vez a Belém. “É preciso contribuir para soluções. Toda a minha vida acho que sei fazer o trabalho percebendo que há posições diferentes e que é preciso construir pontes e fazer compromissos, acho que essa é uma posição importante”, insiste a candidata bloquista.

Ainda sobre o voto contra do Bloco de Esquerda no Orçamento do Estado para 2021, Marisa Matias explica que essa opção surge porque, ao contrário do que se chegou a dizer, “não havia risco de crise política” e era o momento de “afastar a ideia de crise política e de ser mais exigentes”.

Marisa em casa das mulheres que lutaram contra despejo em Lisboa

As causas de Marisa Matias estão presentes em cada dia, em cada ação de campanha. Esta quinta-feira, à hora de almoço, entrou pela porta do número 25 da Rua dos Lagares, na Mouraria, onde em 2017 se evitou um despejo. Carla Pinheiro, Rosário Conceição e Alessandra Esposito dão a cara pela luta que está longe de ter terminado. Em toda a rua, prédios fechados contrastam com prédios restaurados. Naqueles em que os tijolos substituem as janelas, há cartazes colados. “Inquilinos da Câmara Municipal de Lisboa não são ouvidos pela sua vereadora Paula Marques porquê?” ou “Gabinetes mais gabinetes só servem para gastar dinheiro aos contribuintes” são algumas das acusações à autarquia, mas Medina também não escapa.

Numa árvore de Natal construída numa das portas fechadas, os enfeites são cartões com recados. “Medina não vais levar a mal mas ter uma casa é fundamental”, “ter casa não é um luxo, é um direito”, “sentimo-nos injustiçadas” ou “deixem-se de teorias e avancem para a prática” são algumas das frases escritas pelas moradoras que se recusam a desistir: “Juntos lutaremos até vencermos”.

Marisa Matias faz parte da luta, as mulheres que conseguiram um acordo entre a câmara e o proprietário não esquecem a importância do Bloco do Esquerda no processo e recebem a candidata com um sorriso no rosto, mas com a certeza que há muito trabalho para ser feito. Ao lado de Marisa Matias está Ana Drago, um regresso à política para apoiar a candidata à Presidência da República.

Enquanto entram os primeiros jornalistas – as regras de distanciamento social assim o ditam – o assunto estende-se até à rua, pelas “gaulesas da mouraria”. Uma das moradoras pede que se abram as casas municipais. Está “irritada” com o oportunismo e o “negócio da habitação”. “Antes ninguém queria viver neste bairro e de repente o metro quadrado subiu e as pessoas que aqui viviam são postas para fora”, atira, com críticas a um “bairro entregue à especulação”.

O tema lá dentro é o mesmo. Há 20 anos dizia-se que este era um bairro de “perigo”. Diziam que havia “droga casa sim, casa sim”, agora é o “bairro dos meninos ricos que entram e saem da garagens e nem se veem nas ruas”. Era preciso uma “mudança radical”, em que se acabem com os vistos gold, por exemplo. Marisa Matias e Ana Drago concordam com o que dizem aquelas mulheres. Carla, Rosário e Alessandra lembram as primeiras cartas que enviaram no início da luta. Uma para o primeiro-ministro e outra para o Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa respondeu e dizer que procurassem um advogado, contam.

A adversária de Marcelo na corrida a Belém fica “sem palavras” ao saber disto, “nem estava à espera”. “O Presidente da República é o guardião da Constituição” e o Presidente tomou o lugar da especulação e não no das pessoas, apesar de estar na “posição ideal” para o fazer.

Tal como já tinha dito no caso do ambiente, Marisa Matias diz que é “fundamental” colocar o tema da habitação no “centro da agenda política”, ainda mais quando acaba de ser decretado um novo confinamento em Portugal e tendo em conta que há pessoas sem condições para estar em casa.

Da cultura confinada à escolas fechadas: faltam as medidas urgentes

Marisa Matias está na linha da frente para ouvir quem está a sofrer e a ajudar na crise pandémica. Esta manhã, a candidata marcou presença na Associação de Atividades Sociais do Bairro 2 de Maio, na Ajuda, em Lisboa. Já tinha por lá passado há umas semanas e até sabia que aquela hora estavam a ser preparadas as 200 refeições que dali saem todos os dias para ajudar cidadãos da freguesia.

São dez em ponto quando entra na associação. Os pães estão a ser embalados e já cheira a comida. Na cozinha, várias cozinheiras preparam o almoço. Hoje no menu há pernas de frango com arroz. Marisa lembra-se da Dona Helena, uma das mulheres que, de máscara e touca, toma conta dos tachos, e dá pouca atenção à candidata porque a comida não pode queimar.

Daniela Freitas, uma das responsáveis que recebeu a candidata a Belém, diz que antes da crise trazida pela Covid-19 já era uma “missão”, agora ainda mais. A pandemia trouxe “mais gente para uma situação de pobreza”, recorda Marisa Matias, os idosos a precisar de apoio nesta associação mais do que duplicaram e as medidas são cada vez mais “urgentes”. Aliás, nos próximos cinco anos “o Presidente da República tem de criar condições para começar a erradicar a pobreza”, com uma aposta em empregos com condições dignas e direitos assegurados.

Mas hoje, é preciso olhar para o que António Costa anunciou ontem. Para Marisa Matias é “incompreensível” e “verdadeiramente inaceitável” que se volte a anunciar um confinamento e medidas mais rígidas e que os apoios não sejam conhecidos. “Mais uma vez estamos a conversar depois de decretadas essas medidas sem sabermos quais são os apoios para pessoas poderem cumprir”, realça. Não chega para a candidata. Os portugueses não podem saber que vão confinar de novo sem que sejam anunciados mais apoios. Segundo o primeiro-ministro, as medidas vão ser ainda conhecidas esta quinta-feira pela voz dos ministros da Economia e da Cultura.

Cultura confinada, sem respostas dignas

Há casos dramáticos e a cultura é uma das bandeiras da candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda. “Continua a não haver respostas dignas para os profissionais da cultura.” Além dos atrasos nos apoios, há “insuficiência nesses apoios”, bem como casos de pessoas a quem “não chegou apoio nenhum”.

Questionada sobre se considera aceitável que os serviços religiosos, como as missas, por exemplo, continuem — ao contrário do primeiro confinamento — e os espetáculos tenham sido suspensos, Marisa Matias foge à questão, mas diz que “não pode haver uma situação como esta, em que se anuncia que não há espetáculos e que a cultura está encerrada e não sabemos quais são as medidas alternativas para os profissionais e para os artistas”.

Marisa a favor de escolas abertas, mas falta “enorme plano de rastreio”

E no que toca ao não encerramento das escolas, Marisa não tem dúvidas de que estas são “elementos fundamentais na sociedade” por contribuírem para “diminuir as desigualdades” e é importante que crianças possam continuar a aprender presencialmente. Contudo, mais uma vez, a candidata não compreende como é que ainda não está em prática a aplicação do “enorme plano de rastreio” que foi aprovado no Parlamento com proposta do Bloco de Esquerda.

Tendo em conta a resposta de António Costa, na conferência de imprensa após o Conselho de Ministro, estes testes gratuitos para professores, trabalhadores não-docentes e alunos devem chegar em breve.

Artigo atualizado ao longo do dia